Um campo em que os
media são péssimos a informar-nos é sobre os próprios media, precisamente aquele
que eles conhecem melhor, mas do qual ou não querem ou não podem dar-nos
informação completa e rigorosa. Noticiam aparentemente tudo, comentam tudo,
publicitam reivindicações, dão dados…. sobre tudo, menos sobre os media, os
seus profissionais, as estratégias das empresas, os anseios, queixas e
satisfações das audiências. Já houve secções diárias nos jornais, jornalistas e
críticos especializados na cobertura da actualidade jornalística e mediática.
Pouco a pouco, esses espaços e esses tempos foram-se confinando à vida das
vedetas, ao show-biz, aos negócios e às iniciativas de auto-promoção. Quem
quiser informar-se sobre os media, é melhor ir procurar a outro lado, porque
nos media não encontra informação crítica e análise qualificada.
Na semana que passou, foi
silenciada uma das poucas vozes que continuava a publicar crítica de media. Na
sua coluna Olho Vivo no Público,
Eduardo Cintra Torres alimentava há 16 anos um espaço de análise que tinha o seu
papel. Exceptuando a frequente fixação
anti-ERC, anti-RTP e anti-Governo, que acabou por cansar muitos leitores, reconheço
o lugar que ocupava e lamento que tenha desaparecido, sem haver alternativas
(porquê precisamente agora?, poder-se-ia perguntar).
É também na informação
crítica sobre os media e o jornalismo que a RTP deve distinguir-se dos privados
(os programas Nativos Digitais ou Voz
do Cidadão, indo nessa linha, estão longe
de esgotar o que seria importante fazer): compreender como se fabrica a
actualidade, o que se escolhe e destaca, o que se subalterniza ou silencia;
quais os direitos e deveres dos cidadãos face aos media; quem são e que
interesses têm os donos do que vemos,
ouvimos e lemos; como analisar as representações da realidade, os valores e
visões do mundo num anúncio, num reality show ou numa telenovela; que papel estão a ter e poderão ter os espaços de
auto-edição da Internet e as redes sociais; em suma, aprender a ver e ler
criticamente os media e a intervir neles com competência.
A cidadania passa pela
qualidade do ambiente simbólico em que vivemos e os media são um dos seus
agentes mais poderosos. Por isso cabe perguntar: quem informa sobre os informadores?
(Texto da coluna quinzenal sobre media, no jornal digital Página 1, da Rádio Renascença de 31.10.2011)
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