quinta-feira, novembro 24, 2005

A busca da comunicação na sociedade multi-ecrãs:
uma perspectiva ecológica
Manuel Pinto

Pensando sobretudo nos estudantes do mestrado, com quem não estarei amanhã, aqui deixo o texto-base da intervenção que preparei para o Congresso Hispano-Luso de Comunicação e Educação "A televisão que queremos: uma TV de qualidade", que decorrer em Huelva, de hoje até domingo.

congreso_huelvaDeixem-me começar por contar um pequeno episódio pessoal. Há um pouco mais de dez anos, estava eu a aguardar a discussão da minha tese de doutoramento sobre a televisão na vida quotidiana das crianças, quando me iniciei na descoberta e exploração da Internet.
Recorrendo ao browser que estava então na moda, o Netscape, e ao software Eudora, que utilizava para o correio electrónico, rapidamente me dei conta da novidade radical que estava a desenhar-se neste nosso mundo. Eu, que tinha feito boa parte da investigação apoiado numa bibliografia que era escassa no contexto em que me movimentava, descobria, de um momento para o outro, e a um ritmo quase alucinante, a pletora de novas fontes, a facilidade das trocas, a velocidade dos contactos e a eliminação de fronteiras de vários tipos. Num ápice ia desabando uma certa ordem espácio-temporal, para emergir, com todas as suas potencialidades, o espaço-tempo virtual, feito de redes e da multiplicação de pontos que, com relativa facilidade, se tornavam produtores e receptores de informação.
Recordo bem que, algo deslumbrado pela multiplicidade de portas que me parecia se estavam assim a abrir, se me foi desenhado um mal-estar que, por momentos se converteu em angústia, e que poderia traduzir-se no seguinte: teria eu gasto três anos da minha vida a estudar um meio que, num prazo relativamente curto, iria desaparecer, submerso pelos efeitos avassaladores da Internet?

Relato este episódio para sublinhar o significado de, dez anos depois da explosão do fenómeno Internet, um congresso promovido por um dos mais dinâmicos colectivos sobre Comunicação e Educação da cena internacional, ter escolhido precisamente a televisão e a qualidade para tema de estudo e de debate. É que, apesar das mudanças a que temos, entretanto, assistido, o meio televisivo mantém uma centralidade notória, particularmente enquanto instituição e instrumento social de entretenimento.
A história da difusão das tecnologias de comunicação e informação ensina-nos que um novo meio não desaloja os meios existentes, antes conquista o seu próprio espaço, levando à recomposição dos papeis relativos dos restantes. Com a Web e a Internet acontece, porém, que nós não estamos simplesmente perante a emergência de um novo meio de comunicação, mas também de um ambiente que abarca e conjuga lógicas diversas.
Torna-se, assim, claro que a minha angústia de há dez anos, a que atrás aludia, em certo sentido não tinha razão de ser. Mas, por outro lado, justificava-se, dado que era a vaga intuição de que estava em presença de algo de intrinsecamente novo.
A dez anos de distância, poderemos dizer que tudo mudou. Ao mesmo tempo, se olharmos para além da ?espuma dos dias? e procurarmos pelas respostas às questões fundamentais da existência, poderemos igualmente dizer que, no essencial, não avançámos muito. Na melhor das hipóteses, reconheceremos dispor de uma gama mais diversificada de tecnologias, o que, por si só, não assegura o cumprimento das promessas que elas normalmente arrastam consigo. Não se estranhe, por isso, que este texto, partindo da temática central deste congresso, procure recolocar questões menos conjunturais, porventura menos na moda, mas que eu creio serem cada vez mais vitais e decisivas. No quadro dos limites de uma intervenção deste tipo, começarei por relacionar o conceito de qualidade em televisão com a importância do serviço público. Reflectirei, a seguir, sobre a necessidade de requalificar o tema do entretenimento e de valorizar a dimensão emocional, para podermos entender a complexidade e centralidade do meio e da experiência televisivas. Termino com um contributo para uma abordagem ecológica da comunicação e dos media, identificando algumas vertentes que poderão contribuir para relançar e aprofundar as experiências de educação para os media no espaço luso-espanhol.

1. A qualidade em televisão ? conceito sempre dependente de sistemas de valores e interesses específicos - deverá ser vista menos como o resultado de uma definição pré-estabelecida e acabada e mais como um processo por natureza aberto, em que terão de intervir os responsáveis dos media, os criadores dos produtos televisivos e os telespectadores (Charo, 2000). Em todo o caso, ela parece ser inseparável da diversidade da oferta (vertical e horizontal), das condições de exercício do profissionalismo, da liberdade editorial e de programação e da efectivação de processos de accountability e de escrutínio público.
Enquanto processo não apenas dependente da lógica mediática, mas das exigências e interesses dos actores e grupos sociais, a qualidade entronca no cerne da função social da televisão e, consequentemente, da dimensão de serviço público, que não pode ser apanágio apenas dos operadores públicos. Apesar da crise que afecta o conceito de serviço público de televisão, entendo que dificilmente poderemos equacionar o problema da qualidade sem ter em conta essa dimensão.

Nas actuais circunstâncias faz sentido continuar a defender a existência de um serviço público de televisão autónomo do poder político e não enfeudado a uma lógica mercantil. Apesar das evoluções no plano das ofertas e apesar das mutações no terreno dos usos e das práticas socioculturais, a sua existência constitui um factor que potencia a qualidade. Desde logo porque instaura uma oferta desejavelmente diferenciada, ainda que insuficientemente posta em prática; porque convoca a corresponsabilidade dos cidadãos, os quais se sentirão perante ele mais exigentes; e porque torna possível pensar e pôr em prática novas modalidades de participação.
Observe-se, contudo, que a televisão de serviço público se diferencia como realidade específica, quando e na medida em que se assume como uma instituição da sociedade, agindo em estreita relação com as restantes instituições, vocacionada para lhes dar vez e voz, sem estar condicionada pelas exigências do sucesso, embora também não as enjeitando. É nesta relação de horizontalidade, dando corpo a um projecto de acção comunicativa de natureza mais interactiva, que vemos emergir o sentido da existência de um operador televisivo actuando em nome da comunidade e ao seu serviço.
Não basta, pois, a titularidade pública de um operador, a independência da sua acção e a definição de um certo tipo de conteúdos para que o canal ou canais assim operados se distingam de forma significativa dos operadores privados. Importa fazer dos media e, em particular da televisão, instâncias onde a participação e o escrutínio também se exercem. Impõe-se, assim, que, para enriquecer e aprofundar a vida democrática, a entidade pública de televisão defina e concretize um outro modo de estar presente na sociedade, explorando modalidades de comunicação que abram as portas às instituições, grupos e organizações da sociedade civil, às suas iniciativas, preocupações e situações. Isto é, que torne a televisão pública uma verdadeira televisão dos cidadãos (Pinto, 2005).

2. Neste contexto, seja-me permitido sublinhar um ponto que carece de análise e investigação, visto ser central na compreensão do papel da televisão nas nossas sociedades. Refiro-me à função de entretenimento e à relação desta dimensão com o problema da qualidade.
O projecto cultural atribuído à televisão desde os seus princípios plasmava-se, como bem sabemos, na trilogia informação-cultura-divertimento. Ainda hoje, as legislações nacionais e os normativos transnacionais continuam a enfatizar esta tríplice vertente. Mas desde o início, também, não poucos equívocos se geraram, na medida em que agentes culturais e políticos alimentaram, relativamente a ela, o sonho de uma ?escola paralela? que complementaria, repercutiria e ampliaria a escolarização formal, porventura de forma mais interessante, contribuindo, dessa forma, para a promoção cultural das populações.
A difícil convivência da intelectualidade e dos agentes educativos com a televisão assenta na incompreensão ou mesmo na não aceitação dos caminhos prevalecentes e, nas últimas décadas, hegemónicos, percorridos por este meio, cada vez mais distantes do paradigma escolar ou educativo. Este desencanto com a banalização da TV, com a sua inscrição no tecido e nas rotinas da vida quotidiana, combina-se, em algumas situações, com um síndrome de perda (Pinto, 2000) que se pode caracterizar como nostalgia de um tempo passado (e mitificado), ao qual se atribuem propriedades (de encontro, convivência, diálogo) que televisão teria contribuído para aniquilar.
A verdade é que o entretenimento se tornou a imagem de marca e o factor de identidade da televisão, que a comercialização crescente só veio exacerbar. Para os nostálgicos da televisão como ?grande educadora das massas? e como ?promessa de promoção e desenvolvimento cultural?, o saldo não podia ter sido mais desapontador.
Seja como for, a situação a que chegámos também não é satisfatória. Sobretudo porque ? e este é o ponto que pretendo enfatizar ? pode assentar não apenas num equívoco sobre a natureza e função do meio televisivo, mas também na incapacidade de valorizar o entretenimento. Tomado como mera diversão ou distracção, o entretenimento facilmente se converte em matéria menor e desinteressante, agente de alienação dos indivíduos, factor de adormecimento colectivo, em suma, uma versão contemporânea do velho ?ópio do povo?, tematizado por Karl Marx.
Ora ao associar-se entretenimento a subproduto culturalmente degradado ou, mais ainda, a alienação social e política está-se a desqualificar e a ilegitimar culturalmente uma realidade complexa e vital da experiência humana, em lugar de procurar analisá-la e compreender a sua relação com os telespectadores (cf. Blakley, 2001). É, no mínimo, problemático analisar e definir critérios operativos com vista à promoção da qualidade em televisão sem ter em conta esta vertente do problema.
Algo de aproximado se pode dizer das emoções. Como tem sublinhado Joan Ferrés (2003), um investigador catalão que se tem debruçado sobre esta matéria, ?a televisão é o reino da emoção?. Quase tudo nela trabalha, massaja e espevita o emocional: os signos visuais, formas, cores, sons e movimentos. A participação vicariante, os processos e mecanismos de identificação e de projecção que levam os telespectadores à imersão numa dada história e que resultam daquilo que Samuel Coleridge designou por ?suspensão voluntária da incredulidade? operam frequentemente ao nível subconsciente ou mesmo do inconsciente.
Com modelos teóricos que valorizam as dimensões lógica e racional e se traduzem em abordagens analíticas e críticas, não é de estranhar que escapem dimensões essenciais do fenómeno e da experiência televisivos, nas abordagens correntes que deles são desenvolvidos.
Tendo em consideração o que acabo de enunciar, a propósito da (des)valorização do divertimento e do acolhimento da dimensão emocional, a pergunta que emerge, neste nosso contexto, é a de avaliar as consequências que tudo isto comporta para a questão da qualidade.
Encontramos aqui um vasto campo que carece de mais atenção e que exige mais investimento no plano da investigação. As transformações que o meio televisivo vem conhecendo tornam, de resto, essa questão ainda mais relevante. A digitalização facilita a multiplicação do número de canais e o alargamento do leque das temáticas, sem que tal implique, por ora, uma redução significativa do peso dos canais generalistas de massas. Mas, com a combinação com diversos periféricos, o aparelho receptor foi adaptado ao papel de ecrã de cine-vídeo, primeiro, de monitor de jogos, depois, e mais recentemente, de plataforma para o visionamento de DVD.
Ao mesmo tempo, o computador pessoal, além das suas funções mais comuns, converteu-se num terminal ou ponto de uma rede global, permitindo o acesso aos media tradicionais e a novos media, acesso e gestão a música, jogos, bases de dados, etc.
Com estas novas possibilidades, a que a banda larga e o wifi vieram dar outra dimensão, altera-se igualmente a noção dos espaços de utilização. Ao lado do espaço doméstico ou do local de trabalho, voltam à cena os salões de jogos e, sobretudo, os cibercafés, locais de encontro e de convívio e pontos de ligação à rede.
A par deste fenómeno, e indissociável dele, não podemos deixar de olhar com atenção para outros media e outros suportes em que o ecrã constitui a porta de contacto com o mundo. O caso das máquinas foto-videográficas digitais é exemplificativo. Mas mais ainda o será o dos telefones celulares, que representa, para as telecomunicações o que o transístor representou, na segunda metade do século passado para a rádio, só que com uma polivalência e multifuncionalidade que não param de crescer, tendendo a abarcar as próprias emissões de televisão.

3. Considero que, num contexto de multiplicação das ofertas e das possibilidades, de crescimento exponencial dos dados e da informação, se torna decisivo não perder de vista o que é essencial e o que é secundário, o que é do plano dos instrumentos e das ferramentas e o que é do âmbito dos objectivos e das finalidades e dos caminhos para avançar para eles.
É frequente ver associar-se a interrogação sobre os desenvolvimentos tecnológicos e sobre a cibercultura a atitudes tecnofóbicas e à resistência à mudança. Como se estivéssemos fatalmente condenados à contraposição maniqueia entre tecnófilos e tecnófobos, entre o paraíso próximo e o pesadelo orwelliano, entre o canto da sereia e o pio da coruja.
Pelo contrário, considero ser absolutamente vital conquistar e expandir uma via que reconheça e valorize as novas formas de cultura e os novos modos de viver e de agir que se estão a gerar, mas que não sacrifique, no altar da inovação compulsiva e frenética, a busca incessante do sentido e da qualidade de vida. Seria a procura de espaço para uma espécie de ?terceira via? de natureza cultural que possibilite rasgar horizontes a uma nova inteligência do mundo e da vida, capaz de intervir no local, mas com uma compreensão e uma visão global.
E a busca do sentido passa por incluir e alimentar, na agenda permanente das ocupações e preocupações, a simplicidade de perguntas como estas:

a. Em que medida, ou mediante que requisitos e condições as tecnologias da informação e comunicação nos podem tornar mais felizes e solidários?
b. Que oportunidades e possibilidades trazem as TIC à vida individual, do grupo, da sociedade em geral? De que modo estão a ser aproveitadas e o que dificulta ou bloqueia esse aproveitamento?
c. Que possibilidades abrem as TIC ao encontro das pessoas consigo mesmas e com os outros?
d. De que forma estão as TIC a ser utilizadas para a construção de um meio ambiente simbólico pautado pela qualidade e pela diversidade?

São perguntas básicas, quase ingénuas, estas. Mas é necessário ter presente que as tecnologias, por informadoras que sejam dos novos modos de viver e de conviver, não perdem a sua natureza instrumental. A sua implantação e influência exerce-se num complexo jogo social, habitado por paradoxos e contradições. Sublinho alguns:

A agitação febril dos tempos que correm, alimentada e acicatada por um consumismo já desligado das reais necessidades das pessoas, gera, no seu interior, a sede do silêncio e do distanciamento ? ou seja, a necessidade do corte com as rotinas do dia-a-dia.
O espavento do ruído e o espectáculo encandeador das luzes da paisagem exterior não conseguem ofuscar a busca da tranquilidade e da luminosidade interior, que advém da contemplação e do gozo.
A comunicação total que, como mito perpassa os discursos da tecnologia e dos media, com a sua ilusão de transparência, de imediatismo e de instantaneidade, confronta-se em permanência com a experiência da incomunicação e da solidão.
A propalada aldeia global em que a parafernália de redes e de dispositivos tecnológicos aparentemente converteu o mundo debate-se com o crescente gap informacional, não apenas no plano do acesso, mas igualmente no do usufruto.

Não se trata, porém, de contrapor a uma determinada ?ordem? social e cultural uma outra ordem. É necessário, antes, sustentar a multipolaridade dos caminhos de busca de sentido e defender a inscrição da tensão entre os dois pólos como uma salvaguarda vital a uma ecologia da comunicação.
A tensão é o contrário da anomia ou do mainstream. É crítica, porque resulta da (ou instaura a) crise. Interroga. Toma o que se passa não como dado ou fatalidade, mas como convocação ou provocação.

4. Do que fica dito resulta que a multiplicidade e multiplicação de ecrãs e, sobretudo, os mundos a que esses ecrãs dão acesso ou dos quais são o ponto terminal, carecem de ser confrontados e contrastados com a globalidade da vida humana e social. Carecem de ser entendidos como instrumentos e agentes de um ecossistema global mais vasto.
Esta perspectiva ou concepção ecológica da comunicação e dos media parece ser, na actualidade, um caminho que vale a pena ser percorrido e explorado. Desde logo porque não faz sentido que os media, configurando uma instância tão pregnante e decisiva na produção e na construção do ambiente simbólico à escala planetária, sejam estudados e abordados de um modo desintegrado. Por outro lado, não faz também sentido que sejam deixados à margem das preocupações ambientais, como se o campo do simbólico não fosse tão decisivo para a qualidade de vida do planeta e das sociedades como os ecossistemas naturais e humanos.
Adoptar este paradigma ecológico supõe abrir espaço a um entendimento das práticas comunicativas não apenas na sua vertente informativa e transmissiva, mas igualmente na sua vertente relacional, dialógica e vinculadora.

São várias as implicações que daqui decorrem. Sublinharei em particular aqueles aspectos mais directamente relacionados com a educação para os media, entendida como formação para a cidadania.
Cabe, em primeiro lugar, chamar a atenção para o facto de o conceito de formação e de aprendizagem estar, cada vez menos, associado a um espaço institucional específico (a escola) e a um tempo próprio (o da infância e juventude). Estamos a assistir àquilo a que Joel de Rosnay chamou ?hibridação dos modos de acesso ao conhecimento e diversificação dos actores no ensino?. Quer a hibridação quer a diversificação podem ser aspectos com potencialidades. Mas nunca se poderá esquecer que ?a educação permanece fundamentalmente como uma interacção entre pessoas?. Ter presente este ponto é capital, num tempo em que os arautos dos efeitos demiúrgicos das máquinas não se cansam de anunciar cenários em que os aprendizes mais parecem os habitantes agrilhoados da caverna de Platão.
Importa que, num cenário e numa cultura do digital, a aprendizagem não se converta num saltitar tonto de sítio em sítio, num petiscar de elementos sem a perspectiva de um todo, numa acumulação de informação mais ou menos insignificante ou inútil, num sacrificar do sentido à forma e ao design
Numa cultura marcada pela aceleração e pela velocidade, pela profusão de estímulos e multiplicação das possibilidades de trajectórias, é necessário trabalhar, desde cedo e em permanência, dimensões como:
- o sentido (finalidades, objectivos, alcance) das aprendizagens, tendo em conta os projectos próprios e o destino comum
- a memória (os percursos feitos antes de nós e por nós) criando uma maior espessura temporal
- Os ?mapas e bússolas? que ajudam a situar, referenciar, planear e orientar trajectos (Delors, 1996).
O que há que acautelar a todo o custo é que a educação não se converta num percurso errático, num vaguear sem rumo nem sentido ou, então, numa divagação pré-formatada por caminhos pré-estabelecidos. A dimensão da interioridade (ou da interiorização), que carece ora do silêncio activo, nuns momentos, ora da troca implícita no ouvir e no falar não poderá deixar de acompanhar este processo.

5. Uma outra dimensão a que vale a pena dedicar atenção diz respeito às possibilidades abertas pelos novos media digitais, nomeadamente aqueles que se constituem ou são aproveitados como ?empowerment tools? dos cidadãos.
Vistos da perspectiva da promoção de sujeitos autónomos, solidários e críticos, meios como os weblogs, os foruns, os wikis, os RSS[1], os ipod, os VoIP[2] e certamente os telemóveis, cada vez mais polivalentes e multifuncionaisl, podem constituir ? e de facto estão já a constituir - ferramentas e oportunidades em iniciativas e projectos de criação, descoberta e participação[3].
Mas, de novo, assim como a inovação não acontece por haver computadores e acesso de banda larga à Internet que acontece a inovação, também não é por se recorrer àquelas novas ferramentas que a inovação acontece. Embora a lógica destes meios seja, conforme os casos, P2P (peer-to-peer, se quisermos, pessoa-a-pessoa) ou de redes sociais, torna-se necessário, para implementar aquilo que as ferramentas possibilitam, actos de vontade e de iniciativa dos actores sociais.
Nomeadamente os weblogs têm-se vindo a afirmar não apenas como oportunidade de concepção, produção e difusão ?planetária? de meios de comunicação ao alcance dos cidadãos, mas também como instâncias de escrutínio e seguimento crítico dos media tradicionais, dessa forma contribuindo para o aprofundamento da democracia e da cidadania também nesse terreno.

É, pois, com este pano de fundo de uma orientação ecológica na abordagem da comunicação e da tecnologia; do trabalho em torno dos mapas e das bússolas orientadoras dos percursos num universo de profusão caótica e magmática das ofertas; e do recurso intencional e criativo às novas ferramentas potenciadoras da iniciativa das pessoas que entendo que se pode continuar a aprofundar a teoria e a prática daquilo que começa a ser designado por alfabetização ou literacia digital[4].
Uma consequência desta orientação é que o próprio universo das tecnologias ? novas ou antigas ? tem de ser convertido em objecto de análise e de estudo, para desse modo contrariar os efeitos de naturalização ou de neutralidade que inquinam os discursos e as práticas do respectivo uso. A génese, contexto de emergência e processo de difusão dessas tecnologias; o seu impacte sociocultural; as modalidades de apropriação social; as lógicas políticas e mercantis associadas; as desigualdades no respectivo acesso e usufruto; os modos e contextos de utilização e os discursos sociais sobre as tecnologias ? eis alguns dos aspectos que carecem de ser examinados, tendo em mente o carácter instrumental das tecnologias para a vida humana e social.


Referências bibliográficas

Blakley, J. (2001) Entertainment Goes Global: Mass Culture in a Transforming World. Lear Center Entertainment Goes Global Project / USC Annenberg School for Communication, [http://learcenter.org/pdf/EntGlobal.pdf, consultado em 10.8.2005]
Delors, J. (coord.) (1996). L´Éducation: Un Trésor Est Caché Dedans. Paris: UNESCO e Éd. Odile Jacob, p. 91
Rosnay, J. de (2002) « Les risques de l?infopollution ». Transversales, Science Culture, Nouvelle série n°1, Mai.
[http://csiweb2.cite-sciences.fr/derosnay/articles/Tranversales_infopollution.html, consultado em 2.8.2005]
Pinto, M. (2000) A Televisão no Quotidiano das Crianças. Porto, Edições Afrontamento
Pinto, M. (coord.) (2005) Televisão e Cidadania ? Contributos para o Debate sobre o Serviço Público. Porto: Campo das Letras, 2ª edição.
Gutierrez Gomez, Ch. (2000) ?Televisión y calidad: Perspectivas de investigación y criterios de evaluación?. ZER ? Revista de Estudios de Comunicación, nº 9.
Ferres, J. (2003) ?Educación en Medios y Competencia Emocional?. Revista Iberoamericana de Educación, nº 32
Pérez-Tornero, J. M. (2004) Digital Literacy and Media Education: an Emerging Need - Forum on Digital Literacy. Portal eLearningeuropa. [, consultado em 15.5.2005]Gutierrez Martin, A. ; Hotmann, Armin (2002) Democracy, Multimedia Literacy and Classroom Practice. Mondial Verlag: Berlin
[1] Real Simple Syndication ou agregadores seleccionados de fontes informativas.
[2] Voice over Internet Protocol ou a possibilidade de conversar e comunicar através da Internet.
[3] O caso dos weblogs, que tenho utilizado, desde há três anos, como ambiente e instrumento de ensino e aprendizagem na Universidade, é, deste ponto de vista, de um alcance inegável, permitindo o acesso à palavra e à expressão individuais e de grupo e a criação e alimentação de redes de natureza vária.
[4] Para uma discussão destes conceitos, ver, nomeadamente, Alfonso Gutiérrez Martín (2002) e Jose Manuel Perez Tornero (2004).

terça-feira, novembro 22, 2005

Por um debate da televisão de qualidade no espaço público

Um grupo de investigadores do CICCOM - Centro de Investigação em Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve, coordenado pelo Prof. Vítor Reia Batista, traz hoje, no Público, um texto de opinião sob o título em epígrafe, que, pela estreita articulação com o âmbito deste blogue, transcrevemos na íntegra, com a devida vénia:

"Na sequência de um artigo aqui já publicado com a opinião de colegas da Universidade do Minho, lançando o debate sobre "a televisão no espaço público", propomos introduzir nesse debate um novo elemento - a Qualidade, ou seja, "a televisão de qualidade no espaço público". Em primeiro lugar, como matéria de reflexão em torno de possíveis conceitos de qualidade e da sua possível "utilidade". Em segundo lugar, como necessidade de desenvolvimento de um melhor estado de literacia dos media por parte dos consumidores e dos agentes mediáticos. E, por fim, como uma breve nota de reflexão e aviso.

1. A discussão sobre a qualidade da programação oferecida pelas televisões generalistas de sinal aberto, como é o caso da SIC e da TVI, mostra-se de grande relevância num momento em que se prepara a renovação das suas licenças. De acordo com dados da Media Planning Group, tanto a TVI quanto a SIC tiveram uma audiência média que rondou os 33 por cento no ano de 2004, o que significa que têm uma participação de 66 por cento do share da audiência televisiva média. No mesmo ano, os programas com maior tempo de antena foram os programas de ficção, com 34 por cento na SIC e 35 por cento na TVI. Estes dados permitem inferir que a discussão sobre a qualidade da programação poderia ser iniciada a partir de considerações a respeito dos géneros em que mais se investe devido ao seu alto consumo, ou seja, os géneros de ficção, o que, só por si, já seria uma questão bastante problemática. No entanto, ao invés de realçar os aspectos negativos da questão assim colocada, seria talvez mais produtivo propor parâmetros de qualidade, assentes numa série de princípios que poderiam nortear as futuras apostas na produção de programas de ficção pelas emissoras. Por exemplo, considerando que a televisão proporciona uma experiência colectiva e cria laços sociais entre diversas comunidades e sectores populacionais de características sociais, étnicas e etárias diversas, é necessário que a televisão crie narrativas que possam agregar valores na vida quotidiana dos telespectadores. As narrativas podem ser "úteis" em diferentes sentidos, como por exemplo, para entreter e desviar a atenção da realidade (as grelhas actuais são um bom exemplo disso) mas também para alertar para questões políticas, sociais e éticas de forma relativamente eficaz, como tem acontecido em alguns exemplos de projecção mediática internacional. Assim, o momento parece apropriado para pensarmos em boas formas de alargar o campo de debate à própria natureza da televisão para criar, contar e compartilhar narrativas que sejam "úteis" e que contribuam não somente para a democratização da sociedade, mas também para uma mudança de foco da completa banalização temática que assolou a comunicação social nos últimos tempos, especialmente no que toca aos géneros de ficcionais.

2. Neste sentido, parece-nos que, tão importante como discutir a televisão que se vê, será discutir o "ensinar a ver televisão". Trata-se, por um lado, de sensibilizar o público televisivo para as questões da qualidade mediática do mesmo modo que se procura sensibilizar os consumidores para uma atitude mais crítica e exigente em relação aos produtos que consomem em geral e, por outro lado, de empreender esforços no desenvolvimento de acções de pedagogia dos media, articuladas em estratégias de âmbito escolar e extra-escolar, nomeadamente para consumidores adultos, que contribuam para guiar o homo videns português a caminhos mais desenvolvidos de uma real literacia dos media. É com este objectivo que vários centros de investigação da Europa (entre eles o CICCOM) estão a desenvolver projectos em torno do compromisso comum de formar cidadãos suficientemente competentes para consumir e avaliar os media de uma forma crítica, consciente e autónoma (caso dos projectos: Carta Europeia para a Literacia dos Media e Competências Audiovisuais para os Cidadãos, entre outros). Logo, no debate público que venha a desenvolver-se sobre novas licenças de televisão, terá toda a razão de ser equacionar com igual destaque ambas as vertentes, consumista e crítica, da mesma questão, isto é, que género de televisão queremos nós, para termos um panorama televisivo de qualidade no nosso espaço público.

3. O espaço público terá sempre a qualidade resultante da intervenção de todos os agentes que ponteiam na esfera pública. Seremos mais cultos se granjearmos maiores índices de literacia a todos os níveis, seja no campo literário propriamente dito, ou no campo televisivo, onde somos grandes consumidores, mas completamente acríticos e até autocomiseradores. Assim, recomenda-se um simples exercício à futura entidade reguladora e aos agentes licenciados, públicos e privados, que demonstrem vontades auto-reguladoras, como já vem acontecendo num ou noutro caso de forma algo avulsa: Sentem-se comodamente com caderno e lápis (não se aconselha azul) e vejam com olhos de ver, ouçam com ouvidos de ouvir e vão tomando notas ao sabor dos impulsos mais imediatos durante umas boas horas de visionamento dos mosaicos de programação existentes (reality shows, telenovelas, videodiscos e até mesmo notícias) e se, ao relerem as notas tomadas, encontrarem um número significativo de recomendações do tipo com menção de linguagens e imagens chocantes, ou sexualmente explícitas, com números a corresponder a idades, ou desenhinhos para alertar os pais, os avós, etc... , se sentirem uma sensação de espírito aliviado, ou até mesmo de dever cumprido, então, melhor será recomeçarmos tudo do princípio porque por esse caminho não vamos lá. Se não acreditam, leiam algumas letras de hip hop, que a maior parte de nós (reguladores, produtores, académicos) desconhece (NWA, Public Enemy, 2Pac, 50 C, Boss AC,...) mas que os jovens de Paris e da Amadora conhecem bem e até já foram identificadas como um novo género: Edutainment. Fica o aviso".

domingo, novembro 20, 2005

Os media e os direitos das crianças

Hoje evoca-se o dia dos direitos das crianças. Completam-se 16 anos sobre a aprovação, por unanimidade, da Convenção dos Direitos das Crianças, pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
Sobre a relação entre esta matéria e o trabalho dos media, fica aqui a sugestão de leitura de uma publicação este ano editada pela UNICEF, intitulada "The Media and Children's Rights".
Da apresentação destaca-se:

"This handbook has been produced to help media professionals working on stories about children to appreciate the rights of children and encourage their participation in the mass media. It contains ideas and challenges for journalists, and for those seeking to obtain media coverage about children?s needs, problems, achievements and aspirations.
Its purpose is to generate responsible coverage of children, and the impact of adult behaviour and decisions on their lives. It has formed the basis of training programmes for journalists all over the
world, supported by UNICEF and the International Federation of Journalists.
Originally commissioned by UNICEF in 1999 to celebrate the tenth anniversary of the United Nations Convention on the Rights of the Child, this handbook is based on the practical experience of working journalists, and was devised by the UK-based media ethics charity MediaWise (formerly PressWise)."

sexta-feira, novembro 18, 2005

Colaboração Internacional na Internet - Guia do professor

Teacher's Guide to International Collaboration on the Internet
The Teacher's Guide
to International Collaboration was developed to help teachers use the Internet to "reach out" globally. These materials were prepared as part of the Department of Education's International Education Initiative.

I Encontro Internacional sobre Educação Audiovisual

Realiza-se nos próximos dias 5, 6 e 7 de Dezembro, em Santiago de Compostela, o I Encontro Internacional de Educação Audiovisual organizado pelo Consorcio Audiovisual da Galiza.
O Encontro destina-se a professores, alunos de cursos de educação e de comunicação, animadores socioculturais e profissionais dos media, entre outros, tendo como objectivos principais motivar os professores e as instituições para integrar o audiovisual no currículo escolar e encontrar formas de sensibilizar a comunidade em geral para esta necessidade educativa.
As inscrições encontram-se abertas até ao dia 25 do corrente mês e são gratuitas.
Para mais informações consultar: http://www.consorcioaudiovisualdegalicia.org/web/asp/index.asp?id_idioma=1&id_menu=8&int1=241&pagina=0

quinta-feira, novembro 17, 2005

Novo canal por cabo para os mais pequenos











A TV Cabo iniciou, na passada terça-feira, a emissão do Baby TV, um canal destinado a crianças até aos três anos de idade.
Disponível 24 horas por dia, o canal exibe programas com duração entre dois e dez minutos pensados e concebidos especificamente para os mais pequeninos. São disso exemplo o Baby Genius, que proporciona a descoberta de elementos da natureza (estações do ano, cores, e formas) através de efeitos visuais e de música; o First Baby Songs, que exibe uma compilação de canções populares cantadas em várias línguas por bébés; e ainda, entre muitos outros, o Paint me a World, uma ilustração da relação entre objectos do universo dos bebés e do mundo dos adultos.
Pelo visionamento de alguns programas e pela análise da grelha de programação, este novo canal pode ser uma mais valia para os telespectadores mais pequenos, um público que começa a ver e a aprender a ver televisão.
De referir que a RTP, através do canal :2, tem também revelado alguma preocupção com as crianças até aos três anos, dedicando-lhes há já algum tempo um espaço na grelha de programação para a infância.
O Baby TV, oferecido no pacote Funtastic Life da TV Cabo, está disponível apenas em inglês, esperando-se que surja, em breve, a dobragem para a língua portuguesa.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Geração W - Educação e Media



Realiza-se amanhã, durante todo o dia, no Fórum da Maia, o seminário "Geração W ? Educação e Media", uma iniciativa que visa reflectir sobre o universo mediático e suas repercussões junto dos mais jovens, procurando contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico face aos media.
"A comunicação em comunicações ? Geração W à volta da mesa" é o tema do painel da manhã, com Manuel Pinto, Professor da Universidade do Minho; Eduardo Cintra Torres, Crítico de TV e Media; Paulo Arbiol, Locutor de rádio; Isabel Stilwell, Jornalista de imprensa escrita e Maria Emília Brederode Santos, CNE / Ministério da Educação. O segundo painel, à tarde, incidirá sobre "Tecnologia, aprendizagens e afectos ? Geração W em conversa" e contará com Luís Valente, Projecto SeguraNet / Ministério da Educação; Rui Pacheco, Director do Centro Multimédia da Porto Editora; Rui Abrunhosa, Psicólogo e Professor da Universidade do Minho; Vânia Fernandes, Psicóloga e Coordenadora e Técnica Superior de Educação Sexual e ainda Vasco Trigo, jornalista e apresentador da R.T.P.
"Se o olhar é construído também pode ser ensinado"

"O livro parte um pouco da ideia de que o olhar é uma coisa construída e fabricada das mais diversas maneiras, desde os óculos e das lentes à televisão, ao cinema, à fotografia..." É uma primeira definição de José Carlos Abrantes para o livro A Construção do Olhar.
(...)
Na introdução do livro, José Carlos Abrantes traça alguns aspectos da evolução do olhar e sublinha que "as imagens fabricam ilusões".Ao DN explicou que "as pessoas tomam a imagem pela realidade" e "é importante desconstruir as imagens para as pessoas passarem a ter um distanciamento crítico". Até porque "se o olhar é construído, ele também pode ser ensinado". Abrantes sublinha ainda que tem havido uma evolução no olhar. Desconstruir as imagens permite pois tornar os indivíduos "mais aptos para analisar o mundo".

Diário de Notícias, 16.11.2005

segunda-feira, novembro 14, 2005

A representação do sexo e da relação sexual na TV

Várias foram as referências feitas, nos últimos dias, aos resultados do estudo "Sex on TV 2005 - a Kaiser Foundation Report". Quase ninguém, contudo, foi directamente à fonte, possibilitando o acesso ao próprio relatório. E, no entanto, trata-se de uma matéria que, ainda que relativa à realidade norte-americana, reveste um significado muito mais amplo e interessa a quem acompanha a realidade televisiva em Portugal.
O site da entidade financiadora inclui informação sobre a metodologia seguida por este estudo, assim como um link directo para as respectivas conclusões.
É destas que destaco este ponto:
"In 2004-05, 70% of the composite week sample of nearly 1,000 programs included some sexual content, either talk about sex or portrayals of sexual behavior. The programs that contained sexual content averaged 5.0 scenes per hour that involved sexual themes or topics. In purely statistical terms, this means that the base of programs that convey sexual messages has increased by exactly 25%, while at the same time the amount of scenes with sexual topics in those shows has risen 56% since 1997-98. These factors are multiplicative. Indeed, the total number of sexual scenes identified in our sample has nearly doubled (96% increase) since the study began, while the number of programs examined has remained virtually identical over time (N=942 in 1997-98, N=959 in 2004-05). Thus, the clear conclusion is that television?s treatment of sex has expanded dramatically in recent years."
Novo blogue sobre educação para os media

Educação para os Media é o nome de um novo blogue criado pelo professor Vitor Relvas, que procurará apresentar abordagens "equilibradas, ou seja, não destacando apenas a parte mais negativa dos media mas também realçando os seus aspectos positivos". "Claro que irei abordar a violência nos media, o cyberbullying, a segurança na Internet, mas acima de tudo pretendo dar alguns modestos contributos para que os meus leitores/leitoras possam desenvolver estratégias que lhes permitam melhor enfrentar ou prevenir eventuais problemas que surjam na sua vida familiar ou escolar", afirma o autor na declaração de intenções.
(Saudando, embora, esta iniciativa, é de estranhar que havendo já um blogue intitulado Educação para os Media, embora inactivo desde 2004, o serviço do Blogspot admita outro com o mesmo nome).

sábado, novembro 12, 2005

TV: a pastilha elástica dos olhos

"(...) en oscillant sans cesse entre charlatanerie et délire de masse, la télévision est omniprésente dans nos vies. Un peu trop, au goût de certains, comme Gérard Depardieu qui déclarait à Paris Match en 1998 : "Avant il y avait les mouches, maintenant il y à la télévision". ;-) En réalité, la petite lucarne s'occupe surtout de nous faire rire, rêver et penser. C'est bel et bien notre nourriture spirituelle à tous. Ce qu'il en reste ? Une trace émotionnelle. Autrefois, les gens se levaient et scrutaient le ciel par la fenêtre, aujourd'hui on regarde la météo la veille : la télévision désormais fait la pluie et le beau temps. Elle fabrique de la réalité, de l'existence, de l'expérience. La télévision joue avec le réel, et met entre la vie et nous un écran sur lequel ne s'agitent que des ombres. Des ombres... comme celles qui apparaissaient sur les parois de la caverne de Platon (...)
"(...) L'Education nationale dispense bien des enseignements civiques, sportifs ou nutritionnels, alors pourquoi pas des cours de zapping ? Je suis convaincu qu'il serait utile de donner aux lycéens des éléments tangibles sur le paysage audiovisuel, sur le fait que chaque plage horaire rassemble un type de spectateurs particulier, d' apprendre à décoder une réclame ou un JT, de leur permettre de comprendre la différence entre télé-réalité et télé-tout-court, de mieux cerner les notions de publicité mensongère ou d'objectivité éditoriale... Bref, je suis certain que non seulement ce serait bénéfique, mais en plus ça pourrait être amusant (...)".
OEF, Agoravox, 12.11.2005
Relatório sobre a situação da alfabetização no mundo

Foi ontem apresentado em Londres, no âmbito do programa da UNESCO EFA - Education for All. Está disponível online.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Por um debate da televisão no espaço público

Um grupo de investigadores do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho assinaram, no jornal Público, um texto de opinião sobre o processo de renovação das licenças de televisão. Transcrevemos:

"O processo de renovação das licenças de televisão que está em curso não pode, em nosso entender, limitar-se a uma decisão meramente administrativa. Deveria ser, antes, uma oportunidade única para suscitar o debate público acerca daquilo que a SIC e a TVI fizeram nestes 15 anos - tendo como elemento de referência as obrigações que expressamente assumiram nos alvarás de concessão das licenças - e traçar novos rumos para o audiovisual. Rumos que garantam a existência de canais generalistas, tal como se prevê na Lei da Televisão, e promovam uma TV de qualidade. Será este o momento de convocar os telespectadores enquanto cidadãos que são confrontados com uma programação que está longe de ser generalista.
1. Sendo a renovação das licenças de televisão uma competência da entidade reguladora, neste caso da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS), tal como prevê a lei, não está em causa a legitimidade desse órgão para a condução do processo. Não obstante, discordamos do modo como ele tem sido conduzido na prática: marcado pelo secretismo e por uma espiral de silêncios que inviabilizam qualquer participação das mais diversas entidades. Na abertura do IV Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, que decorreu em Aveiro nos dias 20 e 21 de Outubro, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, afirmou que a renovação das licenças de televisão "não é um processo automático", mostrando-se favorável à respectiva discussão pública. Tal iniciativa, decerto benéfica, só pode competir à entidade reguladora, que, até ao momento, não deu qualquer sinal nesse sentido. Se os canais generalistas se dirigem a todos os portugueses, usando para isso uma concessão pública, seria lícito esperar que a entidade formalmente responsável pela decisão sobre a renovação das licenças auscultasse a opinião pública e não se confinasse ao silêncio dos seus gabinetes.
2. Num "parecer prévio sobre os processos de candidatura dos canais privados de televisão", datado de 8 de Agosto de 1991, a AACS considerava, na altura, o projecto da SIC "equilibrado, quantitativamente prudente e qualitativamente exigente" e o da TVI "mais modesto, quantitativamente moderado e qualitativamente menos exigente em que a predominância da defesa dos valores do humanismo cristão influencia coerentemente o conteúdo e o estilo dos programas". Quinze anos depois, que avaliação se faz da oferta televisiva da SIC e da TVI? Que estudos foram feitos para essa ponderação? Com que base científica? Segundo que critérios? Com que auscultação dos cidadãos?
3. Segundo o artigo 10º da Lei de Televisão (Lei n.º 32/2003, de 22 de Agosto), os canais generalistas devem "contribuir para a informação, formação e entretenimento do público"; "promover o exercício do direito de informar e de ser informado, com rigor e independência, sem impedimentos nem discriminações"; "favorecer a criação de hábitos de convivência cívica própria de um Estado democrático e contribuir para o pluralismo político, social e cultural"; "promover a cultura e a língua portuguesas e os valores que exprimem a identidade nacional". De que forma têm a SIC e a TVI cumprido estas obrigações, nomeadamente no horário nobre, que é a franja que abrange maior número e mais diversidade de telespectadores para os quais as estações generalistas trabalham?
4. A televisão é um assunto demasiado sério para ser remetido ao silêncio dos gabinetes e a qualidade dos canais generalistas tem vindo a degradar-se de tal modo que, a não ser travada, provocará fracturas socioculturais sérias num futuro próximo. Tão importante como avaliar agora o que se fez nestes 15 anos, será imprescindível produzir, para futuras concessões, um novo e mais eficaz caderno de encargos que oriente as empresas e que sirva de referência à (futura) entidade reguladora.
5. A AACS, que deu alguns sinais de vida no último ano, parece estar a seguir, num caso tão transcendente como a renovação das licenças dos operadores privados de televisão, um caminho muito afastado dos cidadãos. É, neste momento, um organismo prestes a ser substituído pela nova Entidade Reguladora dos Media. Os dossiers e as preocupações relativas à televisão de sinal aberto não caducam com esta mudança. Por isso nos dirigimos também a quem ainda não conhecemos, para que faça dos media e do seu papel no espaço público uma matéria aberta à participação alargada dos cidadãos. Para que a democracia e o exercício da cidadania não se esgotem no depositar de um boletim de voto dentro de uma urna, de quatro em quatro anos.

(Texto assinado por Moisés de Lemos Martins, Manuel Pinto, Helena Sousa, Felisbela Lopes, Joaquim Fidalgo, Luís Santos, Helena Gonçalves, Helena Pires, Madalena Oliveira)

terça-feira, novembro 08, 2005

Os autores de blogues e a deontologia

Uma das questões mais delicadas para quem descobre, de repente, que pode publicar na Internet de forma expedita e simples - como ocorre com os blogues - diz respeito aos direitos e deveres de quem acede ao espaço público. Faz falta uma espécie de carta deontológica dos "blógueres". Foi isso que o CLEMI (Centre de Liaison de l'Enseignement et des Moyens d'Information) procurou fazer, num folheto dirigido aos alunos. Eis alguns exemplos daquilo que não se pode escrever na Internet, sem ficar sujeito às consequências previstas na lei:

"- 'Lia est une grosse vache', voilà une injure!
- 'Naxo pique dans la caisse', c?est une diffamation, tant que ce n?est pas prouvé!
- 'Appelez tous le prof ce soir, son numéro de téléphone c?est 00 11 12 13 14', voilà une atteinte à la vie privée!
Tous ces propos sont des délits! Inciter à la haine raciale, faire circuler des fausses nouvelles sont aussi punis par la loi! Si Lia ou Naxo te poursuivent en justice, tu risques d?être condamné à payer une amende, toi ou tes parents si tu es mineur!".
Mais informações no site: Droit du Net.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Modelos de comunicação e de educação:
sob o signo de Mario Kaplún


Leituras de apoio em torno da aulda de hoje

quinta-feira, novembro 03, 2005

Leituras

David Buckingham. The Media Literacy of Children and Young People - A review of the research literature. London: OFCOM

David Buckingham (2003). MEDIA EDUCATION AND THE END OF THE CRITICAL
CONSUMER
. Harvard Educational Review, vol. 73(3) 309-328

David Buckingham; Andrew Burn. TEXTUALITY IN VIDEO GAMES: INTERACTIVITY, NARRATIVE SPACE AND ROLE PLAY - FINAL REPORT

Elisabeth Daley. Expanding the Concept of Literacy

Livingstone, S. (2002) Children?s use of the internet: reflections on the emerging research
agenda
.

Livingstone, S.; Magdalena Bober. Regulating the internet at home: Contrasting the perspectives of children and parents

Sonia Livingstone; Elizabeth Van Couvering; Nancy Thumim. Adult Media Literacy - A review of the research literature. OFCOM