Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media
Esta declaração foi aprovada unanimemente pelos representantes de 19 nações durante o Simpósio Internacional sobre Educação para os Media da UNESCO, organizado na cidade de Grünwald, da então República Federal da Alemanha, em 1982, faz precisamente hoje 30 anos. É considerado um dos documentos de referência na área e, apesar das transformações entretanto verificadas no campo comunicacional e mediático, não deixa de merecer destaque a pertinência e lucidez das suas propostas.
Vivemos num mundo onde os media são omnipresentes: um número cada vez maior de pessoas passa períodos significativos a ver televisão, ler jornais e revistas, tocar discos e ouvir rádio. Em alguns países, por exemplo, as crianças já passam mais tempo a ver televisão do que na escola.
Em vez de condenar ou apoiar o inquestionável poder dos media, precisamos de aceitar o seu impacto significativo e a sua penetração pelo mundo como um facto consumado, valorizando ao mesmo tempo a sua importância como elemento de cultura no mundo moderno. O papel da comunicação e dos media no processo de desenvolvimento não deve ser subestimado, tal como não deve ser subestimada a função desses meios como instrumentos ao serviço da participação activa dos cidadãos na sociedade. Os sistemas político e educativo devem reconhecer as suas respectivas obrigações na promoção de uma compreensão crítica do fenómeno da comunicação entre os seus cidadãos.
Lamentavelmente, a maioria dos sistemas educacionais não-formais e informais pouco faz para promover a educação para os media ou a educação para a comunicação. Muito frequentemente, o fosso entre a experiência educacional que oferecem e o mundo real no qual as pessoas vivem é perturbadoramente amplo. Mas se os argumentos a favor da educação para os media como preparação para a cidadania responsável são agora formidáveis, no futuro muito próximo, com o desenvolvimento de tecnologias da comunicação tais como a radiodifusão via satélite, sistemas de cabo de duplo sentido, sistemas de dados via televisão, videocassetes e materiais gravados em CD, eles deverão tornar-se irresistíveis, dado o crescente grau de escolha para o consumo de media gerado por esses desenvolvimentos.
Os educadores responsáveis não ignorarão esses desenvolvimentos, mas trabalharão em conjunto com os seus alunos para os compreender melhor e retirar algum sentido de consequências tais como o rápido desenvolvimento das comunicações nos dois sentidos e a consequente individualização do acesso às informações.
Isto não quer dizer que se deve subestimar o impacto sobre a identidade cultural do fluxo de informação e das ideias entre culturas proporcionado pelos media de massa.
A escola e a família partilham a responsabilidade de preparar os mais jovens para viverem num mundo de poderosas imagens, palavras e sons. Crianças e adultos precisam de ser alfabetizados em todos esses três sistemas simbólicos e isso requererá uma reavaliação das prioridades educacionais. Tal reavaliação poderá muito bem resultar numa abordagem integrada para o ensino de linguagens e da comunicação.
A educação para os media será mais eficaz quando pais, professores, profissionais dos media e decisores políticos, enfim todos reconhecerem que têm um papel a exercer no desenvolvimento de uma maior consciência crítica entre ouvintes, espectadores e leitores. A maior integração dos sistemas educacional e de comunicação seria indubitavelmente um passo importante para uma educação mais eficaz.
Assim, convocamos as autoridades competentes para que:
1. iniciem e apoiem programas de educação para os media abrangentes - do pré-escolar ao nível universitário, e na educação de adultos - cujo objectivo seja desenvolver os conhecimentos, capacidades e atitudes que encorajem o crescimento da consciência crítica e, consequentemente, de uma maior competência entre os usuários dos media electrónicos e impressos. Idealmente, tais programas deverão incluir a análise de produtos de media, o uso de media como meios de expressão criativa, e o uso e a participação eficazes nos canais de media disponíveis;
2. desenvolvam cursos de formação para professores e outros agentes educativos tanto para aumentar os seus conhecimentos e a compreensão dos media como para os preparar nos métodos de ensino apropriados, que terão em conta a familiaridade com os media já considerável, mas ainda fragmentada, que muitos alunos já possuem;
3. estimulem actividades de investigação e desenvolvimento em benefício da educação para os media, em domínios tais como a psicologia, a sociologia e as ciências da comunicação;
4. apoiem e fortaleçam as acções realizadas ou previstas pela UNESCO com o objectivo de encorajar a cooperação internacional na educação para os media.
Grunwald, República Federal da Alemanha, 22 de Janeiro de 1982
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