A notícia vem hoje no jornal digital Página 1:
quarta-feira, fevereiro 20, 2013
terça-feira, fevereiro 05, 2013
Internet: prevenir os riscos, mas visar mais longe
“Da mesma maneira que a leitura, a escrita e a aritmética foram cruciais para a formação de pessoas como cidadãos e profissionais, a alfabetização digital será vital no século XXI. Sem ela, as pessoas não podem participar plenamente como cidadãos, não têm acesso às mesmas oportunidades profissionais e de aprendizagem e não ajudam a criar as próximas inovações criativas e tecnológicas do mundo”.
A afirmação é de Mark Surman, diretor-executivo da Mozilla Foundation, que detém o navegador da web Firefox, e foi publicada na semana finda, no jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Segundo ele, as novas gerações têm aprendido a consumir tecnologia e aplicações, mas não a criar conteúdos e a programar. “É como se tivéssemos ensinado toda uma geração a ler, mas não a escrever”, acrescenta o especialista.
O que diz Surman é importante, ainda que, compreensivelmente, muito centrado nas tecnologias e a literacia digital deve ser bem mais ambiciosa do que o acesso e uso proficiente das máquinas e das aplicações. Há desafios mais amplos e todos sabemos que nem tudo são rosas. Há muitas pessoas que descobrem o poder de algumas ferramentas da web e por elas se deixam seduzir, que não têm a noção de como certa informação que disponibilizam se pode virar contra elas. Há riscos para os quais é necessário estar alertado e prevenido e isso supõe sensibilidade e formação (que muitos pais e educadores não têm). Importa conhecer e divulgar os riscos a que estamos sujeitos e aprender a defender-nos. Mas isso não basta.
Aprendemos a conduzir não para conhecer os perigos da estrada, mas para levar o carro em segurança de um ponto de origem para o destino que nos convém. É preciso conhecer o carro, as regras de trânsito, as condições da estrada. Mas, antes de tudo, é preciso saber por onde e para onde queremos ir e gerir o tempo para lá chegar. Na Internet não é substancialmente diferente. E, apesar de não parecer, ninguém nasce ensinado. E a formação que se impõe deve ter tanto a vertente tecnológica, como cultural e de cidadania.
Nas vésperas de mais um Dia da Internet Segura, importa não perder de vista esta perspectiva mais vasta. E sobretudo não ficar pelas palavras. A inacção de hoje pagar-se-á caro no futuro.
[Texto publicado no jornal diário digital Página 1, em 4.1.2013]
A afirmação é de Mark Surman, diretor-executivo da Mozilla Foundation, que detém o navegador da web Firefox, e foi publicada na semana finda, no jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Segundo ele, as novas gerações têm aprendido a consumir tecnologia e aplicações, mas não a criar conteúdos e a programar. “É como se tivéssemos ensinado toda uma geração a ler, mas não a escrever”, acrescenta o especialista.
O que diz Surman é importante, ainda que, compreensivelmente, muito centrado nas tecnologias e a literacia digital deve ser bem mais ambiciosa do que o acesso e uso proficiente das máquinas e das aplicações. Há desafios mais amplos e todos sabemos que nem tudo são rosas. Há muitas pessoas que descobrem o poder de algumas ferramentas da web e por elas se deixam seduzir, que não têm a noção de como certa informação que disponibilizam se pode virar contra elas. Há riscos para os quais é necessário estar alertado e prevenido e isso supõe sensibilidade e formação (que muitos pais e educadores não têm). Importa conhecer e divulgar os riscos a que estamos sujeitos e aprender a defender-nos. Mas isso não basta.
Aprendemos a conduzir não para conhecer os perigos da estrada, mas para levar o carro em segurança de um ponto de origem para o destino que nos convém. É preciso conhecer o carro, as regras de trânsito, as condições da estrada. Mas, antes de tudo, é preciso saber por onde e para onde queremos ir e gerir o tempo para lá chegar. Na Internet não é substancialmente diferente. E, apesar de não parecer, ninguém nasce ensinado. E a formação que se impõe deve ter tanto a vertente tecnológica, como cultural e de cidadania.
Nas vésperas de mais um Dia da Internet Segura, importa não perder de vista esta perspectiva mais vasta. E sobretudo não ficar pelas palavras. A inacção de hoje pagar-se-á caro no futuro.
[Texto publicado no jornal diário digital Página 1, em 4.1.2013]
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segunda-feira, fevereiro 04, 2013
O perigo do excesso de ecrãs
Por Eduardo Jorge Madureira
O que faz uma mãe quando o filho lhe apresenta, informalmente, uma espécie de testamento vital é o tema de um breve relato, que circula, em diversas línguas, através da Internet, sem atribuição de autor. A história é protagonizada por dois amigos. Um deles relata o que se tinha passado no dia anterior:
– Ontem à noite, depois do jantar, antes de sair, eu a minha mãe estávamos sentados no sofá a conversar sobre coisas da vida. Eu sei que sou um rapaz novo, mas, a propósito de uma reportagem que estávamos a ver na televisão, quis também falar sobre a morte. Então, disse à minha mãe: “Mãe, nunca me deixes viver num estado vegetativo, dependendo de máquinas, vivendo uma vida artificial. Se me vires nesse estado, e por muito que te custe, pede para desligar ou desliga tu as máquinas que me mantêm vivo”.
O outro decide interromper para fazer a pergunta óbvia:
– E a tua mãe?
A resposta não deixou de surpreender:
– Levantou-se, decidida, e foi desligar a televisão, o DVD, o computador, o cabo da Internet, o MP4 e o telefone fixo. A seguir, tirou-me e desligou o iPhone5, o tablet e a PlaySta¬tion.
É difícil não recordar esta história ao ler um título que se encontrava na primeira página do Jornal de Notícias de segunda-feira, dizendo que “17% das nossas crianças não comem nem dormem para estarem na Internet”. A notícia dava conta dos mais recentes resultados apurados pelo projecto europeu EU Kids Online, que, segundo o jornal, indicam que “o uso prolongado da Internet já se reflectiu em 45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer, falhar nos trabalhos de casa, deixar de socializar, tentar passar menos tempo online”. Na Europa, acrescentava a informação, “só a Estónia está à frente: 49%. A existência de dois sinais – ter deixado de comer ou dormir para estar ao computador – foi apontada por 17% dos inquiridos”.
Esta notícia surge na mesma altura em que cinquenta especialistas franceses em psicologia lançaram um apelo para que se tome consciência dos riscos associados ao abuso dos ecrãs e para que se estabeleçam regras de bom uso das novas tecnologias, um código de boa conduta da vida digital. “Nós, especialistas em psicologia, em comportamentos e relações humanas, apelamos, hoje, a que cada um seja prudente e vigilante face a utilização excessiva dos ecrãs”, refere o texto, publicado no número de Fevereiro da revista Psychologies.
Os subscritores, alguns dos quais autores de livros editados em Portugal, como é o caso de, por exemplo, Christophe André (Os segredos dos psis. Carnaxide: Objectiva, 2012) ou Isabelle Filliozat (No coração das emoções das crianças. Lisboa: Pergaminho, 2001), começam por recordar o óbvio, dizendo que “os computadores, smartphones e tablets representam um formidável progresso. Facilitam o acesso ao conhecimento e multiplicam as possibilidades de trocas, interacções e cooperações”. O problema, acrescentam, é que “deixando-os invadir o nosso quotidiano, sem nos interrogarmos sobre os seus inconvenientes, sem reparar na sua utilidade real, concedemos a estas tecnologias um poder preocupante sobre as nossas vidas”. É por isso que garantem que “uma tomada de consciência é necessária”.
O apelo enumera, seguidamente, um conjunto de razões que a impõem: “É que o uso excessivo dos ecrãs induz uma hiper-solicitação permanente, fonte de stress e de cansaço. Priva-nos de tempo de repouso, de reflexão e de presença no mundo, indispensáveis ao bem-estar e ao bem-pensar. Favorece práticas patológicas e compulsivas, designadamente por parte dos jovens e das pessoas frágeis. Modifica em profundidade os processos de atenção, de memorização e de aprendizagem. Prejudica, por vezes, a qualidade das nossas relações interpessoais”.
Os signatários terminam endereçando um apelo a todos – cidadãos, políticos e fabricantes – “para o estabelecimento conjunto de regras de bom uso das novas tecnologias, um código de boa conduta da vida digital”. Como muitos outros têm vindo a dizer, “o desafio é importante: está em questão a preservação do nosso equilíbrio psíquico e da nossa humanidade face aos utensílios digitais”.
As razões do apelo para que se evite o abuso dos ecrãs são aprofundadas noutros textos que a revista Psychologies publica. No destaque concedido a esta preocupação, que merecia ser mais amplamente partilhada, não faltam os bons conselhos. Um dos que pode, desde já, ser aproveitado é o que recomenda que se prefira um encontro a um telefonema, um telefonema a um e-mail, um e-mail a uma mensagem SMS.
(Texto da coluna 'Os Dias da Semana' que o autor publicou no Diário do Minho, em 3.1.2013)
O que faz uma mãe quando o filho lhe apresenta, informalmente, uma espécie de testamento vital é o tema de um breve relato, que circula, em diversas línguas, através da Internet, sem atribuição de autor. A história é protagonizada por dois amigos. Um deles relata o que se tinha passado no dia anterior:
– Ontem à noite, depois do jantar, antes de sair, eu a minha mãe estávamos sentados no sofá a conversar sobre coisas da vida. Eu sei que sou um rapaz novo, mas, a propósito de uma reportagem que estávamos a ver na televisão, quis também falar sobre a morte. Então, disse à minha mãe: “Mãe, nunca me deixes viver num estado vegetativo, dependendo de máquinas, vivendo uma vida artificial. Se me vires nesse estado, e por muito que te custe, pede para desligar ou desliga tu as máquinas que me mantêm vivo”.
O outro decide interromper para fazer a pergunta óbvia:
– E a tua mãe?
A resposta não deixou de surpreender:
– Levantou-se, decidida, e foi desligar a televisão, o DVD, o computador, o cabo da Internet, o MP4 e o telefone fixo. A seguir, tirou-me e desligou o iPhone5, o tablet e a PlaySta¬tion.
É difícil não recordar esta história ao ler um título que se encontrava na primeira página do Jornal de Notícias de segunda-feira, dizendo que “17% das nossas crianças não comem nem dormem para estarem na Internet”. A notícia dava conta dos mais recentes resultados apurados pelo projecto europeu EU Kids Online, que, segundo o jornal, indicam que “o uso prolongado da Internet já se reflectiu em 45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer, falhar nos trabalhos de casa, deixar de socializar, tentar passar menos tempo online”. Na Europa, acrescentava a informação, “só a Estónia está à frente: 49%. A existência de dois sinais – ter deixado de comer ou dormir para estar ao computador – foi apontada por 17% dos inquiridos”.
Esta notícia surge na mesma altura em que cinquenta especialistas franceses em psicologia lançaram um apelo para que se tome consciência dos riscos associados ao abuso dos ecrãs e para que se estabeleçam regras de bom uso das novas tecnologias, um código de boa conduta da vida digital. “Nós, especialistas em psicologia, em comportamentos e relações humanas, apelamos, hoje, a que cada um seja prudente e vigilante face a utilização excessiva dos ecrãs”, refere o texto, publicado no número de Fevereiro da revista Psychologies.
Os subscritores, alguns dos quais autores de livros editados em Portugal, como é o caso de, por exemplo, Christophe André (Os segredos dos psis. Carnaxide: Objectiva, 2012) ou Isabelle Filliozat (No coração das emoções das crianças. Lisboa: Pergaminho, 2001), começam por recordar o óbvio, dizendo que “os computadores, smartphones e tablets representam um formidável progresso. Facilitam o acesso ao conhecimento e multiplicam as possibilidades de trocas, interacções e cooperações”. O problema, acrescentam, é que “deixando-os invadir o nosso quotidiano, sem nos interrogarmos sobre os seus inconvenientes, sem reparar na sua utilidade real, concedemos a estas tecnologias um poder preocupante sobre as nossas vidas”. É por isso que garantem que “uma tomada de consciência é necessária”.
O apelo enumera, seguidamente, um conjunto de razões que a impõem: “É que o uso excessivo dos ecrãs induz uma hiper-solicitação permanente, fonte de stress e de cansaço. Priva-nos de tempo de repouso, de reflexão e de presença no mundo, indispensáveis ao bem-estar e ao bem-pensar. Favorece práticas patológicas e compulsivas, designadamente por parte dos jovens e das pessoas frágeis. Modifica em profundidade os processos de atenção, de memorização e de aprendizagem. Prejudica, por vezes, a qualidade das nossas relações interpessoais”.
Os signatários terminam endereçando um apelo a todos – cidadãos, políticos e fabricantes – “para o estabelecimento conjunto de regras de bom uso das novas tecnologias, um código de boa conduta da vida digital”. Como muitos outros têm vindo a dizer, “o desafio é importante: está em questão a preservação do nosso equilíbrio psíquico e da nossa humanidade face aos utensílios digitais”.
As razões do apelo para que se evite o abuso dos ecrãs são aprofundadas noutros textos que a revista Psychologies publica. No destaque concedido a esta preocupação, que merecia ser mais amplamente partilhada, não faltam os bons conselhos. Um dos que pode, desde já, ser aproveitado é o que recomenda que se prefira um encontro a um telefonema, um telefonema a um e-mail, um e-mail a uma mensagem SMS.
(Texto da coluna 'Os Dias da Semana' que o autor publicou no Diário do Minho, em 3.1.2013)
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