Se as crianças portuguesas de idades compreendidas entre os 4 e os 14 anos passam, em média, quase três horas diárias a ver televisão, não deverá isso ser motivo de desassossego? Que vêem elas? Que tipos de programas preferem? Que oferta encontram nas grelhas dos diferentes canais? Com que critérios se escolhe essa programação? De onde vêm os programas? Que histórias contam? Que personagens, situações e valores enfatizam?
Bem vistas as coisas, é todo um currículo alternativo à família e à escola que aqui está em causa. E aparentemente, são poucos os sinais de preocupação e de exigência relativamente a esta matéria.
Parte destas interrogações encontra resposta num estudo que um grupo de investigadores da Universidade do Minho acaba de realizar para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), sob coordenação da Prof. Sara Pereira e no qual tive o gosto de participar também.
Alguns resultados apurados, a partir da análise de mais de três mil programas emitidos entre Outubro de 2007 e Setembro de 2008: no seu conjunto, a RTP, SIC e TVI emitem programas para a infância sobretudo de manhã, quando a maioria das crianças está a essa hora na escola. A RTP2 é o canal que mais diversifica, em termos de temas e de manchas horárias. Mas tem uma programação muito orientada para a idade pré-escolar (o que, sendo em si mesmo positivo, deixa outros grupos etários a descoberto). A SIC e, sobretudo, a TVI inovaram, nos últimos anos, com a introdução de novelas juvenis. Mas, sobretudo este último canal, com Morangos com Açúcar, acaba por oferecer um “prato” quase único (e problemático do ponto de vista do conteúdo – ainda que este aspecto não tenha sido estudado aqui).
Há esforços muito positivos, como “A Ilha das Cores”, na RTP2, a par de medidas execráveis, como é o facto de a TVI meter um programa de wrestling no meio de desenhos animados, ao sábado de manhã. Finalmente, em quase um terço dos programas surgem conteúdos educativos tematizados de forma interessante, o que deveria merecer outra atenção e apoio da parte dos pais e educadores.
Quem se ocupa desta “escola paralela” domiciliária, à qual as crianças dedicam tanto ou mais tempo do que à escola formal?
[Publicado no diário Página 1 / RR, em 6 de Abril de 2009]
terça-feira, abril 07, 2009
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