quarta-feira, março 30, 2011

"Educar para os ecrãs"

Com o título Educar para os ecrãs, a jornalista Andreia Lobo publicou no site Educare um desenvolvido trabalho sobre o Congresso Nacional "Literacia, Media e Cidadania", que decorreu no final da última semana na Universidade do Minho. Abre deste modo:
"A educação para os media serve para melhorar a nossa condição de cidadãos." A ideia é tão consensual entre especialistas e investigadores que merece as aspas. Como se fosse uma citação coletiva. Foi repetida vezes sem conta durante o primeiro congresso nacional de "Literacia, Media e Cidadania", que decorreu em Braga.
Se há em Portugal educação para entender a televisão, a publicidade, a rádio, a imprensa, os filmes, os videojogos, a Internet, as redes sociais, ou seja, a medioesfera, "resulta do empenho pessoal, da crença de que é importante", diz Sara Pereira, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho. O que significa que "quando os dinamizadores das experiências deixam de existir, elas terminam". E, na "ausência de uma política pública" verifica-se que "no plano nacional não há uma prática continuada de educação para os media", conclui. (...)"
Continuar a ler: Aqui

terça-feira, março 29, 2011

ERC disponibiliza online estudo sobre "Educação para os Media em Portugal"

Referência completa do estudo realizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e acabado de editar pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social:
Manuel Pinto (coordenador); Sara Pereira; Luís Pereira e Tiago Dias Ferreira (2011)
Educação para os Media em Portugal: experiências, actores e contextos
Lisboa: ERC

Índice:
Nota introdutória.. 11

Parte I

1. Metodologia do Estudo.. 17
2. Conceitos. Fundamentos. Orientações. Âmbitos.. 21
2.1. Conceitos.. 21
2.2. Fundamentos.. 24
2.3. Orientações.. 28
2.4. Âmbitos .. 29

3. Educação para os Media e Organizações Internacionais.. 37
3.1. Que instituições?.. 37
3.2. Que formas de intervenção?.. 38
3.3. Perspectivas e abordagens.. 45

4. A Educação para os Media e a regulação.. 49
4.1. Os media, a sociedade e os cidadãos.. 50
4.2. Mudanças no ecossistema mediático e nas políticas públicas.. 52
4.3. Regulação e Educação para os Media.. 57

Parte II

5. Perspectivação histórica da Educação para os Media em Portugal: notas de
enquadramento.. 67
5.1. Especificidades do caso português.. 67
5.2. Antecedentes e “filiações” da Educação para os Media .. 69
5.2.1. Imprensa escolar.. 70
5.2.2. Cinema e educação.. 71
5.2.3. Outras abordagens.. 73
5.3. Iniciativas do poder político.. 74

6. Os Actores, os Contextos e as Experiências .. 77
6.1. Actores e Contextos .. 77
6.2. Experiências no Terreno .. 90
6.3. Flashes sobre 10 projectos .. 107

7. Ensino Superior, formação de professores e Educação para os Media .. 119
7.1. Universidades públicas .. 119
7.2. Institutos Politécnicos .. 127
7.3. Ensino Superior privado. 128

8. Educação para os Media: concepções, práticas, aspectos críticos.. 135
8.1. Concepções de Educação para os Media.. 135
8.2. Relendo a prática e os seus factores críticos ou problemáticos.. 139
8.3. Necessidades e expectativas .. 143

Conclusões Gerais.. 147
Recomendações.. 155
Bibliografia do Estudo.. 159

Anexos.. 163

sábado, março 26, 2011

O congresso Literacia, Media e Cidadania ainda em movimento

Literacia, Media e Cidadania em prática
Foto de Joana Rodrigues

Prestes a terminar o Congresso Nacional Literacia, Media e Cidadania, deixamos aqui um breve resumo do mesmo, pelas mãos da Raquel Ribeiro, dedicada voluntária do grupo de Comunicação do evento. Pode ver, ouvir e ler como se passaram os dois dias do congresso no Storify, Twitter, YouTube, Flickr e AudioBoo.

Segue em baixo o texto da Raquel:

Os dias 25 e 26 de Março de 2011 vão ficar registados na agenda da Universidade do Minho. O primeiro Congresso Nacional Literacia, Media e Cidadania foi o mote para a recepção em Braga de um conjunto de profissionais, docentes, especialistas e investigadores das áreas da comunicação e da educação que durante dois dias debateram as questões suscitadas pela necessidade da educação mediática junto dos cidadãos portugueses e, em especial, junto dos mais jovens.

Numa iniciativa conjunta do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Comissão Nacional da UNESCO, Conselho Nacional de Educação, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Gabinete para os Meios de Comunicação Social, o Ministério da Educação e a UMIC, o Congresso Nacional Literacia, Media e Cidadania configurou um espaço de participação e debate no âmbito da necessidade de intervir, formar, investigar e definir políticas de incentivo à literacia mediática.

Durante dois dias e no decorrer de inúmeras sessões foram vários os temas debatidos, tendo confluído todos os debates para a necessidade urgente de apostar em políticas de educação para os media com o objectivo de formar cidadãos mais esclarecidos e capazes de interpretar criticamente a informação que recebem.

Num caminho de Educação para os Media que quase todos concordam ainda é preciso trilhar, conferencistas e participantes afirmaram a necessidade de diagnosticar o estado da literacia mediática na sociedade portuguesa com o objectivo de levar a cabo políticas que possam favorecer uma cidadania mais plena.

Assim, e no âmbito da premência em colocar em prática políticas de Educação para os Media foi ainda destacada a necessidade em formar civicamente os estudantes, permitindo que os mesmos sejam capazes de desenvolver as suas competências críticas não só em relação às mensagens mediáticas que consomem diariamente mas também em todos os domínios do social em que se encontram envolvidos.

Numa das conferências mais concorridas do dia 25, o professor José Ignacio Aguaded Gomez referiu a necessidade de debater os media num momento em que os mesmos são omnipresentes na sociedade actual estando essa situação intrinsecamente relacionada com as evoluções tecnológicas. Segundo o mesmo, essa mesma evolução é a força motriz de um mundo actual marcadamente fragmentado e composto por uma sucessão de mosaicos, configurados em forma de links.

Ressalvada foi a possibilidade de na sociedade actual encontrar pontos de convergência entre as escolas do século XIX, os professores do século XX e os alunos do século XXI. As potencialidades dos media, ao nível da criação de uma sociedade mais igualitária e justa, forma também alvo de reflexão, referindo-se a profissão dos educomunicadores como fundamental na criação de pontes entre comunicação e educação, ambas faces da mesma moeda.

O congresso ficou ainda marcado pela apresentação do estudo “Educação para os Media, em Portugal: experiências, actores e contextos”, resultado de uma investigação realizada pelo CECS para a ERC. Este estudo visou conhecer melhor a realidade dos actores e das experiências dos agentes permitindo observar por princípio três caminhos dominantes na relação entre os media e os cidadãos: o proteccionismo, o modernizador/tecnológico e o capacitador.

Este estudo permitiu, entre outras coisas, perceber que o panorama geral da Educação para os Media é fragmentário e difícil de perceber atendendo àquilo que são os seus constantes avanços e recuos. Ao mesmo tempo, ficou evidente que a maioria das experiências existentes dirigem-se a crianças vista como alunos e não como crianças-cidadãos. De notar, igualmente, foi a inexistência actual de um plano organizado de acção para a educação mediática em Portugal, ou mesmo de uma qualquer plataforma que permita mediar o ainda escasso trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nesta área. A este propósito o professor Manuel Pinto, um dos co-autores do estudo, mencionou a importância de criar um Observatório sobre Educação para os Media, que colmate estas lacunas observadas.

Apontada como condição essencial para o exercício de uma cidadania plena e activa a educação para os media foi apresentada pelos participantes no congresso como fundamental na redução da info-exclusão. Para que esse fim seja possível é, todavia, fundamental formar. Responder às questões de como, quem, e porquê formar é lutar contra o analfabetismo mediático que parece ainda dominar na sociedade actual.

quarta-feira, março 23, 2011

Participar é também ouvir e comentar o trabalho dos outros

A poucas horas do início do congresso 'Literacia, Media e Cidadania', a coordenadora local da Comissão Organizadora endereçou aos participantes a mensagem seguinte:

Estimados Congressistas,

aproxima-se a data de realização do Congresso Nacional 'Literacia, Media e Cidadania'. Tudo estamos a fazer para que este evento permaneça nas nossas agendas para além dos dias 25 e 26 de Março; queremos que fique também nas nossas memórias e que seja um ponto de partida, mais do que um ponto de chegada, para o muito que há a fazer em Portugal ao nível da educação para os media ou da literacia mediática.

Estamos certos de que valerá a pena estes dois dias de encontro, de partilha de conhecimentos e de experiências, de discussão de trabalhos e de ideias. Mas o sucesso do Congresso não depende apenas da sua Comissão Organizadora; depende do contributo que cada um pode dar, da presença nas sessões e da participação activa nas mesmas.

Um apelo vos deixamos para estes dois dias: que sejam uma presença activa, que apresentem os vossos trabalhos mas que tenham também disponibilidade para ouvir os contributos dos outros participantes. Se cada um de nós estiver de costas voltadas para as apresentações dos outros, pensando que apenas o que temos a dizer é importante, então estaremos a desfazer o espírito com que este congresso foi pensado e preparado.

Esperamos mais de 250 participantes, entre professores, bibliotecários, profissionais no campo da saúde, profissionais dos media, investigadores, decisores políticos, entre outros profissionais. Para além das seis sessões plenárias previstas no programa, teremos ainda a realização de workshops, com a perspectiva de aprender como fazer educação para os media; a apresentação de investigações e de experiências no terreno, através de comunicações orais e de posters; e ainda uma Mostra permanente de Produtos e Serviços.

Estamos certos de que este congresso tem condições para contrariar a tendência última de eventos deste tipo - salas quase vazias com sessões pouco participadas.

E para que se orientem na chegada à Universidade do Minho, resta-nos apenas dizer que o Congresso se realiza no Campus de Gualtar, em Braga, no Complexo Pedagógico II (CPII). Na entrada principal, para poderem entrar com o automóvel, informem por favor a equipa dos seguranças que vêm participar no Congresso 'Literacia, Media e Cidadania'.

Despedimo-nos na expectativa do encontro já na próxima sexta-feira, dia 25.

Com os melhores cumprimentos,

Pela Comissão Organizadora,
Sara Pereira

segunda-feira, março 21, 2011

Literacia sobre os media

Plátano, Outra Presença, Legenda, Escrita Irrequieta, Encontro, Barquinho de Papel, Etc são títulos de jornal que provavelmente não dirão muito à maioria dos leitores. Mas são a expressão de um trabalho notável desenvolvido em escolas de todos os níveis de ensino não-superior, que foram premiadas no Concurso Nacional de Jornais Escolares, promovido pelo projecto “Público na Escola” em 2010.
Neles se procura colocar os alunos e as instituições educativas a pensar e a pôr em prática a comunicação – através do texto, da imagem, do multimédia (já que se contempla também jornais escolares online); a dar a palavra aos alunos e professores; a aprender a expressar-se e desejavelmente a escrever melhor; a seleccionar e organizar a informação. Neste exercício, realizado frequentemente, contra uma cultura do “não te rales”, descobrem-se talentos, forja-se a cidadania, promove-se a pesquisa e o trabalho de projecto, aprende-se a ler mais criticamente o papel dos próprios meios de comunicação social.
Quando muitos alunos e professores das dezenas de escolas premiadas se encontrarem nesta quarta-feira, no Salão Medieval da Universidade do Minho, para a cerimónia da entrega dos prémios, não é apenas o prémio que está em causa, mas o reconhecimento de um trabalho continuado, frequentemente sem grandes apoios, e uma aposta no valor educativo e cultural destes processos.
Dois dias depois, a mesma cidade de Braga acolhe o Congresso Nacional sobre “Literacia, Media e Cidadania”, promovido por meia dúzia de instituições públicas, numa parceria que traduz a preocupação de colocar a literacia para os media no centro das agendas públicas. Será a oportunidade para investigadores, formadores, investigadores, decisores políticos porem em comum o que se tem andado a fazer entre nós para “alfabetizar” os novos e menos novos no uso crítico e esclarecido dos media. Como é que a escola lida hoje com a experiência mediática dos seus alunos? Que impacto têm os media no âmbito da saúde? Como aprender a distinguir a informação válida do lixo, na Internet? Que pode fazer cada agente social nesta matéria?
É a qualidade do ambiente mediático e, certamente, a qualidade de vida, tout court, que estará sob o foco da atenção (mediática?), esta semana, em Braga.

Publicado na edição de 21.03 do diário digital Página 1

sexta-feira, março 18, 2011

Conhecer o terreno

A propósito da notícia do Público que no anterior post aqui referimos, tivemos conhecimento da tomada de posição do Prof. Rui Espinho, ligado ao Projecto de Educação para os Média na Região de Castelo Branco, já neste blog várias vezes referenciado, e que, com a autorização do autor, aqui reproduzimos:

Sem querer tirar qualquer mérito ao projecto "Público Na Escola" e,reconhecendo em absoluto, o carácter extremamente válido do contributo deste projecto para a educação para os média no nosso país e, em particular, nas escolas, venho, neste espaço, humildemente dizer à Dra. Bárbara Reis, à Dra. Teresa Calçada, à Dra. Sónia Matos e à sra. Ministra da Educação deste "por enquanto" país que... nada do que foi apresentado é "original".
Considero grave e cheio de significado que a responsável política da educação não tenha conhecimento do projecto "EducMédia - Educação Para o Média na Região de Castelo Branco". Que não saiba que todas as "suas" escolas do distrito trabalharam durante 3 anos a literacia para
os média de uma forma metódica, estruturada e avaliada. Que os "seus" professores estão agora mais habilitados. Que os "seus" estudantes estão mais conscientes.
É uma constante na educação em Portugal o subaproveitamento de experiências-piloto que enriquecem o panorama escolar, produzem frutos e depois... não fazem escola ou desaparecem.
"A leitura [também de jornais] é um meio essencial de transmissão do conhecimento e da cultura e tem uma função essencial no desenvolvimento individual", referiu a Dra. Isabel Alçada a propósito da iniciativa que comento. É precisamente essa a recomendação que aqui lhe deixo. A senhora quis exercer a função de governante; então, leia mais, sobre o que se faz nas escolas ou peça a um assessor que leia e que a mantenha informada. Talvez assim forme uma opinião mais positiva sobre a inovação nas "suas" escolas, feita com os "seus" professores ao serviço dos "seus" alunos. O que eu não desculpo são ministros que desconhecem a área que tutelam.
Rui Espinho, professor

Ligações sugeridas, a propósito:
- DVD do PÚBLICO "Como se faz um jornal" vai ser distribuido pelas escolas
- Vídeo "Como se faz o jornal"

terça-feira, março 15, 2011

Público distribui DVD "Como se faz um jornal"


O jornal Público vai distribuir pelas escolas secundárias da rede pública o DVD intitulado "Como se faz um jornal", produzido a propósito dos 20 anos de vida deste diário e dos 15 do Público Online.
Esse documento foi ontem visionado na Escola Secundária Emídio Navarro, em Almada, a anteceder um debate participado por vários profissionais do jornal e, ainda, pela Ministra da Educação, que recebeu das mãos de Bárbara Reis, directora do Público, o primeiro exemplar do DVD) e pela coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, Teresa Calçada.
Sobre o DVD, Bárbara Reis explicou que houve intenção de fazer algo útil e original que "aproximasse os jovens da leitura de jornais", pois "sem jornais independentes não existe democracia". Outra ideia partilhada pela directora do Público com a assistência foi que "não há diferença entre o que os jovens e os adultos querem dos jornais - querem histórias, querem notícias, querem bom jornalismo, sendo indiferente a plataforma em que ele corre".
A ministra Isabel Alçada saudou o projecto Público na Escola dizendo que "os jornais feitos na escola permitem compreender as outras dimensões da construção da informação. A leitura, acrescentou, é um meio essencial de transmissão do conhecimento e da cultura e tem uma função essencial no desenvolvimento individual. "Um jornal, concluiu a ministra, é um marco de civilização. Quem não lê jornais tem uma vida menos rica e uma dimensão menos aprofundada da realidade"
Ver, sobre este acontecimento, a reportagem (que serviu de fonte a este post) do jornalista Carlos Pessoa AQUI.

quinta-feira, março 10, 2011

Geração quê? Pistas para debate

Numa aula de Teoria e Prática de Educação para os Media seria um contra-senso não agarrar o que a actualidade nos traz (e o modo como ela nos faz), de modo a procurarmos entendê-la melhor nos seus contornos, nas suas questões e interrogações.
Independentemente do sucesso das manifestações previstas para este sábado convocadas via redes sociais pela auto-denominada "geração à rasca", o que se tem passado, colorido e ilustrado musicalmente pela música dos Deolinda, dá-nos matéria de sobra de reflexão. Outras ideias - ou o testemunho de outras abordagens - são certamente bem-vindas. Educar para os media é aprender a interrogar o modo como eles iluminam e dão sentido ao que se passa à nossa volta (ou, pelo contrário, contribuem para o ruído e o nevoeiro que já existe). Este fenómeno a que vimos assistindo (em que vimos eventualmente participando) envolve, em simultâneo, um grupo musical que tem sido ele próprio um fenómeno que cruza meios sociais; uma canção desse grupo erigida em estandarte; apropriação de redes sociais; discussão pública por diversos colunistas e posições antagónicas; campanhas de apoio mais ou menos disfarçado em alguns media tradicionais e reserva circunspecta da parte de outros. Que podemos aprender de tudo isto?
Comecemos por ouvir - com gozo e com atenção - a música.


Parva que Sou - Deolinda 

Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar, que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

DEOLINDA, Parva que sou

Pistas para debater:
  • Socialmente, quem é aqui caracterizado? Trata-se de uma situação generalizada ou característica de certos ambientes (classes) sociais?
  • Qual o grau de correspondência entre a descrição feita na canção e a realidade?
  • Como caracterizar as reacções e comentários veiculadas pelos media acerca da canção dos Deolinda? Inscreve-se em algum desses tipos de reacção o célebre editorial de Vicente Jorge Silva, no Público dos anos 90, intitulado "Geração rasca"?
  • Como e em que contexto se tornou a canção uma espécie de 'hino' de uma certa geração ou segmento dela? Que outros casos idênticos podem ser identificados no passado?
  • O movimento que se gerou através do Facebook, designado Protesto da Geração à Rasca, de que forma tem tirado partido das redes sociais? Com que dimensões e resultados? 
  • Como têm os media tradicionais reagido e lidado com esse movimento?

Paradigmas educacionais e pensamento divergente

terça-feira, março 08, 2011

O andaime e a construção


Se se traduzisse em tempo corrido o contacto diário das pessoas com os media – em particular os mais novos e os mais idosos - ir-se-ia encontrar um valor grosso modo equivalente a um emprego a tempo inteiro.
Não é apenas questão dos meios convencionais – imprensa, rádio, televisão, cinema – mas igualmente daqueles que se têm vindo a inscrever nas rotinas do quotidiano: o telemóvel, a Internet, os videojogos …
Pelos dados disponíveis sobre os mais novos, verificamos que, nos últimos dez anos, o consumo de televisão não se alterou significativamente, sendo superior a duas horas diárias, em média. Não conhecendo nem férias nem fins de semana. Mas, entretanto, na faixa dos 10-15 anos, 91% passaram a aceder à Internet com uma regularidade praticamente diária.
Os dados do INE indicam que são diversificados os usos que esses adolescentes adoptam na web. À cabeça surge, destacada, a realização de trabalhos escolares, o que, em muitos casos, significa uma coisa muito simples: “ir ao Google”, digitar uns termos de pesquisa e copiar e colar o que vier à rede. Recentemente, numa escola, a um pedido da professora para que os alunos pesquisassem sobre Gil Vicente, o que “veio à rede” e chegou às mãos da docente foi informação acerca do clube de futebol com o nome do grande dramaturgo.
Esta ‘cultura do copy-paste’ deveria ser urgentemente objecto de um plano de acção que ajudasse os mais novos (e os mais velhos) a saber pesquisar a informação na Internet, a olhar com atenção para as fontes, a avaliar a sua pertinência e validade. De outra forma, sob a capa do modernismo e da inovação, estar-se-á a formar analfabetos e trogloditas. E o que se diz da informação da web diz-se dos restantes media, relativamente aos quais a ignorância e a vulnerabilidade (e, por conseguinte, os riscos) não são menores.
Programas como o e-Escolas ou e-Escolinhas quiseram massificar o acesso aos computadores portáteis e à banda larga, sob o pretexto da inclusão (não falemos agora da razão mercantil). Isso naturalmente é bom e necessário. Mas fica-se normalmente por aí e quase ninguém faz as perguntas (óbvias) seguintes: “ e para fazer o quê?” e “com que formação dos docentes?”. Daí que aqueles programas deixem o sabor amargo a obra por fazer. É como se se montasse os andaimes para uma construção e se tomasse aparato dos andaimes pela própria obra a construir.

(Coluna quinzenal do diário digital Página 1, de 07.03.2011)

domingo, março 06, 2011

Michel Serres: "Os novos desafios da educação"


Numa sessão solene realizada na passada semana, na Académie Française/Institut de France, sobre "Os novos desafios da educação", o filósofo Michel Serres pronunciou um discurso que, concorde-se ou não com as ideias do autor, merece ser referenciado, lido e discutido.
A pergunta inicial dá o mote e coloca, desde logo, uma questão-base:
"Avant d’enseigner quoi que ce soit à qui que ce soit, au moins faut-il le connaître.
Qui se présente, aujourd’hui, à l’école, au collège, au lycée, à l’université?".
Tópicos da resposta de Serres à pergunta que formula:

  • - Il habite la ville.
  • - Son espérance de vie est, au moins, de quatre-vingts ans.
  • - Ils n’ont plus le même corps ni la même conduite
  • - Alors que leurs parents furent conçus à l’aveuglette, leur naissance fut programmée.
  • - Pour eux et leurs enseignants, le multiculturalisme est de règle
  • - N’habitant plus le même temps [que leurs ancêtres], ils entrèrent dans une autre histoire.
  • - Ils sont formatés par les médias, diffusés par des adultes qui ont méticuleusement détruit leur faculté d’attention
  • - Ils habitent donc le virtuel.Ils n’ont plus la même tête.
  • - Ils n’habitent plus le même espace.
  • - Il ou elle écrit autrement.
  • - Ils ne parlent plus la même langue.

O filósofo alude, depois, ao fenómeno da "individualização". O indivíduo, conceito que para ele foi criado por Sâo Paulo, no início da nossa era, adquire agora todo o seu vigor. As entidades colectivas às quais outrora se pertencia, de uma maneira ou de outra, foram todas explodindo. E, assim:
"L’individu ne sait plus vivre en couple, il divorce ; ne sait plus se tenir en classe, il remue et bavarde ; ne prie plus en paroisse ; l’été dernier, nos footballeurs n’ont pas su faire équipe ; nos politiques savent-ils encore construire un parti ? On dit partout mortes les idéologies ; ce sont les appartenances qu’elles recrutaient qui s’évanouissent".
Não se pense, contudo, que o balanço é necessariamente negativo. Para Serres faz falta "inventar novos laços", de que o Facebook poderia ser um sinal. Este desafio leva o autor a comprar os tempso que vivemos à revolução do Neolitico, em que tudo - o regime de vida, as fontes da economia, os laços da sociedade - tudo mudou.
Desfazem-se e refazem-se as relações de temo e de espaço. As instituições tradicionais de transmissão do saber esvaziam-se de sentido perante a distribuição em rede do conhecimento: ""a pedagogia muda completamente com as novas tecnologias".

Por onde avançar? Pelos caminhos da criatividade:
"Face à ces mutations, sans doute convient-il d’inventer d’inimaginables nouveautés, hors les cadres désuets qui formatent encore nos conduites et nos projets. Nos institutions luisent d’un éclat qui ressemble, aujourd’hui, à celui des constellations dont l’astrophysique nous apprit jadis qu’elles étaient mortes déjà depuis longtemps.
Pourquoi ces nouveautés ne sont-elles point advenues ? J’en accuse les philosophes, dont je suis, gens qui ont pour métier d’anticiper le savoir et les pratiques à venir, et qui ont, comme moi, ce me semble, failli à leur tâche. Engagés dans la politique au jour le jour, ils ne virent pas venir le contemporain. Si j’avais eu, en effet, à croquer le portrait des adultes, dont je suis, il eût été moins flatteur".

Ler o texto completo: AQUI

quinta-feira, março 03, 2011

Declaração de Bruxelas sobre Educação para os Media

Acaba de ser publicada a "Declaração de Bruxelas" sobre Educação para os Media, surgida na sequência de uma conferência europeia que teve lugar em Bruxelas, em 2 e 3 de Dezembro passado, por iniciativa do Conseil Supérieur de l'Education aux Médias e no quadro da presidência belga da União Europeia.
O texto, que pode ser subscrito por qualquer interessado (aqui), encontra-se disponível em francês (ver texto abaixo) e inglês.

DECLARAÇÃO DE BRUXELAS

«La politique européenne d’éducation aux médias traverse une phase cruciale d’émergence qui nécessite de croiser les expériences et d’échanger les bonnes pratiques dans le cadre d’un dialogue ouvert. C’est pourquoi les jeudi 2 et vendredi 3 décembre 2010, 300 spécialistes issus de plus de 30 pays européens et extra-européens se sont réunis à Bruxelles afin de participer à la conférence internationale “L’Education aux Médias pour tous” organisée par le Conseil Supérieur de l’Education aux Médias de la Communauté française de Belgique, dans le cadre de la Présidence belge du Conseil de l’Union européenne.

La conférence “L’Éducation aux Médias pour tous” a réuni les acteurs concernés par la mise en œuvre de l’éducation aux médias tout au long de la vie: animateurs, éducateurs, enseignants, formateurs, responsables d’industries et d’institutions médiatiques, d’organisations éducatives (scolaires et non scolaires), responsables des politiques éducatives, institutions de recherche…

L’objectif de cette conférence européenne était de relier les expériences pratiques et les recommandations politiques afin de stimuler la mise en œuvre de l’éducation aux médias tout au long de la vie, au bénéfice de tous les citoyens européens. Ces travaux ont abouti à la « Déclaration de Bruxelles pour l’Éducation aux Médias tout au long de la vie », rédigée en collaboration avec les 8 experts internationaux qui ont accompagné l’ensemble de la conférence.

Cette déclaration prend en considération :

  • La définition de l’éducation aux médias telle que définie dans la recommandation 2009/625/CE de la Commission du 20 août 2009 sur l'éducation aux médias dans l'environnement numérique pour une industrie de l'audiovisuel et du contenu plus compétitive et une société de la connaissance intégratrice. L’éducation aux médias y est définie comme étant « la capacité à accéder aux médias, à comprendre et apprécier, avec un sens critique, les différents aspects des médias et de leurs contenus. L’éducation aux médias comprend également la capacité à communiquer dans divers contextes. ». Elle ne se limite donc pas aux seules questions d’accès et englobe tous les médias. « Elle vise à sensibiliser davantage les gens aux diverses formes que peuvent prendre les messages médiatiques dans leur vie quotidienne. Par messages médiatiques, on entend les programmes, films, images, textes, sons et sites internet qui sont fournis par divers moyens de communication. »
  • La définition de la « littératie médiatique », qui désigne l’ensemble des compétences informationnelles, techniques, sociales et psychosociales exercées par un utilisateur, lorsqu’il consomme, produit, explore et organise des médias.
  • La nécessité d’intégrer l’éducation aux médias dans le cadre d’une éducation et une formation tout au long de la vie, telle que définie par les cadres de références européens (stratégie de Lisbonne et le cadre stratégique « éducation et formation 2020 »). Il s’agit de permettre aux personnes, à tous les stades de leur vie, de participer à des expériences d'apprentissage stimulantes et contribuer à développer le secteur de l'éducation et de la formation en Europe.
  • La nécessité de garantir l’accès des citoyens à une diversité médiatique, au-delà des mécanismes de marché, le cas échéant par une intervention des pouvoirs publics lorsque cette diversité se trouve menacée.
Les travaux préparatoires à la présente déclaration ont démontré qu’il est nécessaire de considérer que les différences de conception relatives à l’éducation aux médias sont des richesses qui nécessitent dialogues et réflexions et non des solutions hâtives destinées à éviter les débats.

Cette déclaration a pour objectif de proposer un ensemble de recommandations relatives aux actions éducatives à mener, aux compétences médiatiques de tout citoyen à développer, à l’accès du citoyen à l’éducation aux médias, à la recherche et aux politiques européennes. La mise en œuvre de ces recommandations concerne les niveaux locaux autant que régionaux, nationaux ou européens.

Recommandations


I. Mener des actions éducatives aux médias

  1. Inscrire l'éducation aux médias en tant que mission d’intérêt général qui relève de politiques publiques ambitieuses et de mécanismes de financement public volontariste dans le respect de l’autonomie opérationnelle des bénéficiaires.
  2. Développer et promouvoir différentes pédagogies adaptées à chaque public, à tous les âges de la vie, à différents contextes sociaux et culturels.
  3. Favoriser la production et la diffusion des ressources pédagogiques en éducation aux médias adaptées à des groupes spécifiques de bénéficiaires.
  4. Pourvoir les milieux scolaire et associatif en équipements adéquats aux pratiques d’éducation aux médias.
  5. Développer une formation en éducation aux médias à destination des professionnels des médias.
  6. Identifier et mettre en œuvre, pour chaque action éducative, des critères qualitatifs et quantitatifs d’évaluation.
  7. Garantir la diversité médiatique par un dispositif adéquat comprenant des moyens publics et privés notamment à l’égard des partenaires médiatiques utiles pour les éducateurs aux médias.
II. Développer des compétences médiatiques de tout citoyen

  1. Identifier et assurer la mise à jour d’un éventail large de compétences médiatiques nécessaires, tout au long de la vie, pour toute personne, portant sur l’ensemble des médias.
  2. Valider ces compétences à travers un processus concerté incluant la société civile.
  3. Adapter cet éventail de compétences médiatiques aux différents acteurs et intervenants de l’éducation et de la formation, en fonction du rôle qu’ils ont à assurer.
III. Promouvoir l’accès du citoyen à l’éducation aux médias
  1. Accroître la sensibilité des citoyens envers l'éducation aux médias à travers, par exemple, la mise en place d’une journée européenne de l'éducation aux médias, d’une semaine européenne de l’éducation aux médias à l'école...
  2. Promouvoir la visibilité publique des actions d’éducation aux médias.
IV. Développer la recherche en éducation aux médias et en littératie médiatique

  1. Soutenir des recherches approfondies permanentes sur:
  • l'appropriation des médias par les groupes sociaux et les communautés, à tous les âges de la vie,
  • l'évolution des pratiques formelles et informelles d'éducation aux médias.   
    V. Mener des politiques d’éducation aux médias 
    Exécuter sans tarder la résolution du Parlement européen du 6.11.2008 qui souhaite que: «la compétence médiatique soit inscrite en tant que neuvième compétence clé dans le cadre de référence européen pour l'éducation et la formation tout au long de la vie, conformément à la recommandation 2006/962/CE»

    terça-feira, março 01, 2011

    "Em que lugar estamos na 'Agenda Digital'?"

    Acaba de sair um press release da Comissão Europeia, mais concretamente da vice-residente da Comissão Europeia para a Agenda Digital, Neelie Kroes, que faz o ponto de situação do plano 'Agenda Digital', um programa que procura dotar a Europa de melhores recursos e competências digitais. Aqui ficam algumas ideias desse relatório:

    Enquadramento...

    «The agenda was adopted nine months ago, and reflects an important change of mindset for the European Union. It is a very blunt recognition of the need for the EU's institutions to work in new ways to add the value that industry, national governments and others rightly expect from us. Essentially we are working horizontally now. I mean this not only across the European Commission and other European institutions. We are working in partnership with others – be it industry, other government bodies, innovators and all those building up our skills base. We have developed a framework for the Digital Agenda to meet our goal of "every European Digital", but what we intend is a truly shared agenda. This is something that can only be delivered with your involvement.»

    As sete áreas do plano...

    «The seven pillars are:

    •Digital Single Market
    •Interoperability and Standards
    •Trust and Security
    •Very Fast Internet
    •Research and innovation
    •Enhancing e-skills
    •ICT for Social Challenges»

    Sobre a situação actual do programa...

    «As is essential in such a setting, my team and I are systematically monitoring progress. Therefore I can tell you that right now we are where we should be with 90% of the actions: 10% are already completed, and 80% are on track. Unfortunately the remaining 10% percent are delayed. We are not letting problems fester. We are working hard to get the delayed actions back on track and deliver as soon as possible. For the others, we will make the nature of the progress and challenges very clear in the first Digital Agenda Scoreboard, due out in May. But even for actions which are completed we have seen that sometimes the real work only starts when we have already ticked the box. For example in September last year we adopted the Broadband package. Broadband is Europe's digital oxygen, essential for our prosperity and well-being and it is the solid foundation that can get everyone online. A million jobs may depend on successful roll out of broadband. Not to mention Europe's wider prospects for economic growth and social cohesion. But having a broadband plan is different from having first class networks we can all use all the time. Europe needs better investment incentives and competition to get these networks rolled-out. Only a mix of the two will concentrate the resources and the energy needed for these investments and competitive broadband services.»

    Próximas tarefas...

    «In that spirit I place great importance on our publication in May of the first annual Digital Agenda Scoreboard. Here you will find greater detail on our progress, and where Member States are providing the engagement and support needed to make each policy a success. The picture is generally positive, but the details are also bound to cause a healthy debate about the years ahead. Related results are also encouraging. I'm particularly delighted that the proportion of the population regularly using the Internet has increased by 5% in a single year to 65%. The percentage of non-users has decreased from 30% to 26%. And significantly disadvantaged groups are also progressing. The digital divide may well be closing. Indeed, continuing progress at the current rate would result in achieving our targets in both areas well ahead of 2015.»

    Para consultar o relatório completo, aqui.