sábado, janeiro 19, 2013

"Cinema – Arte, Tecnologia, Comunicação"
- conferência e festival em Avanca

Até 27 de Fevereiro próximo, os organizadores da Conferência Internacional sobre Cinema – Arte, Tecnologia, Comunicação, de Avanca, aceitam propostas de resumos de comunicações (ver formulário).
Esta iniciativa insere-se na 4ª edição da Avanca|Cinema, que se realiza de 24 a 28 de Julho deste ano, reunindo investigadores cujos trabalhos incidem sobre o cinema e as suas relações com a arte, a comunicação e a tecnologia.
A Avanca|Cinema é "um ponto de encontro único pela conjugação com o Festival de Cinema AVANCA e constitui um local privilegiado de divulgação, reflexão e debate da mais recente investigação em torno do cinema. Durante estes 5 dias de julho, por aqui se encontram investigadores, académicos, realizadores, produtores, atores, críticos, técnicos, cinéfilos, entre outros, chegados um pouco de todo o mundo", salienta-se num press release da organização.

Os temas das propostas de comunicação envolvem as áres/temáticas seguintes:
Cinema – Arte

Artes do espetáculo e memória;
Artes performativas;
Artes plásticas e cinematografia;
Crítica e teoria cinematográfica;
Escrita de argumento e criatividade;
Estética e semiótica;
História e cinefilia;
Literatura e cinema;
Música e som do cinema;

Cinema – Tecnologia

Arquitetura de espaços;
Legendagem, dobragem e audio-descrição;
Linguagens para minorias;
Novas tecnologias e cinema;
O espaço da internet;
Suportes, formatos e novos “media”;

Cinema – Comunicação

Cinema e pedagogia;
Comunicação social, espaço público e sociedade;
Economia e marketing;
Formação académica e profissional;
Internet social e espaço fílmico;
Política do audiovisual;

Cinema – Cinema

Cinema documental;
Ficção entre a imagem real e a animação;
Percursos, filmografias e géneros;
Produção cinematográfica e audiovisual.

Novas abordagens da regulação dos media e da literacia mediática

No artigo "Paradigms of Civic Communication" que acaba de ser publicado na revista International Journal of Communication (nº 7, 2013, pp.173–187), os seus autores, Jay G. Blumler e Stephen Coleman, propõem, a dado passo, a necessidade de definir novas prioridades para a investigação. Uma delas designam-na por "Novas abordagens da regulação dos media e da literacia mediática" e explicam-na desta forma:
"De todas as áreas da investigação em comunicação política que tiveram de ser reconsideradas e revistas nos últimos anos, as relativas à política regulatória e à literacia para os media(não raro dois lados da mesma moeda) foram as mais afetadas, obviamente. Como tem mostrado o Inquérito Leveson no Reino Unido, as tentativas de estabelecer princípios de conduta ou de marcos regulatórios a uma parte dos meios de comunicação contemporâneos podem falhar quando aplicadas a outros. Conceber um conjunto transversal de políticas de comunicação para o serviço público é incomparavelmente mais difícil na era dos media globais e multiplataforma do que ocorria na era da radiodifusão nacional, quando o espectro era escasso. Por mais difícil que tal pesquisa de política possa ser, os estudiosos dos media têm um papel importante a desempenhar no exame de como diferentes políticas são ou não operativas em diferentes contextos e no pensar criativamente sobre estruturas mais adequadas para servir o bem cívico (Lunt & Livingstone, 2012, oferecem ua modelo útil de uma tal abordagem). Por razões semelhantes, a velha ideia da literacia mediática relacionada principalmente com o consumo de mensagens, textos e imagens, ainda que continue a ser relevante para a maioria dos padrões de recepção de media, precisa de ser ampliada para atender as possibilidades de ação e as armadilhas enfrentadas por aqueles que produzem os seus próprios conteúdos de media, seja através dos media sociais ou em colaboração com os media profissionais".

terça-feira, janeiro 15, 2013

Decodificar as notícias sobre a guerra no Mali

Libération, 14 January 2013 – Presseurop
De repente montou-se uma guerra no Norte do Mali. Contra o terrorismo e pela democracia, notam os  dirigentes franceses e repetem as diplomacias ocidentais. E se esta guerra fosse também - alguns dirão: sobretudo - um biombo para acautelar os interesses do Ocidente em urânio, produto em que o pobre Mali é rico?
Ao ler notícias que nem sempre os grandes media publicam e, menos ainda, aprofundam, sobre o eclodir deste conflito na África do Norte, damo-nos conta de que o caso é bem mais complexo do que o pintam e que vale a pena acompanhar com atenção este dossiê.
Uma das teorias que os manuais de estudos jornalísticos nos apresentam e que nos podem ajudar a ler criticamente as notícias, nomeadamente as das guerras, é a teoria do enquadramento ('framing' em inglês, um conceito sugerido por Todd Gitlin). Propõe que inerente à representação e apresentação da realidade social operada pelos media está un enfoque, uma perspectiva que concentra as atenções em determinados tópicos ou ângulos, de fácil adesão, deixando na sombra outros que seriam igualmente (ou talvez mais) relevantes.
Esta teoria é, de certo modo, envolve uma forma de seleção e de silenciamento, mas é mais do que isso. É um enviesamento na produção discursiva (fabricado, neste caso, pelas fontes - Estados, organizações internacionais, etc) e - numa etapa fundamental para a eficácia e efetividade desse enfoque - tematizado, desenvolvido e amplificado pelos grandes media.
O terrorismo, pela sua própria natureza, possui uma enorme força mediática. Mas desde os ataques às torres gémeas e ao Pentágono, em 2001, adquiriu um 'valor-notícia' ainda maior. Neste contexto, enquadrar os motivos dos bombardeamentos das forças francesas no Mali no combate ao terrorismo e, mais especificamente, à Al-Qaeda é motivo mais do que suficiente para que as opiniões públicas pelo menos não reajam negativamente.
Não deixa de ser sintomático que, num momento em que a França atravessa dificuldades e em que vários países ocidentais, a começar pelos Estados Unidos, estejam a abandonar o Afeganistão, os mesmos países se disponham a lançar uma intervenção em larga escala na África ocidental, e com o aviso de que vai se uma operação demorada. Que sentido de solidariedade ou de espírito democrático é que desencadearia uma ação deste tipo?
Há certamente laços históricos que ligam a França ao Mali e outros países da região. Há certamente organizações terroristas e fundamentalistas que há mais de um ano progridem na zona e que transpuseram recentemente o rio Níger, a caminho de Bamako. Mas alguma força ou interesse poderoso levaria os militares para um palco daqueles, para além do terrorismo.
Se se tiver em conta que os países do Sael são grandes produtores de ouro, urânio, cobre, fosfato e ferro, além de petróleo e gás natural; se se disser que o vizinho Níger, sendo o terceiro maior produtor de petróleo, fornece 3% do urânio para as centrais nucleares francesas e que conta abrir em 2015 uma nova mina a céu aberto, explorada por franceses, o quadro complexifica-se bastante. "Certos observadores - escreve hoje o jornal católico La Vie - sublinham o interesse que poderiam ter estes Estados [como a França e a China, nomeadamente] em exagerar a ameaça terrorista para justificar uma presença militar, como aconteceu com o Iraque com a invenção das armas de destruição maciça, por parte da administração Bush".
É claro que o controlo do urânio por organizações terroristas representa uma pesada ameaça para as nações, mas é necessário que o jornalismo nos forneça os vários aspectos do caso, e não alinhem de modo mais ou menos seguidista no 'framing' que os Estados pretendem ver adotado e amplificado.

Para ler e aprofundar o assunto:
Complemento em 25.1.2013:

Sob o título: "Guerre d'infos  

Le difficile travail des journalistes au Mali"

o jornal Le Monde  pergunta hoje:
"Comment parler de la guerre au Mali quand la moindre (et rare) information est invérifiable ? Que montrer d'un conflit où photographes et équipes de télévision n'ont pas accès au front et où les seules images disponibles sont occasionnellement délivrées par l'armée ? "
(...)
"Dans un article publié le 24 janvier, Télérama tente d'apporter plusieurs réponses aux questions que pose la couverture médiatique de la guerre au Mali.
Pourquoi n'y a-t-il pas d'images ? Tous les médias l'ont constaté depuis le début de l'intervention, le 10 janvier : la "Grande Muette" qu'est l'armée française porte toujours aussi bien son nom en période de conflit. Les informations sont distillées au compte-gouttes. "L’armée française a dépêché des officiers de presse sur place, mais ils sont injoignables, peste Sylvain Lequesne, grand reporter à France 3, interrogé par Télérama. Ils nous disent que ne pas communiquer c’est déjà communiquer !" "Les autorités françaises ont peur que nos informations servent à l'ennemi, explique Pierre Grange, grand reporter sur TF1. On nous refile donc très peu de tuyaux."