Sobre o poder socializador dos media
O temor sobre os efeitos (nefastos) dos media é tão antigo como os próprios media. E as respostas a esse temor têm variado muito, indo de um controlo quase obsessivo a um "laisser faire" irresponsável. Ficam aqui três "flashes" de diferentes autores, sobre diferentes media e em diversos períodos de tempo.
1. "Leituras e filmes perniciosos"
Abstraindo mesmo da influência que podem ter nas crianças os companheiros mais velhos e mais pervertidos (que é outra importante causa de desadaptação juvenil) vemos actualmente que a vida psíquica da juventude é orientada sobretudo pelas publicações, pelo cinema e, em certos países, denominados mais evoluídos, pela TV. Se em alguns países (como o nosso) existe felizmente uma censura, que de alguma maneira contribui para dificultar o acesso das crianças às publicações perniciosas, ao cinema e espectáculos nocivos, vemos no entanto noutros países em que precisamente a percentagem de delinquentes juvenis é mais elevada, as crianças disfrutarem de uma inteira liberdade de absorver a influência que esses meios de difusão exercem sobre mentalidades incipientes como as suas. Nunca é demais realçar a necessidade do cuidado a ter com as publicações e o cinema destinados à juventude. Verifica-se que a criança tem a predisposição da imitação: o seu desejo é imitar o herói violento da novela folhetinesca e dos comics.; a sua ambição é praticar os mesmos actos que contemplou nos filmes? (...)
Luís Torgal Ferreira, "A delinquência Infantil", in Infância e Juventude, n.19, 1959
2. Sobre a influência da rádio
"Para já, o que pretendemos é chamar a atenção dos pais e dos professores para os perigos que podem advir para a educação dos seus filhos e alunos se descurarem a influência que a rádio pode exercer neles. O perigo é tanto maior quanto, ao contrário do cinema, não precisa ser procurado. Está em casa. Em qualquer altura, basta carregar numa tecla ou rodar um botão - e a rádio começa a trabalhar. (...) É preciso convencê-los de que devem ir até ao sacrifício - se o é - de não ouvir emissões que possam prejudicar a educação dos filhos, quando estes estejam presentes"
Francisco Alberto Queirós, prof., "As crianças e a rádio", in Escola Portuguesa, n. 1245, Março de 1961
3. Sobre os espectáculos violentos
"A maneira como uma criança percepciona um espectáculo é diferente da maneira como o adulto pensa que a criança o sente. Tudo depende da sensibilidade da criança. Normalmente há duas ideias: 1) elas são impressionáveis; 2) logo o espectáculo faz mal. Ora, não pode haver uma ligação directa entre estas duas premissas. As crianças reagem aos espectáculos onde há violência numa espécie de faz-de-conta que está situado no reino da fantasia. À medida que as crianças vão ficando mais velhas, vão criando uma sensibilidade, devido à aprendizagem, desgostos, traumas, que influenciarão a sua percepção. É mais fácil um adulto de 20 anos impressionar-se com determinado filme, que uma criança de oito anos. E isto é o contrário do que habitualmente se pensa".
Emílio Salgueiro, pedopsiquiatra, psicanalista e docente da Faculdade de Medicina de Lisboa in Notícias Magazine, 7.3.1999.
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