“Nunca me hei-de esquecer de quando o meu pai se inclinava para mim para se certificar que eu estava a ler as histórias infantis de Alphonse Daudet, La chévre de Monsieur Seguin. O Sol brilhava lá fora, e eu conseguia ouvir os meus amigos a brincar com o meu irmão no jardim. Estava frustrado. «É tão fácil», dizia o meu pai, «tudo o que tens a fazer é imaginar a pequena cabra a subir a montanha florida, a pastar e a mastigar o dia inteiro, depois, à noite, imaginá-la a encontrar um lobo negro e feroz e a ter de lutar para salvar a pele.» Era fácil para ele que tinha visto muitas cabras, montanhas, até talvez lobos e que já tinha lido a história muitas vezes. Eu também já tinha visto cabras, e montanhas, e fotografias de lobos, mas tinha de fazer um esforço enorme para as colocar todas juntas, porque as imagens não pareciam encaixar-se. Eram planas e sem vida, e tudo o que eu queria fazer era ir correr lá para fora e ir ter com os meus amigos. Desde essa altura tornou-se óbvio para mim que a maior parte das crianças gosta de livros de banda desenhada, de desenhos animados e de televisão porque assim não tem de arranjar as imagens com a sua própria mente.”
Derrick de Kerkhove (1995) A Pele da Cultura, p. 160
domingo, novembro 09, 2008
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