O congresso sobre “Literacia, media e cidadania”, que decorreu nos últimos dias no belo espaço do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, deu sinais de que a literacia relacionada com os media vai ganhando algum lugar nas políticas publicas e nas agendas de cada vez mais pessoas e instituições. E isto porque a consciência do lugar desses meios, novos e menos novos, na vida das pessoas e da sociedade torna necessário e urgente fazer desse lugar um assunto de questionamento. Desde logo porque muitos cidadãos são excluídos dos benefícios que podem advir dos media e das redes digitais. Mas também porque muitas pessoas, de todas as idades e condições, ainda que tendo modos de aceder aos meios, não se sentem preparadas para acautelar os riscos e maximizar os benefícios, melhorando a qualidade da comunicação consigo mesmo e com os outros.
Uma das riquezas deste congresso foi permitir o encontro entre quem ensina, quem dinamiza actividades (por exemplo, nas biblioteca públicas ou escolares), agentes do campo técnico-político, reguladores, meios de comunicação e investigadores dos media e da educomunicação, entre outros.
No que se refere à literacia mediática , entendo, porém, que precisamos de avançar mais no diálogo com os profissionais dos media – com jornalistas, certamente, mas também com produtores, guionistas, designers, publicitários, criadores multimédia, gestores… Esse diálogo pode trazer vantagens para todas as partes e abrir territórios interessantes de cooperação e aprendizagem mútua.
Nesta linha, o painel que, no congresso, juntou ex-provedores de diferentes media para pensar as relações entre a atividade de provedor e a literacia mediática foi já um passo muito significativo. Recordo, desse momento, a chamada de atenção de Adelino Gomes para o facto de que a tarefa de dar a ver, que cabe aos jornalistas e, por extensão, a todos os profiss
ionais, se torna difícil ou mesmo impossível se o profissional não aprendeu e não sabe, ele próprio, ver, se não é um receptor crítico. Ao mesmo tempo, com profissionais de olhar incisivo e inteligente, capazes de se porem no lugar dos seus interlocutores e destinatários, todos beneficiam, já que ajudam a ir além das evidências e a tornar mais fundamentada e esclarecida a crítica e o contributo dos utilizadores. Há que prosseguir este trabalho de encontro, de escuta mútua e de trabalho em rede.
(Publicado na edição de hoje do jornal diário digital Página 1, da Renascença)