Descobrir um autor de referência: Walter Ong
Não fora o texto de hoje de Eduardo Cintra Torres, no Público, e não saberia ainda da morte do Prof. Walter Ong, no mês passado, em Saint Louis, nos Estados Unidos. A quem pretender conhecer um pouco o seu pensamento, deixo a indicação de um capítulo de um livro marcante do seu magistério, intitulado Orality and Literacy: The Technologizing of the Word
Entretanto, para uma apresentação sumária, mas eloquente, deixo o leitor com as palavras de Eduardo Cintra Torres, na coluna
"Olho Vivo":
"Morreu em 12 de Agosto o padre jesuíta norte-americano Walter J. Ong. Tinha 90 anos. Escreveu em 1982 um dos livros que mais ajudam a entender os processos de comunicação da TV e outros meios electrónicos e a sua influência nas formas de pensamento e de aprendizagem. O livro, "Orality and Literacy" (Routledge, 1999), não está traduzido para português.
Ong estudou com Marshall McLuhan. Mas, enquanto este se concentrou na evolução da palavra escrita para a impressa e daí até à aldeia global electrónica, Ong estudou a oralidade como meio de comunicação e nas suas implicações nos processos do pensamento (como Jack Goody). Para Ong, voltámos ao predomínio da oralidade agora que os novos humanos aprendem a linguagem através da TV, do CD, dos jogos, de outros meios electrónicos. É uma oralidade diferente da primitiva, é a "oralidade secundária", que, todavia, "depende da escrita" para a sua existência.
No caso da TV, é difícil estudar seriamente os "talk-shows" e em especial os programas informativos (telejornais, debates, entrevistas), sem ter lido Ong, apesar de ele nunca se debruçar sobre este "media". Infelizmente, muitos estudos portugueses sobre TV, mas também os franceses, ainda não assumem esta abordagem, que já deveria constituir ponto de partida implícito e obrigatório. Aí, os académicos espanhóis vão anos à nossa frente. Os muitos comentadores portugueses que na imprensa escrevem sobre TV também ignoram esta dimensão essencial da comunicação oral e o que a distingue da comunicação escrita.
Se McLuhan é iluminante pelas muitas intuições, verdadeiras estrelas cadentes do pensamento, Ong é mais consistente e sólido. Suponho que o trabalho de Ong sobreviverá mais tempo."
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