domingo, fevereiro 26, 2012

Seminário sobre "Alfabetización mediática y pensamiento crítico. Lenguaje y esfera pública"


No próximo dia 2 de março, J.M. Perez Tornero, catedrático da Universidade Autónoma de Barcelona UAB), proferirá um Seminário sobre "Alfabetización mediática y pensamiento crítico. Lenguaje y esfera pública". Perez Tornero é um investigador de referência a nível internacional na área da literacia digital e mediática, sendo consultor da UNESCO e da União Europeia, nesta matéria, e coordenador do Gabinete de Comunicación y Educación da UAB.
Perez Tornero estará na Universidade do Minho como consultor do projeto 'Navegando com o Magalhães, financiado pela FCT, proferindo este Seminário no âmbito do Mestrado em Comunicação, Cidadania e Educação e dos Doutoramentos em Ciências da Comunicação e em Estudos Culturais.
O Encontro realiza-se pelas 14.30h, na sala de Atos do ICS, Campus de Gualtar, Braga.

Curriculo: Formação Cívica é também recomendada pela União Europeia



Depois do parecer claro e assertivo há dias aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no sentido de que o Ministério "assegure um tempo próprio de Formação Cívica", vai ser difícil a Nuno Crato não tomar este ponto em consideração na revisão curricular em preparação. Sobretudo porque, além do CNE, também os representantes dos pais, dos especialistas de ciências da educação e de ciências da comunicação e até o provedor de Justiça se pronunciaram no mesmo sentido.
O CNE sustenta, no parecer, que a Formação Cívica deve ter um tempo próprio "em complementaridade com a dimensão transdisciplinar da Educação para a Cidadania", uma matéria que foi recentemente objeto de uma recomendação daquele mesmo Conselho.
Um aspeto que não foi sublinhado no debate que terminou em final de Janeiro foi a divergência radical com as políticas europeias nesta matéria, por parte do Governo. De facto, a Recomendação 2006/962/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Dezembro de 2006, relativa às "Competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida" distancia-se da posição (inicial) do Ministério da Educação em pelo menos dois aspetos (curiosamente ambos apontados no parecer do CNE): na centrallização das aprendizagens nos "conhecimentos" em detrimento de aptidões/competências e atitudes; e na hipervalorização dos conhecimentos fundamentais em Língua Materna, Matemática e Ciências, em detrimento de outras componentes do que se poderia designar por uma formação integral.

Vale a pena recordar quais são as tais "Competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida" que se encontram em plena vigência e têm vindo a ser um ponto de referência para outras revisões curriculares:
"Este quadro define oito competências essenciais e descreve os conhecimentos, as aptidões e as atitudes fundamentais relacionados com cada uma delas. Estas competências essenciais são:
  1. comunicação na língua materna, que consiste na capacidade de expressar e interpretar conceitos, pensamentos, sentimentos, factos e opiniões, tanto oralmente como por escrito (escutar, falar, ler e escrever), e de interagir linguisticamente de forma correcta e criativa em todos os contextos da vida social e cultural;
  2. comunicação em línguas estrangeiras, que envolve, para além das principais competências de comunicação na língua materna, a mediação e a compreensão intercultural. O grau de proficiência depende de vários factores e da capacidade para escutar, falar, ler e escrever;
  3. competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia. A competência matemática é a capacidade de desenvolver e aplicar um raciocínio matemático na resolução de diversos problemas da vida quotidiana, com ênfase nos processos, actividades e conhecimentos. As competências básicas em ciências e tecnologia referem-se ao domínio, uso e aplicação de conhecimentos e metodologias que explicam o mundo natural. Envolvem a compreensão das mudanças causadas pela actividade humana e a responsabilidade de cada indivíduo enquanto cidadão;
  4. competência digital, que envolve a utilização segura e crítica das tecnologias da sociedade da informação (TSI) e, portanto, competências básicas em tecnologias de informação e comunicação (TIC);
  5. aprender a aprender, que está relacionada com a aprendizagem, a capacidade de iniciar e organizar a sua própria aprendizagem, tanto individualmente como em grupo, de acordo com as suas próprias necessidades, e com a consciência dos métodos e oportunidades;
  6. competências sociais e cívicas. A competência social refere-se às competências pessoais, interpessoais e interculturais, bem como a todas as formas de comportamento que permitem ao indivíduo participar de forma eficaz e construtiva na vida social e laboral. Está ligada ao bem-estar pessoal e colectivo. É essencial compreender os códigos de conduta e hábitos nos diferentes ambientes em que os indivíduos se movimentam. A competência cívica e, em particular, o conhecimento dos conceitos e das estruturas sociais e políticas (democracia, justiça, igualdade, cidadania e direitos civis) permitem ao indivíduo uma participação activa e democrática;
  7. espírito de iniciativa e espírito empresarial, que consiste na capacidade de passar das ideias aos actos. Compreende a criatividade, a inovação e a assunção de riscos, bem como a capacidade de planear e gerir projectos para alcançar objectivos. O indivíduo está consciente do contexto do seu trabalho e é capaz de aproveitar as oportunidades que surgem. Serve de base à aquisição de outras competências e conhecimentos mais específicos de que necessitam os que estabelecem uma actividade social ou comercial ou para ela contribuem. Tal deveria incluir a sensibilização para os valores éticos e o fomento da boa governação;
  8. sensibilidade e expressão culturais, que envolve a apreciação da importância da expressão criativa de ideias, das experiências e das emoções num vasto leque de suportes de comunicação (música, artes do espectáculo, literatura e artes visuais).
Estas competências essenciais são todas elas interdependentes e a ênfase em cada caso é colocada no pensamento crítico, na criatividade, no espírito de iniciativa, na resolução de problemas, na avaliação de riscos, na tomada de decisões e na gestão construtiva dos sentimentos".
(Para ler o documento na íntegra: AQUI

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Cinema e Escola - conferência internacional em Viana do Castelo, em 11 de Maio



Realiza-se em 11 de Maio próximo em Viana do Castelo a Conferência Internacional de Cinema de Viana, que terá a relação entre Cinema e Escola como temática central.
A iniciativa decorrerá na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo, organizada pela Associação AO NORTE em conjunto com várias outras entidades locais e regionais, e inserida no âmbito dos XII Encontros de Viana – Cinema e Vídeo (os quais ocorrem entre 8 e 13 de maio).
Os temas sugeridos pelos organizadores são os seguintes:
  • Representações da escola no cinema
  • Práticas de cinema na escola
  • Cinema, migrações e interculturalidade
  • Cinema e novas tecnologias
Objetivos da Conferência:
  • Promover o confronto de olhares entre estudos e experiências vividas na escola pelos seus diversos atores e a representação cinematográfica da escola e dos seus atores.
  • Refletir sobre as possibilidades educativas do cinema ou da possibilidade de educar para o cinema na escola a partir da apropriação / fruição, análise e produção em contextos de formação e animação social, cultural e artística.
  • Apreender o cinema como complexo processo de mudança na linguagem, nas tecnologias, na
  • economia, nos objetos que aborda, nas histórias que conta.
  • Problematizar o tema das migrações e da interculturalidade a partir do estudo e análise das obras cinematográficas.
Apresentação de propostas de resumos de comunicações: 31 de Março
Envio do texto completo das comunicações aceites: 30 de Abril
Data limite para as inscrições: 27 de Abril
Endereço de contacto: aonorte@nortenet.pt.
Mais informações: site da Conferência.

Os professores perante os "nativos digitais"


Acaba de ser publicado o estudo Young Canadians in a Wired World – Phase III: Teachers' Perspectives, pelo Media Awareness Network, do Canadá.
O trabalho procura compreender as atitudes dos professores canadianos relativamente às tecnologias em rede na sala de aula, respondendo às perguntas: "será que promovem a aprendizagem e qual o seu impacte na relação professor-aluno?".
"Os resultados sugerem que existem desfios significativos a ultrapassar quanto à integração da tecnologia em processos significativos que enriqueçam o processo de aprendizagem", observa o documento que inclui também referência a um conjunto de 'boas práticas'.



terça-feira, fevereiro 21, 2012

O que fazer com os media (nota a propósito da jornada de 3 de Maio)


Está neste momento a ser lançada no país uma operação que constitui um desafio à nossa inércia e à nossa consciência: dedicar um dia – 3 de Maio próximo – a refletir sobre o lugar e o sentido que teem os meios de comunicação, novos e tradicionais, na nossa vida. Em torno do mote “Um dia com os media”, cada qual, individualmente ou em grupo, em família, no seu trabalho ou no seu lazer, tomará as iniciativas que entender mais adequadas.
Muitas vezes expressamos a preocupação sobre o que os media fazem às pessoas, mas menos vezes nos preocupamos com o que as pessoas fazem com os media – quanto tempo lhes dedicam, que procuram e que fazem com o que encontram ou lhes é ‘oferecido’, que contributo dão para a sua melhoria. Dados recentes indicam que o tempo médio gasto pelos portugueses com os media (sobretudo a Internet, televisão e jogos vídeo) continua a crescer (a população idosa queima, por dia, só com a TV, mais de cinco horas). Que significa isto? Que se passa com a leitura? Como estamos a aprender a tirar partido dos recursos e oportunidades que a Internet abre para alargar os  horizontes, para comunicar com os que estão distantes, para resolver necessidades do quotidiano?
Uma atenção muito particular deve ser prestada às novas condições de socialização e formação das crianças e adolescentes, que nascem e crescem no ambiente digital. Mas, cada vez mais, todos nós, mais novos e mais velhos, precisamos de aprender a manejar de forma eficiente as novas ferramentas que a revolução tecnológica e digital coloca ao nosso alcance.
Se todos gostaríamos de viver num local agradável, arejado e tranquilo, com boas vistas, bem servido de acessos e de serviços, porque haveríamos de ser menos exigentes quando se trata dos media, da informação, das artes e da criação? Pensar o que temos, o que nos inquieta, o que desejaríamos ter, o que nos merece críticas e nos suscita aplauso na ecologia comunicacional e mediática é uma preocupação central da jornada do 3 de Maio. Mais do que pensar, é preciso também agir – partilhar as preocupações com outros, comunicá-las a quem de direito, incluindo aos próprios media, que são certamente um parceiro decisivo das mudanças que há que operar. 
(Texto publicado no jornal digital Página 1, de 20.2.2012, sob o título "Um dia com os media")

domingo, fevereiro 12, 2012

Representações Jornalísticas de Crianças em Portugal e no Brasil em debate no CECS


'Representações Jornalísticas de Crianças em Portugal e no Brasil: um debate sobre os direitos infantis nas notícias' é a temática do Seminário que Lídia Maropo, investigadora de pós-doutoramento no CIMJ/FCSH-UNL e professora na UAL, irá dinamizar na próxima sexta-feira, dia 17, pelas 10.30h, na Sala de Atos do ICS, no Campus de Gualtar, em Braga.

Com o apoio do Mestrado em Comunicação, Cidadania e Educação, esta é a terceira sessão realizada no âmbito do Seminário Permanente de Educação para os Media, uma iniciativa de um grupo de investigadores da linha de Media e Jornalismo do CECS que tem as problemáticas da literacia e educação para os media como principais vertentes de trabalho e de investigação.

Entrada livre.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

"Literacia para o cinema" - nova lei em debate público

A Secretaria de Estado da Cultura colocou há dias em consulta pública uma proposta de Lei para o Cinema e Audiovisual que contempla, nomeadamente, um "programa de literacia para o cinema junto do público escolar". 

O documento, disponível no site do ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual, "alarga as fontes de receita, aumenta os incentivos nacionais e aposta em moldes inovadores na promoção da literacia e captação de novos públicos", segundo se lê no press release daquele departamento governamental.

O que sobre a literacia consta na proposta (artigo 22º, intitulado "Literacia do público escolar") é o seguinte:
O Estado promove um programa de literacia para o cinema junto do público escolar para a divulgação de obras cinematográficas de importância histórica, e em particular das longasmetragens, curtas-metragens, documentários e filmes de animação de produção nacional.
A explicação dada pelo Governo, no já referido press release, esclarece um pouco mais as intenções subjacentes à iniciativa legislativa:
A nova Lei do Cinema reforça ainda a importância da formação de públicos através de uma parceria entre o ICA, a Cinemateca e o Ministério da Educação. Esta parceria passa pela divulgação nas escolas de filmes, documentários e curtas de animação de produção nacional. Estão também incluídos nesta medida os conteúdos pedagógicos para professores, com enfoque na ligação curricular, bem como o acesso digital a filmes estrangeiros de referência.
É de referir que a lei do cinema que se encontra em vigor desde 2004, da altura do governo liderado por Santana Lopes (Lei n.º 42/2004, de 18 de Agosto) apenas previa apoios do Estado para a formação profissional e numa perspetiva que a nova proposta enuncia num leque substancialmente mais alargado de valências.

A nova Lei do Cinema pretende ser "uma resposta à quebra acentuada das receitas da taxa de exibição, única fonte de receitas do ICA, que desceram de 14 milhões de euros em 2006 para os 10,7 milhões de euros em 2011".


Informação suplementar:

O texto integral da proposta da nova Lei para o cinema e audiovisual encontra-se disponível para consulta pública.

Os contributos poderão ser enviados para o seguinte endereço de correio eletrónico: contributos.projeto.leicinema@ica-ip.pt
  
Resumo das propostas de remodelação do sistema de apoio ao cinema e ao audiovisual

Link directo para o texto da proposta: www.ica-ip.pt/admin/Files/Documents/LeiCinemavp30012012.pdf

domingo, fevereiro 05, 2012

Intervenção de Evelyne Bevort no Seminário "A Educação para os Media como via de leitura crítica do mundo atual"

Está já disponível a intervenção de Evelyne Bévort, Diretora-delegada do Centre de Liaison entre L’Enseignement et des Médias d’Information (CLEMI), no Seminário "Educação para os Media como via de leitura crítica do mundo atual" que se realizou no passado dia 20 no âmbito do projeto 'Navegando com o Magalhães' em curso no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da UM.

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Contributo do GT 'Comunicação e Educação' para a Discussão da Revisão da Estrutura Curricular

Disponibiliza-se aqui o texto produzido pelo Grupo de Trabalho 'Comunicação e Educação', da SOPCOM, a propósito da Revisão da Estrutura Curricular que esteve em consulta pública desde finais de 2011 até ontem, 31 de janeiro.


Relativamente à Revisão da Estrutura Curricular que se encontra em fase de consulta pública, o Grupo de Trabalho ‘Comunicação e Educação’ da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM) vem por este meio manifestar a sua preocupação relativamente a alguns aspetos propostos nesta Revisão e colocar algumas questões relativas à mesma.

Em primeiro lugar, é com apreensão que registamos um conceito redutor de “conhecimentos fundamentais”, bem como de “disciplinas fundamentais”, no qual se pretende centrar o currículo e reforçar as aprendizagens, tal como é referido no preâmbulo da proposta. A vida dos jovens não pode ser encarada de forma compartimentada, sendo importante contemplar nessa formação áreas de desenvolvimento pessoal e social e de formação cívica, vertentes que esta proposta não considera no domínio dos ‘conhecimentos fundamentais’ ou das ‘disciplinas essenciais” e que, portanto, exclui.
A escola deve ser um lugar de vida e, como tal, deve abrir-se ao mundo em que os estudantes vivem, sendo limitador, em nosso entender, reduzir os conhecimentos fundamentais que os jovens devem adquirir na escola aos conteúdos estritos de disciplinas como o Português, a Matemática e as Ciências. Perguntamo-nos, por isso, se o reforço das disciplinas ditas essenciais, em detrimento de disciplinas como a Formação Cívica, vai oferecer aos jovens tempo e espaço para o debate do que se passa no mundo, para o desenvolvimento de uma visão crítica sobre a atualidade, permitindo-lhes o desenvolvimento de competências de cidadania.

Em segundo, gostaríamos de manifestar a nossa preocupação com uma Revisão Curricular que parece estar em contra ciclo com as recomendações provenientes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu relativas à formulação de uma abordagem europeia de promoção da literacia mediática. Com efeito, a educação/literacia dos media é considerada, em vários documentos produzidos por estes organismos, como uma área fundamental para uma cidadania ativa na sociedade da informação e do conhecimento de hoje. A Diretiva de Serviços de Comunicação Audiovisual (Diretiva 2010/13/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 10 de Março de 2010), por exemplo, estabelece a obrigação de a Comissão apresentar relatórios que mostrem os níveis de educação para os media em todos os Estados-Membros. Podemos aqui incluir um conjunto de outros documentos publicados sobretudo nos últimos seis anos que procuram incentivar a promoção da literacia dos media, considerada como uma competência fundamental “não só para os jovens, mas também para os adultos e as pessoas de idade, pais, professores e profissionais dos meios de comunicação social” (2009/625/CE, artº 15º). Nesta mesma recomendação, a Comissão Europeia refere, no artigo 16º, que “Uma sociedade com um bom nível de literacia nas questões dos media será simultaneamente um estímulo e uma pré-condição para o pluralismo e a independência dos meios de comunicação social. A expressão de opiniões e ideias diversas, em diferentes línguas, representando diferentes grupos, numa sociedade e entre sociedades diferentes contribui para o reforço de valores como a diversidade, a tolerância, a transparência, a equidade e o diálogo. O desenvolvimento da literacia mediática deverá, por conseguinte, ser fomentado em todos os sectores da sociedade e os seus progressos deverão ser acompanhados de perto”.
Perante Recomendações como esta, e que citamos apenas a título de exemplo pois são efetivamente muitos os documentos a aconselhar, e até mesmo a advertir para a abordagem da literacia mediática de diferentes modos e a diferentes níveis, perguntamos onde estará incluída, nesta Revisão Curricular, esta vertente de formação considerada essencial pelas Diretivas e Recomendações Europeias e às quais Portugal está vinculado. Aliás, esta revisão curricular representa um retrocesso no que diz respeito a este domínio de formação uma vez que, tal como é preconizado ponto 10 do Despacho nº 19308/2008, "ao longo do Ensino Básico, em área de projecto e em formação cívica devem ser desenvolvidas competências nos seguintes domínios:(...) j) Educação para os media".

Sendo a escola um lugar, por excelência, do exercício da cidadania, da promoção de igualdade de oportunidades e de democratização do conhecimento, não pode ficar de fora desta tarefa de educar para os media. Julgamos que caberá também ao Ministério da Educação o papel de contribuir ativamente para o Relatório que Portugal deve entregar de três em três anos (a partir de 19 de dezembro do passado ano) à Comissão Europeia sobre os níveis de educação para os media de todos os cidadãos portugueses (Diretiva 2010/13/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 10 de Março de 2010de 10 de Março de 2010, artigo 19º).

Face ao exposto, não é nossa intenção, contudo, propor uma disciplina autónoma de educação ou de literacia para os media. A nossa proposta vai antes no sentido de integrar esta componente numa área de formação cívica ou de educação para a cidadania ou de a tomar como uma dimensão transversal a várias outras disciplinas, desde que tais conteúdos estejam claramente formulados e explicitados. É neste sentido que vai, aliás, a Recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre ‘Educação para a Literacia Mediática’ (Recomendação nº 6/2011, Diário da República, 2.ª série — N.º 250 — 30 de Dezembro de 2011), bem como a Recomendação, também do CNE, sobre ‘Educação para a Cidadania’ (Recomendação nº 1/2012, Diário da República, 2.ª série — N.º 17 — 24 de janeiro de 2012).

Em terceiro e último lugar, e em relação estreita com o exposto no último ponto, perguntamos se a preconizada “antecipação da aprendizagem das Tecnologias de Informação e Comunicação, garantindo aos alunos mais jovens uma utilização segura e adequada dos recursos digitais e proporcionando condições para um acesso universal à informação e comunicação” se orientará por uma vertente de tecnologia educativa, amplamente ancorada no acesso à tecnologia e ao uso funcional da mesma, ou se passará a incluir outros objetivos, nomeadamente, o desenvolvimento de competências para que os estudantes aprendam a pesquisar, a selecionar, a editar e a compreender e avaliar, de modo crítico, os conteúdos e as mensagens dos media, desde os tradicionais aos digitais, bem como de outros meios de informação. Questionamo-nos também se aquela disciplina irá contemplar, nas suas finalidades, o desenvolvimento de capacidades de produzir, de forma autónoma, criativa e crítica, conteúdos e informações em diversos contextos e plataformas.

Estando este Grupo de Trabalho (GT), constituído por investigadores e profissionais da comunicação e da educação, empenhado na promoção da educação para os media em Portugal, não podia deixar de manifestar a sua preocupação com a Revisão Curricular colocada à discussão e de colocar à consideração um conjunto de princípios que lhe parecem fundamentais para o processo de ensino e de aprendizagem em escolas do Século XXI. Em resumo, o GT propõe:

- a inclusão da literacia mediática nos conhecimentos fundamentais a adquirir pelos estudantes;

- a oferta de uma disciplina de Formação Cívica ou de Educação para a Cidadania nos Ensinos Básico e Secundário, com um currículo repensado e aperfeiçoado relativamente ao que tem sido proposto por esta disciplina nos Ensinos Básico e Secundário. Consideramos fundamental que esta disciplina disponha de um conjunto de orientações curriculares, para que os professores não andem à deriva na sua leccionação. Uma disciplina desta natureza poderá ser de importância crucial para formação cidadã dos estudantes, podendo contemplar a reflexão e a discussão de temas que são hoje preconizados como essenciais para uma (con)vivência saudável em sociedade e nos quais se inclui a educação/literacia para os media;

- a integração da educação ou literacia dos media numa área de formação cívica ou de educação para a cidadania ou a sua inclusão em outras disciplinas, como uma dimensão transversal aos seus curricula. Esta integração, numa área específica ou nas várias disciplinas, exigiria a formulação clara e explícita de conteúdos e objetivos, para que esta componente de formação não corra o risco de cair na ‘terra de ninguém’ e não haja quem se sinta responsabilizado pela mesma;

- o enriquecimento dos planos curriculares da disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação com objetivos e conteúdos da literacia dos media explicitamente formulados, no sentido de desenvolver nos estudantes competências que a Comissão Europeia e o Conselho Europeu consideram como fundamentais na formação de cidadãos do Século XXI.

Esperamos que este contributo possa enriquecer e alargar o debate em torno da revisão da estrutura curricular. Trata-se, sem dúvida, de um momento de extrema importância para a formação básica de crianças e jovens, uma formação que deve valorizar não apenas os conteúdos e os resultados mas também os processos de aprendizagem e os contextos de vida e de participação destas gerações.

31 de janeiro de 2012

O Grupo de Trabalho 'Comunicação e Educação', SOPCOM