"Morangos com açúcar": série potencialmente educativa?
"Quando esta novela acabar, Portugal vai ser uma tristeza".
Nem mais: a autora desta profundíssima análise política tem oito anos. Chama-se Rita e frequenta o 3º ano de escolaridade na Escola do 1º Ciclo de S. João do Souto, em Braga. O seu depoimento foi a peça que mais me interessou e interrogou, no mais recente número do boletim do projecto Publico na Escola (nº 160, relativo a Março). A frase citada não estaria deslocada se fosse escrita por José Gil em "Portugal, o Medo de Existir".
Há outros alunos, de níveis de ensino mais avançados, que também se pronunciam sobre os "Morangos" e a Prof. Sara Pereira, docente da Universidade do Minho e colaboradora deste blogue, que entende que é possível tornar esta novela num programa educativo, desde que se se faça dela um motivo de estudo e de reflexão. Muito interessante, igualmente, a reflexão da Prof. Isabel Margarida Duarte sobre a linguagem dos actores dos Morangos: "Não é só a pronúncia que é marcada geograficamente, mas também o vocabulário" ou "as conversas travadas entre estes adolescentes nada têm de natural [e contêm] diálogos de conteúdos paupérrimos e quase só relacionais (...) Tentam, com estes diálogos construídos pelo guionista, imitar uma língua de tribo".
Por tudo isto, vale a pena ler o Boletim - uma dos poucas propostas de abordagem dos Morangos com Açúcar que vai além dos discursos laudatórios ou apocalípticos. Só é pena que o jornal que promove e suporta o projecto não pegue em alguns destes textos e faça, nas páginas do diário, um destaque sobre o assunto.
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