O DN tem hoje uma notícia com o título seguinte:
Crimes sexuais através da Net estão a aumentar, destacando ainda que
'Chats' e 'messenger' são veículos perigosos.
Logo no início da notícia, podemos ler que
"Os crimes sexuais de aliciamento e pornografia - através da Internet estão a crescer em Portugal. A Polícia Judiciária (PJ) investigou, no ano passado, 67 casos de pornografia infantil via Net". No entanto, 67 é o único número que ficamos a conhecer, não sabendo se de facto aumentou ou não relativamente a períodos anteriores. A notícia basear-se-á nas palavras de Maria José Morgado:
"tendência crescente para os casos de aliciamento sexual de crianças e jovens".
Creio que seria importante ter dois factores em conta na construção desta notícia que acaba por ser excessivamente alarmista.
Em primeiro lugar,
o acesso à Internet tem aumentado, logo é normal que num universo de mais utilizadores os usos indevidos também aumentem.
Em segundo lugar, que acompanhamento tem sido dado aos jovens para lidarem com esta nova realidade.
A educação para a utilização dos media é uma necessidade cada vez mais premente. E não passa necessariamente por uma proibição - que pode ser a tentação de alguém menos informado que leia esta notícia, ou que se fique pelo título e destaque. Atribuir a culpa de determinados usos a dispositivos tecnológicos, neste caso os serviços de mensagens instantâneas, é pender para a irresponsabilidade.
Ainda sobre este ponto, é relevante dar conta de que há professores que vão utilizando o
messenger para as suas práticas lectivas, explorando o seu potencial e levando os alunos a reflectir sobre variadíssimos aspectos. E também que há empresas que utilizam esta ferramenta em contexto laboral. Dois exemplos apenas de usos desta ferramenta que tem, evidentemente, um papel importante de sociabilização junto dos mais novos, e não só.
É fundamental que cada um - pais, educadores, investigadores, políticos, mas também jornalistas - reflicta sobre o papel que pode ter para preparar os jovens para o mundo em que hoje vivemos, em que proliferam os dispositivos digitais. Fechar os olhos a esta realidade, ficando-se apenas pelos perigos que encerram, é limitar o acesso a um conjunto de oportunidades que as tecnologias proporcionam.
Infelizmente, o DN não permite comentários às suas notícias, limitando, assim, que se debata este assunto com a mesma visibilidade que o jornal tem na Web.
Ps: um último aspecto que me intriga, as "dificuldades na investigação destes casos é a recolha de prova". Uma questão (de alguém que não faz ideia do que é a investigação criminal): qual será mais fácil de investigar: a troca de mensagens e fotografias através da Web ou um simples encontro de um adulto com um menor a que mais ninguém assistiu?