O país - uma parte dele, pelo menos - tem-se impressionado com as
imagens do caso da adolescente atacada por duas outras adolescentes, postas a circular na net. O vídeo é, de facto, chocante e revoltante, quer pela violência quer pelo consentimento dos circunstantes. Por outro lado, coloca em evidência um conjunto de problemas que importa considerar.
Com o contributo dos estudantes do mestrado de Comunicação, Cidadania e Educação, estivemos hoje à volta do caso. As questões de que partimos foram estas:
1. OBSERVAR: Quais os factos?
2. ANALISAR: Quais as questões colocadas pelos factos?
3. ACTUAR: Que se deve fazer perante essas questões?
Sobre os factos, ficou claro que o acontecimento existiu - na opinião pública - porque houve um vídeo tornado público no Facebook. Tudo indicia que a agressão física foi premeditada, tal como o foi o registo videográfico. Como alguém escreveu, o caso foi encenado para ser difundido. A partir do momento em que as redes sociais propagam as imagens e, sobretudo, que as televisões e restantes media o amplificam, ocorre uma espécie de espiral que ainda não parou. Três planos dos factos, pois: os actos de agressão e filmagem; o video disponibilizado; e a mediatização das imagens do vídeo.
Quanto às questões suscitadas pelos factos, são muitas e algumas delas, pelo menos, são bem complexas.
Temos, primeiro, a sessão de espancamento e a elevada violência das imagens - a adolescente empurrada para o chão, pontapeada na cabeça e noutras partes do corpo, arrastada pelos cabelos...E - segundo problema grave - a passividade do que regista a cena e de outros que a ela assistem. Por outro lado, a difusão do vídeo na Internet constitui um outro plano de violência, de ataque à dignidade da vítima, configurando uma espécie de ciberbullying. Por fim, o tratamento mediático, na maioria dos sites e nas emissões televisivas é ainda uma forma de violência inaceitável, uma vez que a informação (que é um bem inquestionável) não é compaginável com a humilhação de pessoas e a
exploração sensacionalista dos factos.
Ao mesmo tempo, não é correcto pretender-se generalizar uma situação aparentemente rara para o conjunto das famílias e até para as escolas (como, ainda ontem, um diário abusivamente fazia); assim como deve ser tido como simplista e demagógico pretender atribuir às redes sociais ou à Internet as responsabilidades da difusão do vídeo, como terá acontecido no Jornal da Noite da SIC.
O que fazer? A resposta a esta pergunta passa por diversos caminhos. É necessário ter em conta que muitos dos problemas referidos decorrem de um terreno favorável por parte de significativos segmentos de púbico. Este é um problema cultural estrutural, que só lentamente poderá ir-se alterando. A percepção clara da lógica em que os media funcionam e das razões que os levam a explorar até ao tutano certo tipo de imagens e de acontecimentos - aspecto central da literacia para os media - é um caminho fundamental, com resultados significativoas também só "à la longue". Os aspectos ético-morais implicados nos vários planos deste caso carecem de ser reflectidos e trabalhados. A passividade de quem vê os direitos de alguém serem espezinhados; os critérios a seguir no
upload e publicação de conteúdos; os direitos dos cidadãos face aos media e os deveres deontológicos dos jornalistas e das empresas jornalísticas - eis alguns dos terrenos em que é possível desenvolver e promover a iniciativa.