Segundo Nehamas, Platão ignora na sua República nomes como o de Homero, autor da Odisseia e da Ilíada, concluindo que o filósofo "censurou" o trabalho do poeta por o considerar nocivo para a educação da sociedade. "Nós também censuramos os materiais educativos das nossas crianças de forma tão segura e com base nos mesmos fundamentos que Platão. Como ele, muitos de nós acreditamos que a emulação se torna em 'hábito e segunda natureza', que maus heróis (hoje dizemos 'modelos') produzem más pessoas", escreve Nehamas.
Tal como a poesia de Homero criava "maus" exemplos para quem a lesse, também os media hoje reproduzem imagens que podem ser encaradas como perniciosas.
Contudo, o problema aqui é outro. O problema é um de elementos do processo comunicativo. E um de abrupta divisão entre realidade e representação. "Ser realista é apresentar o mundo sem artifício ou convenção, sem mediação - a realidade pura e simples. E a cultura popular, enquanto permanecer popular, parece sempre realista: os polícias na televisão usam sempre cintos de segurança", explica o autor.
Entre a realidade e representação há uma grande diferença e saber que o que nos é transmitido é apenas representação é essencial. "Nós passamos, como Platão, da representação para a realidade? Se sim, então devemos mesmo preocupar-nos com os efeitos da televisão ou dos videojogos". Ou seja, se aceitamos as representações como realidade, então, de facto, temos um problema em mãos.
Como argumenta Nehamas, se nos apercebemos de que a reacção a representações não tem de determinar o nosso comportamento então a influência dos media será menor do que se teme. "Se o contrário for verdade, em vez de limitar o acesso ou de remodelar o conteúdo dos media, deveríamos garantir que nós, e em particular as nossas crianças, aprendem a interagir com eles de forma inteligente e consciente".
Se hoje lemos e estudamos as obras do passado grego, então o que será lido e visto da nossa era dentro de dois mil anos? E em que ficamos: realidade ou representação?