sexta-feira, maio 02, 2003

Sobre a programação televisiva:

Algumas notas de um trabalho da Dra Felisbela Lopes (no âmbito dos seus estudos de doutoramento):

· Segundo Williams, as novas tecnologias da televisão vieram alterar o conceito estático da programação tida até então como uma mera distribuição e ordenação de programas descontínuos, convertendo-a naquilo a que chamou “fluxo contínuo televisivo”. Em tempo de monopólio, os programas eram definidos em função de três grandes finalidades comunicativas: distrair, informar e educar. Consequentemente, havia “o momento do espectáculo, dedicado ao divertimento; o da informação ao longo do qual ficávamos a saber as notícias; e o de aprendizagem onde enriquecíamos a cultura” (Negri et al, s/d).
· Uma análise isolada do programas, sem ter em conta pelo menos a franja horária em que eles são transmitidos seria empobrecedora. Um texto televisivo (programa) deve ser compreendido dentro de uma estrutura global (grelha).
· Nora Rizza (1989), através de entrevistas com programadores italianos, procurou analisar os factores que subjazem à prática diária da construção de uma grelha, criando o termo “palimpsesto” para falar da programação televisiva.
· A natureza do palimpsesto televisivo está condicionada por factores tão diversos como:
a) os recursos económicos da estação;
b)a audiência prevista;
c) a imagem e identidade do canal;
d) a oferta da concorrência;
e) a possibilidade de produção ou aquisição dos conteúdos.
· Jesus Gonzalez Requena (1995) fala da programação como um “macro-discurso”, capaz de integrar no seu interior todos os sistemas semióticos, actualizados acústica e visualmente. Uma grelha televisiva seria uma unidade discursiva superior às unidades que contém, com a capacidade de submeter tudo o que alberga à sua lógica.
· A valorização de certas franjas horárias, por exemplo, não pode ser encarada apenas como uma iniciativa unidireccional do programador, mas deve ser lida à luz das modificações das formas de vida (emprego e lazer). Acompanhando a disponibilidade que as pessoas têm para ver televisão, os programadores vão tentando optimizar essas audiências disponíveis. Esse acompanhamento requer uma actualização permanente dos conteúdos na medida em que os gostos do público evoluem.
· Progressivamente foi sendo abandonado o regime pedagógico com o telespectador para se instalar uma relação de convivialidade, possível porque a relação passou a ser bidireccional. Já não há um “eu” que fala para um “tu”, mas um “nós” constituído por “duas vontades convergentes que se exprimem como vontade comum” (Negri et al). (...) Na emergência dos reality-shows nas grelhas televisivas: um sinal claro quer da mudança de encarar a relação entre a televisão e o seu público
· Advento da “TV profana” de que nos fala Dominique Mehl abre portas para a vida em directo a qual não conhece fronteiras. Misturam-se temas públicos com assuntos privados, fundem-se actores com espectadores. (...) O pequeno ecrã torna-se uma espécie de amigo do público, acompanhando-o ao longo do dia, segundo os ritmos impostos pelo quotidiano.
· Mais do que falar em apresentador, hoje o termo que começa a prevalecer é o de “mediador”. A ele pede-se, por um lado, que ligue os actores que constituem a cena televisiva; por outro, que seja um intermediário entre o ecrã e o espectador, vivendo-se, então, uma espécie de dramaturgia colectiva, colocada em palco por actores que pertencem tanto à esfera da produção como à da recepção.
· A contaminação e o sincretismo são permanentes nesta televisão da era da concorrência em que a “estrutura sintagmática tende para o fluxo contínuo” (Casetti e Odin, 1990). Fala-se mesmo de “programas omnibus”, ou seja, emissões onde cabem a informação, a ficção, o espectáculo, a publicidade.

Factores implicados numa grelha televisiva

· Identidade do canal
a) Filosofia de programação
b) Linha editorial
· Disponibilidade temporal
· Gostos da classe média

SOBRE PROGRAMAÇÃO PARA A INFÂNCIA:

- La programmation
« ... c'est une programmation qui allie intelligence et divertissement, un ensemble dont les différents éléments (des émissions dans ce cas) s'imbriquent les uns dans les autres – à la manière d’un casse-tête et non d'un patchwork – , porteur d’une vision donc, bien avant que d'être une addition, au hasard, de coups d'éclats isolés. »
Louise Dansereau

- José Ramón Pérez Ornia y Luis Núñez Ladevéze, Programación infantil en la televisión española - Inadecuada relación entre oferta y demanda

- Omar Carrasco Delgado, Programas Infantis na Televisão: o Caso Teletubies

- Mavi Dolç Gastaldo, La programació infantil i juvenil a la televisió; (em catalão)

- Stéphanie Dansereau et Jeanne Maranda, Présence et image des femmes dans les médias d'information destinés aux jeunes de 10 à 16 ans


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