Deixo aqui cópia da crónica que publiquei hoje no Diário do Minho:
“Pare, escute e olhe!”
Na semana em que o Parlamento da Grã-Bretanha debatia uma lei destinada a punir adultos que utilizam a Internet para aliciar crianças, uma miúda de 12 anos, da cidade de Manchester, desapareceu sem deixar rasto, para se ir encontrar com um ex-militar norte-americano, de 31, que tinha conhecido num chat, ou seja, numa zona de conversas em tempo real, muito difundidas no ciberespaço.
O caso foi objecto de um enorme eco mediático, inclusive entre nós, e tinha todos os condimentos para o ser. O jornal Público de ontem dedicou espaço substancial ao assunto, para nos fazer notar que o nosso ordenamento jurídico continua desactualizado e pouco permeável a estas novas realidades. Mas avançava mais: fornecia um conjunto de informações de grande interesse público, que, em minha opinião, deveriam ser difundidas a uma outra escala, pelas entidades com capacidade e responsabilidade na matéria.
A Internet está aí para ficar. Não vale a pena diabolizá-la, fazer dela papão ou criatura encantadora. Mas, como tudo, comporta os seus riscos e exige pessoas avisadas. Somos capazes de educar as crianças para recusarem abordagens de estranhos, mas ignoramos que, nos chats, é possível acontecerem essas abordagens de estranhos que convidam a sair da “sala” da conversa” e a ir para zonas reservadas onde esses estranhos lançam o anzol ou cantam a música da sereia.
Mais grave ainda: a grande maioria dos pais e muitos educadores ignoram quase tudo o que diz respeito à Internet. De chat só conhecem a palavra acrescentada com mais um “o” e Internet soa-lhes a algo vagamente aparentado com modernice que já não é para eles.
De resto, o mundo desta gente nova soa-lhes a algaraviada ininteligível: escrevem (nos chats e nos telemóveis com códigos de outro planeta, vêem canais televisivos em que as imagens se assemelham a caleidoscópio acelerado, ouvem músicas com ritmos que ferem, dormem de dia e vivem de noite como os morcegos...
Os apocalípticos dirão que é “o fim do mundo” e continuarão a dizê-lo até que o “seu mundo” efectivamente acabe. Não é o fim do mundo. É apenas um universo de formas de expressão que alberga os apelos, os gestos, as grandezas, misérias - por vezes os gritos - de sempre. Haja quem “pare, escute e olhe”.
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