terça-feira, agosto 31, 2010

Entre realidade e representação

No sempre excelente blogue de filosofia do The New York Times o mais recente artigo, da autoria de Alexander Nehamas, professor da Universidade de Princeton, estabelece um paralelo entre a situação da Grécia de outros tempos e a relação da sociedade actual com os media.

Segundo Nehamas, Platão ignora na sua República nomes como o de Homero, autor da Odisseia e da Ilíada, concluindo que o filósofo "censurou" o trabalho do poeta por o considerar nocivo para a educação da sociedade. "Nós também censuramos os materiais educativos das nossas crianças de forma tão segura e com base nos mesmos fundamentos que Platão. Como ele, muitos de nós acreditamos que a emulação se torna em 'hábito e segunda natureza', que maus heróis (hoje dizemos 'modelos') produzem más pessoas", escreve Nehamas.

Tal como a poesia de Homero criava "maus" exemplos para quem a lesse, também os media hoje reproduzem imagens que podem ser encaradas como perniciosas.

Contudo, o problema aqui é outro. O problema é um de elementos do processo comunicativo. E um de abrupta divisão entre realidade e representação. "Ser realista é apresentar o mundo sem artifício ou convenção, sem mediação - a realidade pura e simples. E a cultura popular, enquanto permanecer popular, parece sempre realista: os polícias na televisão usam sempre cintos de segurança", explica o autor.

Entre a realidade e representação há uma grande diferença e saber que o que nos é transmitido é apenas representação é essencial. "Nós passamos, como Platão, da representação para a realidade? Se sim, então devemos mesmo preocupar-nos com os efeitos da televisão ou dos videojogos". Ou seja, se aceitamos as representações como realidade, então, de facto, temos um problema em mãos.

Como argumenta Nehamas, se nos apercebemos de que a reacção a representações não tem de determinar o nosso comportamento então a influência dos media será menor do que se teme. "Se o contrário for verdade, em vez de limitar o acesso ou de remodelar o conteúdo dos media, deveríamos garantir que nós, e em particular as nossas crianças, aprendem a interagir com eles de forma inteligente e consciente".

Se hoje lemos e estudamos as obras do passado grego, então o que será lido e visto da nossa era dentro de dois mil anos? E em que ficamos: realidade ou representação?

A confiança nos conteúdos online

Um estudo publicado no último volume do International Journal of Communication procurou compreender as dinâmicas que estão relacionadas com a confiança nos conteúdos acedidos através do universo online. Numa amostra de jovens adultos, que envolveu estudantes universitários, os resultados indicaram que este grupo atribui maior legitimidade aos conteúdos com maior número de visitas, em detrimento, por exemplo, da credibilidade da fonte de informação. A noção de credibilidade da informação, tarefa que pode ser inscrita no âmbito das competências da literacia mediática, dependerá exclusivamente do número de cliques e das visitas a um site? Será este o único critério para avaliar a credibilidade de um determinado texto, documento ou informação online?


O abstract (resumo) do estudo refere o seguinte:

Little of the work on online credibility assessment has considered how the information-seeking process figures into the final evaluation of content people encounter. Using unique data about how a diverse group of young adults looks for and evaluates Web content, our paper makes contributions to existing literature by highlighting factors beyond site features in how users assess credibility. We find that the process by which users arrive at a site is an important component of how they judge the final destination. In particular, search context, branding and routines, and a reliance on those in one’s networks play important roles in online information-seeking and evaluation. We also discuss that users differ considerably in their skills when it comes to judging online content credibility.

Para consultar o texto integral, aqui.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Edupunk


quinta-feira, agosto 26, 2010

Revista científica sobre Literacia Digital

Num ano de ampla e fecunda colheita no que se refere a revistas sobre Educação para os Media e Literacia Mediática e Digital, apraz-nos registar a saída do número 1 de uma nova revista, o Nordic Journal of Digital Literacy. O foco são os media digitais (incluindo a Internet, as consolas de jogos e os computadores) e os respectivos usos. Este primeiro número especial aborda as práticas digitais das crianças, procurando - teorica e metodologicamente, valorizar as perspectivas das próprias crianças.
Títulos dos artigos deste número inaugural:
  • Understanding children’s and young adolescents’ media practices: reflections on methodology
  • From Chat in Public to Networked Publics
  • Young Boys Playing Digital Games
  • Educating the Digital Generation
  • A Critical Perspective on Online Safety Measures

CORRECÇÃO (28/8):
De facto, não se trata de uma nova revista, mas sim da disponibilização dos números de Nordic Journal of Digital Literacy até hoje publicados em formato PDF. A revista começou em 2006 e, até hoje, já foi publicada uma dúzia de números. O que se refere acimea, neste post, é o nº1 de 2010. Aqui fica a reposição das coisas no seu lugar, graças a uma informação obtida aqui. Fica também, deste modo, aberta a possibilidade de consultar os numerosos textos até hoje editados, cerca de metade dos quais em inglês.

segunda-feira, agosto 23, 2010

A lição fundamental: saber ouvir os alunos

"(...) A lição fundamental [retirada da experiência de longos anos na educação para os media]exige que nós, professores, continuamente escutemos os nossos alunos quanto ao modo como atribuem sentido ao seu mundo. Devo sempre lembrar que o modo como os alunos constroem sentido de um documento dos media não é provavelmente o mesmo significado que eu produzo. Para compreender o seu significado, eu preciso de aprender a ouvir bem, e não poderei fazer isso se estou sempre a falar com eles e a tentar inundá-los com os meus conhecimentos".
Chris Sperry (2010) "The Epistemological Equation: Integrating Media Analysis into the Core Curriculum". Journal of Media Literacy Education, vol.1 (2), p. 89

quinta-feira, agosto 19, 2010

«Vês o que vês?» - Oficina no Museu Berardo

«Vês o que vês?» é o tema de uma oficina de formação em fotografia, que o serviço educativo do Museu Berardo - Arte Moderna e Contemporânea promove de 23 a 27 deste mês, em Lisboa, orientada por Mário Rainha Campos e Carlos Carrilho e inserida no programa "Férias de Verão 2010".
No flyer de apresentação da iniciativa pode ler-se: "Tu vês, eu vejo, ele vê. Mas o quê? Se só vemos o que sabemos, vamos lá a saber o que é que vemos! Nesta oficina, através da fotografia, vamos explorar e partilhar as diversas possibilidades do acto de ver. Confuso? Vais ver que não. O Verão vai ser uma diversão!"
Contacto: servico.educativo@museuberardo.pt
Fonte: Educare.pt

domingo, agosto 15, 2010

Está a Internet a mudar a forma como pensamos?

É um debate que já circula há muito, mas aproveito a publicação de um bom artigo no The Observer de hoje para colocar aqui no blogue algo sobre isso. Em 2008, Nicholas Carr publicou um texto na The Atlantic que, desde então, tem gerado uma fértil controvérsia. Is Google Making Us Stupid?, entretanto desenvolvido para um livro de título The Shallows: How the Internet is Changing the Way We Think, Read and Remember, segue a tese de que a Internet (e não só o Google) está a modificar as componentes neurológicas dos nossos cérebros.

Escrevia Carr em 2008: "ao longo dos anos tenho vindo a ter uma sensação desconfortável de que alguém, ou algo, está a mexer com o meu cérebro, reestruturando os circuitos neurais, reprogramando a memória. A minha mente não se está a ir, mas está a mudar. Não penso como dantes. Noto-o em particular quando estou a ler. Ficar imerso num livro ou num longo artigo costumava ser fácil. A minha mente era agarrada pela narrativa ou pelos argumentos e eu passava horas a virar páginas com largos pedaços de prosa. Isso raramente acontece hoje. A minha concentração começa a divagar depois de duas ou três páginas".

O artigo do The Observer faz uma recolha variada dos argumentos a favor e contra esta ideia. Pelo que me é dado a perceber, a maioria dos cientistas são contra a existência de tal manipulação. Num artigo de opinião recente no Los Angeles Times, dois professores de psicologia mostravam-se veementemente contra esta sugestão. Contudo, deixavam um alerta pendente. "O Google não nos está a tornar estúpidos, o PowerPoint não está a destruir a literatura e a Internet não está a mudar os nossos cérebros. Mas podem bem estar a fazer-nos pensar que somos mais inteligentes do que realmente somos e isso é perigoso".

Outro professor de psicologia, desta vez no New York Times, seguia a mesma ideia. "Os críticos dos novos media usam, por vezes, ciência para apoiar os seus argumentos, mostrando como 'a experiência pode mudar os cérebros'. Mas os neurocientistas cognitivos reviram os olhos perante tais conversas. (...) A experiência não altera as capacidades básicas de processamento de informação do cérebro."

Um outro interessante artigo do The Guardian também retratava o debate actual sobre estes temas, ao falar da emergência do slow reading, na sequência dos movimentos de slow food.

Sendo época de férias, porém, aproveite-se para pôr à prova estas ideias ao ler um livro na praia ou no jardim e depois ver se se chega a alguma conclusão.

terça-feira, agosto 03, 2010

Presidente Barroso destaca a importância da literacia digital para a empregabilidade e para o crescimento económico sustentável

11 Mar 2009



Este vídeo já é de Março de 2009, mas vale a pena registar aquilo que o Presidente da Comissão Europeia referiu na altura em que recebe responsáveis da Fundação ECDL*:
Accepting the ECDL Skills Card, President Barroso stressed that digital literacy skills are essential for Europeans.
Prior to the presentation ceremony, in a meeting on the contribution of digital literacy to making Europe a leading knowledge-based economy, the ECDL Foundation delegation welcomed President Barrosos view that digital skills training enables society to fully reap the benefits of technology.

* ECDL é - como se lê no seu  site - "uma certificação internacional de competências nas TIC para utilizadores orientada para o mercado de trabalho, que atesta que o seu detentor possui as competências e conhecimentos que lhe permitem utilizar eficaz e produtivamente as principais aplicações informáticas para PC".