terça-feira, fevereiro 01, 2005

CRIANÇAS E TELEVISÃO:PUBLICIDADE POUCO SAUDÁVEL

O número de Fevereiro (n.º 255, capa e pp. 8 a 12) da revista "Pro Teste" traz o seu dossier central com os resultados de um estudo feito sobre a publicidade na televisão. A análise feita aos anúncios televisivos durante uma semana levaram à conclusão de que "nalguns dias, a SIC e a TVI abusam do tempo máximo por hora de emissão".
Eis uma apresentação do dossier (é possível o acesso online à revista, mas apenas a sócios da DECO):
"Aquilo que as crianças menos devem consumir é o que mais passa nos anúncios.
Para verificar se a lei da televisão é cumprida e avaliar os anúncios sobre alimentação durante a programação infantil, entre 20 e 26 de Setembro último, a DECO/PRO TESTE visionou a emissão dos três canais nacionais de maior audiência (RTP1, SIC e TVI). Em termos de resultados globais, nenhum dos canais excedeu o tempo máximo permitido para emitir publicidade por dia. Já ao nível do tempo de publicidade por hora a DECO/PRO TESTE registou várias situações em que o máximo (12 minutos) foi ultrapassado. Na SIC, a lei foi violada 39 vezes. Em seis casos, o tempo máximo foi ultrapassado em mais de um minuto. ?No caso mais grave, a publicidade ocupou mais de 16 minutos e meio numa hora?, denuncia a edição de Fevereiro da PRO TESTE.
Na TVI, apesar de se terem detectado 34 períodos de uma hora em que foram excedidos os 12 minutos permitidos, apenas uma vez o excesso foi mais significativo. Dessa vez, o tempo de publicidade foi superior a 15 minutos e meio. Embora emita mais tempo de publicidade globalmente, a TVI apresenta uma atenta repartição da mesma.
No período analisado, a RTP1 atingiu quase 8 minutos de publicidade no máximo, não violando a lei. Entre o seu tempo diário de emissão, a RTP1 foi o canal que emitiu menos publicidade (9%).
O sector da alimentação e bebidas é o que tem maior peso na publicidade. Durante a programação infantil, este tema representa quase metade do total de anúncios no conjunto dos três canais.
Anúncios demasiado doces e gordos, denuncia a DECO/PRO TESTE
Durante a programação infantil, a maioria dos anúncios mostra bolos, bolachas, cereais de pequeno-almoço açucarados e aperitivos salgados. Todos estes produtos são ricos em açúcar, gordura ou sal. Ou seja, parte significativa da publicidade é dedicada a produtos que, numa dieta alimentar saudável e equilibrada, devem ser consumidos com moderação.
Para promover os produtos, são usadas algumas estratégias, como brindes, desenhos animados e a imagem da mãe. Por exemplo, um terço dos anúncios recorre a desenhos animados. É o caso de alguns cereais de pequeno-almoço. ?Num terço dos anúncios, a mensagem nutricional pode ser mal interpretada e levar a comportamentos errados?, revela a revista dos consumidores. Tal ocorre com a Sunquik, Um Bongo, Kinder, Pescanova, Phoskitos, Cola Cao e Nestlé. A figura da mãe, família ou escola aparece em quase um quinto dos anúncios e inclui as marcas Kinder, Sunquik, Phoskitos, Um Bongo e Nestlé. A estratégia é a mãe aprovar e recomendar estes produtos às crianças.
Apesar de menos publicitados, durante a programação infantil, a DECO/PRO TESTE encontrou anúncios a produtos, como iogurtes e queijos. Já os anúncios que encorajem o consumo de fruta, vegetais e peixe são inexistentes.
O excesso de anúncios sobre alimentos de alto teor energético é classificado entre os factores de risco para a obesidade pela Organização Mundial de Saúde. E os adolescentes portugueses, com destaque para as raparigas, encontram-se entre os mais gordos da Europa.
Consumidores exigem
A SIC e TVI cometem alguns atropelos à lei da televisão e os anunciantes fazem passar, sobretudo, produtos alimentares pouco interessantes do ponto de vista nutricional. Segundo a DECO/PRO TESTE, é urgente actuar a vários níveis: Governo, estações emissoras, agentes de publicidade, Instituto do Consumidor, escolas, pais e consumidores.
Os operadores de televisão têm de cumprir os tempos permitidos para as mensagens publicitárias. Para assegurá-lo, o Instituto do Consumidor deve intensificar a sua acção de fiscalização. Uma boa ideia é a divulgação pública dos infractores e das coimas aplicadas.
É também urgente apostar em campanhas de sensibilização para uma alimentação saudável e que alertem para os riscos da obesidade. O excesso de peso está associado a inúmeros problemas, como diabetes e doenças cardiovasculares. Não é por acaso que a Organização Mundial de Saúde considera a obesidade como um problema grave, chamando-lhe já a ?epidemia do século XXI?.
Outra solução complementar passa por um código de conduta, feito com a participação da sociedade civil e aplicado pelos canais e agentes da publicidade. Os profissionais do sector deveriam adoptar um código de boas práticas para a publicidade dirigida a crianças, sobretudo em matéria de alimentação. É importante que todos sigam as regras e sejam responsáveis.
Quanto ao consumidor, pode e deve adoptar uma atitude crítica face à publicidade e ajudar os seus filhos a interpretar as mensagens publicitárias. Nesta matéria, as escolas têm também um importante papel a desempenhar. Há que apostar em projectos de educação alimentar e audiovisual. A DECO/PRO TESTE lança um último apelo: ?Nenhum dos agentes neste assunto se pode demitir da sua responsabilidade. É a saúde, actual e futura, dos consumidores que está em jogo?.

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