Os temas da actualidade
por Eduardo Jorge Madureira
in Diário do Minho, 24.10.2004
No livro El Malentendido. Cómo nos educan los medios de comunicación (Barcelona: Icaria, 2003), a jornalista e ensaísta catalã Margarita Rivière recorda uma conversa com o sociólogo Manuel Castells, que lhe observou que o mundo se divide hoje em três classes: os desinformados (a gente que só tem imagens), os sobreinformados (todos os que vivem no redemoinho mediático) e os informados (os que são capazes de seleccionar e ordenar a informação). Embora se compreenda bem a divisão, não se poderia estranhar se, em vez de três, fossem referidas apenas duas classes. Na verdade, os desinformados e os sobreinformados podem, perfeitamente, juntar-se. Não saber nada é equivalente a saber tudo.
Margarita Rivière julga que, entre nós, prevalecem os sobreinformados. Um sobreinformado é, digamos assim, um catavento num mundo assolado por um permanente tufão informativo. Sobre a intensidade de tão fortes ventos, escreveu Ignacio Ramonet, em 1997, no jornal que dirige, o mensário ?Le Monde Diplomatique?, um artigo que tem sido abundantemente citado. Afirmou ele que, ?em trinta anos, o mundo produziu mais informação do que durante os cinco mil anos precedentes... Um só exemplar da edição dominical do ?The New York Times? contém mais informação do que a que adquiria em toda a sua vida um europeu do século XVII?.
Contas mais recentes, indicam que, quem pretendesse ler todos os romances que, depois das férias de Agosto, chegaram às livrarias francesas, teria de levar para casa nada mais nada menos do que seiscentas e sessenta e uma obras, cento e vinte e uma das quais escritas por estreantes. Os números da actividade editorial são sempre espantosos. Em Inglaterra, editam-se anualmente mais ou menos cento e vinte mil livros e, nos Estados Unidos da América, em 2003, editaram-se cento e setenta e cinco mil livros, o que dá uma média de dois livros por minuto. Nada que se compare com Portugal, onde ?apenas? se publicam dez livros por dia.
A contabilidade que Ignacio Ramonet fez há sete anos dá conta que, em ?cada dia, cerca de 20 milhões de palavras de informação técnica são editadas em diversos suportes (revistas, livros, relatórios, disquetes, cd-roms). Um leitor capaz de ler mil palavras por minuto, durante oito horas diárias, gastaria um mês e meio para ler toda a produção de um só dia, e no final desse período teria acumulado um atraso de cinco anos e meio de leitura?.
O vendaval informativo, para usar mais um exemplo, apontado por Vahé Zartarian e Emile Noël em Cibermundos (Porto: Âmbar, 2002), despeja, todos os dias, sobre cada criatura três milhões de palavras, o que equivale a um livro de mais de cinco mil páginas. Os autores, repetindo uma ideia cada vez mais comum, dizem que vivemos numa sociedade que é mais do ruído do que da comunicação.
Vahé Zartarian e Emile Noël fazem uma proposta não muito original, mas certamente interessante, uma experiência simples que comprovará o nível de ruído a que estamos sujeitos. Com uma ou outra pequena adaptação que aqui se faz, consiste ela em pegar, passado algum tempo (dois ou três meses, por exemplo), na informação que abriu os noticiários televisivos e na que fez as manchetes dos jornais e perguntar-se, então, por entre tudo isso, o que é que realmente nos foi útil. ?Sobretudo, pergunte-se que aspecto da nossa vida seria hoje diferente se não se tivesse todas essas informações?. O resultado, garantem Vahé Zartarian e Emile Noël, é edificante. (...)
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