A mensagem é a seguinte:
"Envie esta mensagem, ela dará € 10 à Unicef e é gratuita para você ...
Unicef & MSN Kampanyas Yard?m
Acordo de ajuda entre Unicef & MSN
Por favor, antes de deitar fora a comida que tem no seu prato pense nas pessoas que estão morrendo de fome!
Em África, existem crianças morrendo de fome. Segundo o acordo firmado entre a UNICEF e o MSN para as crianças falecidas e outras crianças, uma ajuda acaba de começar.
Por cada vez que você enviar esta mensagem aos seus contactos/amigos/colegas/familiares, 5 € serão atribuídos à conta da UNICEF.
Para as nossas crianças em África e as vítimas do tsunami, queira participar, por favor, neste 'Apelo de Amizade'.
Pelo facto de ter recebido este e-mail e o ter reenviado a outra pessoa, já deu 10 Euros a ganhar à Unicef.
Por favor, faça viver essas crianças que estão em risco de morrer. Não nos esqueçamos que a cada segundo, uma criança está em risco de morrer de fome.
Envie este e-mail a todas as pessoas que conhecer... obrigado."
Perante uma mensagem destas, de fazer emocionar os calhaus, é difícil ficar indiferente e não fazer aquilo a que a mensagem apela, sem grandes hesitações ou dúvidas. Mas ... e se tudo isto fosse uma maquinação hedionda de alguém que estivesse a brincar com (ou mesmo a aproveitar-se de) os nossos bons sentimentos?
Analisemos mais de perto:
- Quais as fontes da mensagem? Aparentemente, nenhuma. Mas as marcas envolvidas mereceriam alguma consideração: UNICEF e Microsoft. Aqui surge logo a primeira dúvida: instituições desta envergadura enviariam mensagens deste teor, sem contactos, sem provas, sem garantias de fiabilidade e, para mais, escritas num português que deixa a desejar?
- Mais: seria aceitável que a UNICEF utilizasse assim, sem mais, de forma despudorada e sensacionalista, a imagem da criança que a foto documenta?
- Finalmente e pegando no assunto de outra perspectiva: suponhamos que há dúvidas quanto à veracidade do apelo. A quem poderia interessar que uma mensagem deste tipo circule aos milhares pela Internet? Basta pensar que se eu, movido pela vontade de ajudar a resolver miraculosamente o problema da fome, enviasse a mensagem para os meus contactos (e não tivesse o cuidado - como a maioria não tem - de tornar invisíveis os endereços de mail) e que uma boa parte desses contactos tão ou mais sensíveis aos dramas do mundo do que eu próprio amplificassem ainda mais o meu gesto (e repare-se que foi numa cadeia dessas que o mail me veio parar ás mãos), facilmente veríamos a mensagem em dezenas, se não centenas de milhar de mails. Aí bastaria a uma empresa dessas que comercializam a venda de pacotes de mails para fins comerciais - e que nos proporcionam o tão conhecido spam - colocar duas ou três pessoas a rastrear cuidadosamente a net para recuperar, em diferentes dos seus pontos as listas de e-mail postas a circular, a propósito de tão comovente mensagem. Então, valeria a pena colocar agora, de novo, a pergunta: a quem poderia interessar que uma mensagem deste tipo circule aos milhares pela Internet?
Dei por mim a fazer essas perguntas e decidi recorrer à ferramenta mais óbvia: ao Google. E no espaço de endereços do meu browser coloquei lá a seguinte expressão de pesquisa, tirada do título da mensagem citada: "Unicef & MSN Kampanyas Yard?m". Obtive como resultado 48 sítios, sendo o logo o primeiro um post do blog "Da Condição Humana", intitulado "Mails da treta: Envia este mail a favor da UNICEF. .. 5€por cada email enviado".
O que lá li, ainda que num tom que eu não usaria, por respeito pelos que são vítimas desta forma de iliteracia digital e cultural, não aponta num sentido muito diverso daquele que aqui adopto. Mas o que não deixa margem para dúvidas é a resposta que o autor do blog recebeu da própria UNICEF (na sequência de uma consulta que em boa hora decidiu fazer) e que aqui transcrevo:
Através de um doador, recebemos o mesmo e-mail que nos deixou bastante incomodados, pois nada tem a ver com a UNICEF.Lamentamos o abuso por parte de pessoas sem escrúpulos que se servem de imagens terríveis de crianças e usam indevidamente o nome da UNICEF para fins que desconhecemos.Agradecendo o seu alerta, enviamos os melhores cumprimentos.Carmen SerejoAssistente da Direcção
Quanto ao caso em si, não são necessárias mais palavras. São precisas é mais acções para combater estas novas modalidades de iliteracia.
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