terça-feira, janeiro 31, 2012

'Booklets' sobre TV, Videojogos e Redes Sociais disponíveis online



No endereço www.lasics.uminho.pt/edumedia, estão agora disponíveis as versões digitais das brochuras sobre educação para os media desenvolvidas na Universidade do Minho, num projeto iniciado em finais de 2009, com o apoio da Evens Foundation (Bélgica).

Os três booklets, "Como TVer", "Videojogos - saltar para outro nível" e "Internet e Redes Sociais: tudo o que vem à rede é peixe?", são o resultado da colaboração de diversas pessoas, nomeadamente crianças e jovens de várias escolas.

Depois de terem sido distribuídos exemplares impressos através de um jornal regional, em escolas ou em encontros científicos (alguns exemplares podem ainda ser adquiridos no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho ou na livraria Centésima Página, em Braga), o projeto encerra com a disponibilização dos materiais através da internet.

Nas  três brochuras, está acessível igualmente a respetiva versão em inglês para que chegue ainda a mais públicos. Agradecemos a sua divulgação.

Dossiê sobre educação para a cultura informacional


O INA - Institut National de l'Audiovisuel acaba de publicar mais uma edição dos "e-dossiers de l'audiovisuel" dedicado à "educação para as culturas da informação". A edição foi coordenada por Divina Frau-Meigs (Sorbonne Nouvelle), Éric Bruillard (ENS Cachan) et Éric Delamotte (Université de Rouen), juntando 12 contributos que, de algum modo, prolongam um outro dossiê dedicado à educação para os media, publicado há um ano.

Apresentando esta nova publicação, os coordenadores sublinham a importância da temática deste modo:
"(...)La prise en compte de la culture de l’information, conçue comme un enjeu culturel, démocratique et économique majeur de l’ère numérique, revêt des sens très différents selon les disciplines mises en dialogue ici, l’informatique, la documentation, l’information-communication, avec l’appui des sciences de l’éducation. Le besoin de clarification épistémologique se fait sentir d’autant plus que les pratiques des jeunes sur les réseaux créent des confusions problématiques (liberté d’expression, propriété intellectuelle, vie privée). D’où la confrontation des définitions développées par les chercheurs des disciplines impliquées pour clarifier le périmètre du terme « information », repérer les notions-frontières et les concepts-relais, et pour établir des passerelles permettant de négocier les complémentarités entre les divers champs. À travers les nouvelles configurations des compétences et des pratiques et leurs retombées pour l’éducation, se dessine aussi une « translittératie » partagée, entre les pratiques empiriques anglophones et les recherches transdisciplinaires et didactiques qui font l’originalité de l’approche française. Alors que des approches segmentées sur l'information président à l'organisation de la recherche, ce dossier plaide pour une approche intégrée des cultures de l'information".
São os seguintes os textos que compõem este e-dossiê:

LA RADICALITÉ DE LA CULTURE DE L’INFORMATION À L’ÈRE CYBÉRISTE

Atitude crítica

De Enrique Martinez-Salanova, um artista e ativista da Educação para os Media:

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Provedor de justiça preocupado com eliminação de Educação Cívica


A eliminação da disciplina de Formação Cívica nos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e no 10º ano do Ensino Secundário, consignada na proposta de revisão curricular atualmente em curso merece a discordância do Provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa.
Em carta enviada ao ministro da Educação (cuja síntese se pode ler no site da Provedoria) Alfredo José de Sousa transmite a sua “preocupação” relativamente à eliminação da disciplina de Formação Cívica, considerando que o cumprimento de vários "instrumentos internacionais na promoção de uma cidadania ativa e no conhecimento pelos cidadãos dos seus direitos e deveres fundamentais face ao Estado não se compadece com tal eliminação”.
Na carta enviada ao Ministro da Educação, o Provedor recorda a existência da Carta do Conselho da Europa sobre Educação para a Cidadania Democrática e Direitos Humanos e da Declaração das Nações Unidas sobre a Educação e Formação para os Direitos Humanos que “reconhece que todo o cidadão deve ter acesso à educação e formação em matéria de direitos humanos. A educação para os direitos humanos é um processo contínuo e deve incluir todas as fases da educação, pré-escolar, primária, secundária e superior, a nível público ou privado e num formato formal ou informal. Cabe aos Estados a responsabilidade principal na promoção e formação em matéria de direitos humanos (artigo 7), devendo desenvolver ou promover, da maneira mais adequada, estratégias, politicas ou planos visando implementar esta educação, nomeadamente através da sua integração na estrutura curricular (artigo 8). Os Estados, devem reconhecer o papel que as Instituições Nacionais de Direitos Humanos desempenham na promoção da educação e formação em matéria de direitos humanos (artigo 9)”.

Ler o comunicado da Provedoria de Justiça na íntegra aqui.

“Um dia com os media”- operação nacional foi apresentada em Braga

Foi apresentada publicamente, no passado dia 20 de Janeiro, na Universidade do Minho, em Braga, a jornada "UM DIA COM OS MEDIA", uma iniciativa de âmbito nacional que visa colocar os próprios media e a relação dos cidadãos com eles no centro das atenções, suscitando iniciativas orientadas para a reflexão e a ação. Trata-se de uma iniciativa a que o CECS está associado, numa organização a que também estão ligados o Gabinete para os Meios de Comunicação Social (GMCS), a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, a Comissão Nacional da UNESCO e o Conselho Nacional de Educação.

"Um da com os media" foi lançado pelo presidente do GMCS, Pedro Berhan da Costa, que recordou que desde 2009 que o grupo informal constituído pelos organizadores do evento tem vindo a reunir, tendo como resultados a realização, em Braga, em Março de 2011, do 1º Congresso de Literacia, Media e Cidadania (em 2013, deverá ter lugar a segunda edição) de onde saiu a Declaração de Braga sobre Educação para os Media, que motivou uma recomendação do Conselho Nacional de Educação ao Governo sobre Educação para os Media, e a criação de um portal sobre literacia mediática. Em formação está um Observatório de Educação para os media, cujos primeiros passos estão já a ser dados na Universidade do Minho.

Coube a Manuel Pinto (CECS), a apresentação do evento, sendo que terá lugar no dia 3 de Maio, data em que, por iniciativa da ONU, se evoca a liberdade de Imprensa e de expressão. Num tempo em que, as tecnologias e plataformas digitais, permitem, como nunca, que os cidadãos se exprimam no espaço público, faz sentido que o olhar crítico e participativo relativamente aos media seja, ele próprio, um exercício de liberdade, num espírito positivo de contribuir para a melhoria dos media que temos.

O convite à participação autónoma e livre é dirigida a todos os que se sentirem interessados e motivados pela pergunta: "que significado têm os media na nossa vida e como poderiam tornar-se mais significativos?

O desafio é lançado a todo o tipo de instituições: bibliotecas, escolas, meios de comunicação, grupos de alunos, centros de investigação e formação, associações, universidades de seniores, movimentos, igrejas, autarquias, entre outros.

Relativamente aos meios de comunicação, há pelo menos três vertentes de participação: o
trabalho normal de informação sobre a iniciativa, da forma entendida mais conveniente; a organização de iniciativas próprias que fomentem o contacto com os seus públicos, tendo como motivo os meios de comunicação; e, finalmente, a colaboração com iniciativas de outras instituições, quando para tal solicitados.

No conceito de meios de comunicação incluem-se, naturalmente os suportes clássicos - livros, jornais, revistas, rádio, televisão, cinema - mas igualmente os novos media, redes, plataformas e ambientes digitais - redes sociais, blogs, telemóveis, jogos. Todos configuram um ecossistema mediático que ganha em ser abordado também como um todo. A ideia não é focalizar apenas as tecnologias e os gadgets mas também os conteúdos, as orientações, as profissões, as políticas, os usos e as mudanças, bem como a relação com os quotidianos, os dramas e os sonhos das pessoas e das instituições.

As iniciativas devem partir ‘da base'. E, desejavelmente, deveriam inscrever-se, o mais possível, nas rotinas e objetivos de quem as toma.

Haverá um site (http://www.literaciamediatica.pt/umdiacomosmedia) onde será possível registar e divulgar as iniciativas e conhecer o que outros estão a organizar, bem como um endereço de e-mail para contacto com os organizadores (umdiacomosmedia@gmail.com).

Evelyne Bévort deu seminário sobre “A educação para os media como via de leitura crítica do mundo actual”

Para assinalar o 30º aniversário da Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media, realizou-se no dia 20 de Janeiro, um seminário com Evelyne Bévort, diretora-adjunta, com o pelouro da cooperação internacional, do CLEMI - Centre de Liaison de l'Enseignement et des Moyens d'Information, do Ministério francês da Educação sobre “A educação para os media como via de leitura crítica do mundo atual”.

O evento teve lugar na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e foi organizado pelo Projeto ‘Navegando com o Magalhães: Estudo do Impacto dos Media Digitais nas Crianças‘ (FCT/CECS).

A conferencista, que foi apresentada pela Professora Sara Pereira, investigadora responsável pelo projeto, pronunciou-se sobre a atualidade da Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media, apesar de já ter 30 anos.

terça-feira, janeiro 24, 2012

'ESTE TEMPO' incomoda

A propósito do fim do programa 'Este Tempo', que era emitido na Antena 1, vale a pena reagir:

- à forma como se continuam a calar vozes e microfones;

- ao modo como se continuam a encarar os públicos dos media, pensando-se que atirando-nos um pouco de poeira para os olhos deixamos de ver claro (diz agora ao Público - 24 jan. - o diretor-geral da RTP, que dirige também a RDP, que a decisão de terminar com o programa já tinha sido tomada há algum tempo, antes da crónica que incomodou ter sido emitida. Pois, pois...);

- aos atropelos à liberdade de expressão e à democracia que Raquel Freire tão bem relata na sua última crónica que integrava este programa. Vale a pena ouvir aqui.

domingo, janeiro 22, 2012

A actualidade da Declaração de Grünwald


Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media

Esta declaração foi aprovada unanimemente pelos representantes de 19 nações durante o Simpósio Internacional sobre Educação para os Media da UNESCO, organizado na cidade de Grünwald, da então República Federal da Alemanha, em 1982, faz precisamente hoje 30 anos. É considerado um dos documentos de referência na área e, apesar das transformações entretanto verificadas no campo comunicacional e mediático, não deixa de merecer destaque a pertinência e lucidez das suas propostas. 

Vivemos num mundo onde os media são omnipresentes: um número cada vez maior de pessoas passa períodos significativos a ver televisão, ler jornais e revistas, tocar discos e ouvir rádio. Em alguns países, por exemplo, as crianças já passam mais tempo a ver televisão do que na escola.

Em vez de condenar ou apoiar o inquestionável poder dos media, precisamos de aceitar o seu impacto significativo e a sua penetração pelo mundo como um facto consumado, valorizando ao mesmo tempo a sua importância como elemento de cultura no mundo moderno. O papel da comunicação e dos media no processo de desenvolvimento não deve ser subestimado, tal como não deve ser subestimada a função desses meios como instrumentos ao serviço da participação activa dos cidadãos na sociedade. Os sistemas político e educativo devem reconhecer as suas respectivas obrigações na promoção de uma compreensão crítica do fenómeno da comunicação entre os seus cidadãos.

Lamentavelmente, a maioria dos sistemas educacionais não-formais e informais pouco faz para promover a educação para os media ou a educação para a comunicação. Muito frequentemente, o fosso entre a experiência educacional que oferecem e o mundo real no qual as pessoas vivem é perturbadoramente amplo. Mas se os argumentos a favor da educação para os media como preparação para a cidadania responsável são agora formidáveis, no futuro muito próximo, com o desenvolvimento de tecnologias da comunicação tais como a radiodifusão via satélite, sistemas de cabo de duplo sentido, sistemas de dados via televisão, videocassetes e materiais gravados em CD, eles deverão tornar-se irresistíveis, dado o crescente grau de escolha para o consumo de media gerado por esses desenvolvimentos.

Os educadores responsáveis não ignorarão esses desenvolvimentos, mas trabalharão em conjunto com os seus alunos para os compreender melhor e retirar algum sentido de consequências tais como o rápido desenvolvimento das comunicações nos dois sentidos e a consequente individualização do acesso às informações.

Isto não quer dizer que se deve subestimar o impacto sobre a identidade cultural do fluxo de informação e das ideias entre culturas proporcionado pelos media de massa.

A escola e a família partilham a responsabilidade de preparar os mais jovens para viverem num mundo de poderosas imagens, palavras e sons. Crianças e adultos precisam de ser alfabetizados em todos esses três sistemas simbólicos e isso requererá uma reavaliação das prioridades educacionais. Tal reavaliação poderá muito bem resultar numa abordagem integrada para o ensino de linguagens e da comunicação.

A educação para os media será mais eficaz quando pais, professores, profissionais dos media e decisores políticos, enfim todos reconhecerem que têm um papel a exercer no desenvolvimento de uma maior consciência crítica entre ouvintes, espectadores e leitores. A maior integração dos sistemas educacional e de comunicação seria indubitavelmente um passo importante para uma educação mais eficaz.

Assim, convocamos as autoridades competentes para que:

1. iniciem e apoiem programas de educação para os media abrangentes - do pré-escolar ao nível universitário, e na educação de adultos - cujo objectivo seja desenvolver os conhecimentos, capacidades e atitudes que encorajem o crescimento da consciência crítica e, consequentemente, de uma maior competência entre os usuários dos media electrónicos e impressos. Idealmente, tais programas deverão incluir a análise de produtos de media, o uso de media como meios de expressão criativa, e o uso e a participação eficazes nos canais de media disponíveis;

2. desenvolvam cursos de formação para professores e outros agentes educativos tanto para aumentar os seus conhecimentos e a compreensão dos media como para os preparar nos métodos de ensino apropriados, que terão em conta a familiaridade com os media já considerável, mas ainda fragmentada, que muitos alunos já possuem;

3. estimulem actividades de investigação e desenvolvimento em benefício da educação para os media, em domínios tais como a psicologia, a sociologia e as ciências da comunicação;

4. apoiem e fortaleçam as acções realizadas ou previstas pela UNESCO com o objectivo de encorajar a cooperação internacional na educação para os media.

Grunwald, República Federal da Alemanha, 22 de Janeiro de 1982

terça-feira, janeiro 17, 2012

Lançamento público da operação nacional 'Um dia com os media'


Tal como já foi anunciado neste blogue, na próxima sexta-feira, dia 20, realiza-se um Seminário comemorativo do 30º aniversário da Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media. O programa contempla dois momentos:

- pelas 14.30h, uma sessão sobre 'A Educação para os Media como via de leitura crítica do mundo atual" com as intervenções de Evelyne Bevort, do Centre de Liaison de l’Enseignement et des Moyens d’Information (França), e de J.M. Perez Tornero, da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha);

- pelas 16.00h, o lançamento público da operação nacional 'Um dia com os media', uma iniciativa de âmbito nacional que visa colocar a relação dos cidadãos com os media no centro das atenções e que terá lugar no dia 3 de Maio.

O Seminário terá lugar na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Braga.

A entrada é livre, são todos bem-vindos.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Seminário com Evelyne Bévort e Pérez-Tornero sobre "A educação para os media como via de leitura crítica do mundo actual"

Por ocasião do 30º aniversário da Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media, vai realizar-se no próximo dia 20, um seminário com Evelyne Bévort, directora-adjunta, com o pelouro da cooperação internacional, do CLEMI – Centre de Liaison de l’Enseignement et des Moyens d’Information, do Ministério francês da Educação e com Jose Manuel Pérez-Tornero (Universitat Autònoma de Barcelona) sobre “A educação para os media como via de leitura crítica do mundo actual”.

O evento realiza-se na Sala de Actos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, a partir das 14h30 e é organizado pelo Projeto 'Navegando com o Magalhães: Estudo do Impacto dos Media Digitais nas Crianças' (FCT: PTDC/CCI-COM/101381/2008 e COMPETE: FCOMP-01-0124-FEDER-009056) com o apoio de: Mestrado em Comunicação, Cidadania e Educação; Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, GT de Comunicação e Educação da SOPCOM; e GACCUM - Grupo de Alunos de Ciências da Comunicação da UM.

De referir que a Declaração de Grünwald foi aprovada unanimemente pelos representantes de 19 nações durante o Simpósio Internacional sobre Educação para os Media organizado pela UNESCO, na cidade de Grünwald, na então República Federal da Alemanha, em 22 de Janeiro de 1982.

O texto completo da Declaração de Grünwald, baseado na tradução feita pelo Centro Internacional de Referência em Mídias para Crianças e Adolescentes, está disponível aqui.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Literacia Mediática: para onde vamos?


Que irá o Governo e a Assembleia da República e que iremos todos nós fazer da Recomendação sobre Educação para a Literacia Mediática, que o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou em Dezembro último?
Um facto para já a reter foi o silêncio de chumbo que os media impuseram ao assunto, quer aquando da aprovação, no plenário do CNE de 7 de Dezembro, quer aquando da publicação da versão final do parecer, no dia 30 seguinte. A conclusão é óbvia: o facto de o conjunto dos parceiros educativos tomarem uma posição em que recomendam uma maior atenção das instâncias educativas ao ecossistema informativo e mediático não motiva os media nem os irrita nem lhes diz respeito. Em suma, não interessa - nem aos media sensacionalistas, que vivem da futilidade, nem aos que se dizem de qualidade. Quem divulgou a notícia foi um ou outro blog, algum departamento oficial, algum sindicato e ponto final. Admitamos que não foi desinteresse, mas antes distração (deles) ou incapacidade (nossa) de lhes ‘vender eficazmente o produto’.
Mas será que nos destinatários primeiros da Recomendação – o Parlamento e o Ministério da Educação - haverá mais receptividade? É cedo para avaliar. Em todo o caso, o que se possa fazer da Recomendação não depende apenas do poder político.
O Governo anterior apostou essencialmente na tecnologia e na massificação dos computadores e do acesso à Internet, descurando o que do ponto de vista educacional mais necessário era: saber procurar e validar as ‘toneladas’ de informação disponível, mediante a ponderação da sua pertinência e fiabilidade e saber lidar criticamente com o universo mediático e digital. O actual Governo pôs em marcha alterações curriculares que, segundo o CNE, “vão no sentido da redução de custos, de professores, de disciplinas, de áreas curriculares não disciplinares e de aprendizagens transversais”, o que leva o Conselho a “chamar a atenção para o facto de haver hoje aprendizagens fundamentais que requerem uma abordagem mais reflectida e aberta do currículo”.
As artes, o pensamento e as culturas, a comunicação e os media parecem afastadas das preocupações dominantes. A pergunta que se coloca é esta: serão essas matérias secundárias, na formação para a vida e para a invenção de caminhos que permitam enfrentar eficazmente a crise que vivemos?

(Texto publicado hoje no diário digital da RR, Página 1)

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Polémica e debate em torno da televisão digital terrestre

Decorre presentemente o processo de migração do sistema de distribuição de televisão do analógico para o digital, estando previsto que o "apagão" analógico ocorra até meados de 2012, em Portugal. No entanto, as soluções política e técnica que vêm sendo implementadas suscitam um coro de objeções e de protestos de diferentes naturezas e proveniências.
Para esclarecer o que se está a passar - o que foi feito, a lógica das opções seguidas e os problemas que elas levantam - a RTP Informação emitiu ontem, dia 4, um programa especial de cerca de uma hora, no qual intervieram um administrador da ANACOM, um especialista da DECO, um especialista em telecomunicações e um investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Sérgio Denicoli, que, sobre esta matéria está a terminar a sua tese de doutoramento.
Dada a importância do assunto, deixo aqui o link para (re)ver o debate e para um documento relevante para nos esclarecermos acerca de uma matéria que tem certamente impacto nas nossas vidas e que poderia ter tido (e, de algum modo, ainda pode vir a ter) uma configuração distinta da que foi seguida.



[Sobre uma questão discutida no programa, a do cumprimento de obrigações de cobertura da televisão digital por parte da Portugal Telecom - Comunicações, pode ser relevante conhecer o documento Direito de Utilização de Frequências, da ANACOM]

quarta-feira, janeiro 04, 2012

U. Eco: faz falta "uma teoria da filtragem"

A revista brasileira Época acaba de publicar uma entrevista com o semiólogo e romancista italiano Umberto Eco, que tem vários motivos de interesse para o âmbito da literacia sobre os media e, em particular, sobre a Internet. Aqui fica um excerto, ainda que se recomende a leitura integral desse documento:

(...) ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido? PROFESSOR O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual (Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis) 
Eco - 
Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet. 
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco -
 A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento. 
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco -
 Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes. 
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco -
 Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar. 
(...)
(Crédito da foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)

ACTUALIZAÇÃO (5.1):

No Facebook, participei num pequeno debate sobre esta parte da entrevista de U. Eco. Por haver, de vários intervenientes, contributos interessantes acerca da falta que faz uma 'teoria da filtragem', deixamos aqui os pontos essenciais desse debate:


  • Manuel Pinto Habitualmente, quando se refere a filtragem, alude-se a conhecimentos, capacidades e competências para compreender, avaliar, contextualizar, rejeitar, editar e re-utilizar significativamente dados e informação. Inerente a estes processos está a capacidade de validar. Todas estas dimensões são inerentes -e, em diria, cruciais para a literacia informativa e mediática, não apenas do ponto de vista do utilizador crítico, mas também do produtor, que cada vez com mais frequência são uma e mesma pessoa.
    há 18 horas ·  ·  1
  • Manuel Pinto Será que U. Eco, com a proposta de uma 'teoria da filtragem', sugere ir mais além? Em que sentidos? Com que alcance? Apoiados em que dimensões? Alguém tem contributos a dar, neste plano? Por mim, sou levado a pensar nos estudos jornalísticos de gatekeeping, nos processos de selectividade (e de cognição social) com que valorizamos e elegemos (e inerentemente excluímos) assuntos, propostas, conteúdos e formatos. Precisamos de trabalhar estas questões...
    há 18 horas · 
  • João Simão Creio que a tónica de uma filtragem já existe de forma incipiente na pesquisa da Google. O google +1 permite dar mais importancia a certas pesquisas que a outras. Outra forma que terá de evoluir mais será baseada na capacidade de leitura semantica dos mecanismos de pesquisa que através dos nossos hábitos, visitas e temas serão capazes de ir para além de uma pesquisa dedicada apenas às palavras chave mas a todo o contexto que envolve o utilizador. O excesso de informação implica um data mining e sem dúvida que a teoria do gatekeeping pode ser extrapolada do jornalismo. E mesmo no jornalismo de secretária com fontes on-line se repararmos o gatekeeper é cada vez mais importante no jornalismo...
    há 18 horas · 
  • Rui Couceiro às vezes confiamos demasiado - contra mim falo - no gatekeeping. Penso que a maioria das pessoas confia em demasia; não valida, limita-se a aceitar acriticamente. Esse parece-me ser um problema que está a montante, embora profundamente interligado àquilo que Eco refere.
    há 18 horas · 
  • Manuel Pinto Contributos relevantes para o tema: web semântica, data mining, gatekeeping... outras achegas?
    há 18 horas ·  ·  1
  • Rui Couceiro ‎(Em termos de web semântica a Google é, de facto, perita.)
    há 17 horas · 
  • Francisco Teixeira A minha achega é que se leiam, estudam e discutam os Clássicos, os canônicos e os marcadamente qualificados do ponto de vista cultural, estético, social, filosófico, etc. Só a cultura pode filtrar. A ideia de que mecanismos formais/automáticos de filtragem de dados são relevantes para o processo selectivo da informação não é mais que recair, viciosamente, no excesso de dados/informação, já que todos os processos selectivos automáticos são, por definição, e a partir de certa altura, eles próprios excessivos, tendendo a somar mais e mais ao já existente. Aliás, temos bem que os processos automáticos de filtragem sejam, cada vez mais, eles próprios mecanismos entrópicos, a exigirem mecanismos de filtragem formal. Não me parece, assim, que quaisquer mecanismos formais de selecção da informação circulante sejam muito diferentes, na sua substância, dos mecanismos naturais de selecção (no sentido de "linguagem natural"), de que a "cultura", no sentido de erudição/instrumentação, é o único seleccionador. Daí que Eco ache que a NET é útil para o sábio. Talvez seja.
    há 15 horas · 
  • João Simão ‎@ Francisco Teixeira - Em alguns aspetos concordo com o que diz, no entanto parece-me impossível ao ser humano conseguir processar e filtrar a quantidade de informação disponível pela internet. Recordo que os inicios dos computadores remontam aos cartões microperfurados para processar os dados dos censos dos EUA, isto para referir que quando perante grandes quantidades de informação necessitamos de usar o processamento informático (informação automática). E se o sistema de filtragem for eficiente quantos mais dados inserirmos no sistema mais exactos serão os resultados. Em ultima análise estamos quase a falar de inteligência artificial como forma de selecção. Mas sem exagerar nas "futurologias" creio que a web semântica será num futuro breve uma boa forma de pesquisa, sempre é claro aliada à capacidade humana de saber pesquisar e aí dou-lhe razão quando fala em cultura, conhecimento, e capacidade intelectual para referenciar e cruzar informações para que a pesquisa seja eficaz e eficiente.
    há 15 horas · 
  • Francisco Teixeira A web semântica é/será magnífica, sem dúvida, parecendo, mas só parecendo, aproximar-se da linguagem natural, pelo menos no ambiente digital da web, e apenas "dentro"dele. Mas o problema a que me referia não é esse, nem me parece que seja esse o problema a que Eco se dirige (nem , parece-me, o Manuel Pinto, quando fala da possibilidade de uma "teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet"). O problema não é o de encontrar a informação disponível, mas de a seleccionar de entre o que está disponível, que será sempre imenso, na verdade sempre excessivo. Por isso dizia que a possibilidade de novos mecanismos formais de selecção, para as quais se criam, sucessivamente, novas instrumentações formais (motores de busca de motores de busca, por exemplo), nunca serão solução, mas "apenas" complexificação, que é aquilo que se espera que seja o resultado da cultura, incluindo da cultura tecnológica. Na verdade, concordo com a "indicação" do Manuel Pinto, a selecção pode ser aprendida através de uma "disciplina prática", i.e., do trabalho operativo/interpretativo da análise literária em geral, i.e., da cultura, i.e., do artesanato do texto original e próprio, primeiro durante um elevado e condensado período de formação e, depois, durante toda a vida. Mas estamos de acordo, João, certamente.
    há 14 horas ·  ·  1
  • Ângela F. Marques ‎"Conhecer é filtrar" - aí está uma frase a repetir sem fim.
    há 12 horas ·  ·  2
  • Manuel Pinto Vale a pena continuar nestas indagações e o quadro aqui esboçado pelas diferentes participações é já muito interessante. Sem querer acrescentar muito, gostava de dizer que temos aqui vertentes de pendor teórico-epistemológico e vertentes de pendor pedagógico.
    há 52 minutos · 
  • Manuel Pinto Por outro lado, pessoalmente sou sensível a duas dimensões: uma é de natureza 'política' e refere-se às balizas, orientações, constrangimentos, potencialidades e interesses implicados no quadro global em que se inscrevem as soluções concretas relativas ao acesso, uso e produção da informação. É uma dimensão que, por vezes, parece evaporar-se de alguns discursos técnicos ou técnológicos. A outra relaciona-se (ainda que indirectamente) com esta e refere-se aos silêncios e aos processos de silenciamento de realidades e dimensões relevantes da vida social e cultural que são como que o lado nocturno daquilo que, de forma construída, acede à visibilidade. Sem ter em conta este último aspeto, toda a seleção e filtragem se pode tornar um logro.